06 junho 2015

05 DE JUNHO: TEMOS O QUE COMEMORAR?

Um dia para reflexão
A semana que se encerra marca mais um Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado, se assim se pode dizer, no dia 05 de junho. A data foi escolhida em função da Conferencia de Estocolmo, ocorrida no ano de 1972, na Suécia, e que pode ser considerado o marco inicial na forma de ver e tratar as questões ambientais ao redor do mundo, bem como, o estabelecimento de princípios para orientar a política ambiental em todo o planeta.

Mas o que mudou de lá para cá?

Se estivesse vivo ainda, José Antônio Lutzenberger traria à tona novamente seu Manifesto Ecológico Brasileiro, lançado na Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN) exatamente no dia 08 de novembro de 1976. Ou seja, há 39 anos. O manifesto é documento atualíssimo, tratando de temas que nos levam a crer na impossibilidade de imaginar um futuro promissor para a humanidade.

Tanto ele quanto James Lovelock, cientista britânico autor da Teoria de Gaia, destacam o desequilíbrio do planeta e as reações advindas deste comportamento irresponsável do ser humano frente aos recursos naturais. Lovelock propõe em sua teoria que a vida na Terra tem função ativa na manutenção das condições para sua própria existência. Para ele, as reações do planeta às acoes humanas podem ser entendidas como uma resposta auto-reguladora desse imenso organismo vivo, Gaia, que sente e reage organicamente. A emissão de gás carbônico, de clorofluorcarbonetos (CFC), de desmatamentos dos biomas importantes como a floresta amazônica, a concentração de renda, o consumismo e a má distribuição de terras podem causar sérios danos ao grande organismo vivo e aos outros seres vivos, inclusive ao ser humano. Por conta disso, há aumento do efeito estufa, a intensificação de fenômenos climáticos, o derretimento das calotas polares, a chuva ácida, a miséria e a exclusão humana.
Dois ambientalistas revolucionários



Lutzemberger em seu manifesto destacava o comportamento da sociedade industrial estabelecida. Dizia que “a ideologia da Sociedade Industrial, com sua adoração incondicional da máquina e da produção, é uma religião fanática, com fervor missionário e força de convicção como nunca houve na história da Humanidade. Esta religião se considera a única verdadeira e não admite divergências; com todos os meios procura impor-se. Sua imagem e incentivos são tais que todos querem aderir, raros são os que ainda se negam”.

E o que vemos hoje em dia é a continuação sistemática de um comportamento irreverente e despreocupado com relação ao futuro da humanidade. Parece que o que mais interessa mesmo é o momento atual, o prazer da vida vivida de forma intensa e sem limites. Observem o comportamento de algumas pessoas nos shopping centers, transitando por ali buscando atonitamente saciar suas volúpias consumistas. Aliás, é tudo que propagam as agencias de marketing e publicidade, como medicamento eficaz para uma sociedade acometida de neuroses de individualidade e extremo egoísmo.

Mas quem recomenda estas panaceias tem o interesse financeiro do lucro às custas de qualquer medida, mesmo que tragam impacto negativo sobre os recursos naturais escassos que ainda nos restam. Basta contemplar a riqueza das toneladas de lixo que se recolhem diariamente nas grandes capitais. Só para se ter uma ideia, o brasileiro produz em média por dia um quilo de lixo. Em 2013 foram contabilizados o desperdício de 76 milhões de toneladas de embalagens, restos de alimentos e outros materiais. Disso tudo, pelo menos 30% poderiam ter sido reciclados ou reaproveitados.

Pouca coisa mudou no comportamento humano das últimas décadas
Por isso tudo, não sei se há o que comemorar neste 05 de junho, já que o comportamento atual demonstra uma mobilização muito tímida para fazer a necessária transformação no nosso modo de agir. Acredito e sempre acreditei que toda a mudança só pode acontecer desde as suas raízes. Por isso, a educação ambiental desde cedo é a única alternativa capaz de modificar essa realidade.

Algumas escolas tem buscado tratar a questão de forma transdisciplinar, como recomenda nossa politica nacional de educação. Mas no meu modo de ver, há uma certa ineficácia nestas ações. Observo docentes mal orientados, mesmo que com certa dedicação, realizando oficinas de reciclagem de materiais, fazendo uso de garrafas pet, tampas de refrigerantes e outros materiais. Mas a partir da tradicional Política dos 3Rs, acredito que o mais importante para que consigamos uma transformação no comportamento da sociedade, é a intensificação no primeiro R – Reduzir. A redução do consumo é um fator comportamental que pode levar os sujeitos a trabalhar de forma crítica a aquisição de bens supérfluos e descartáveis de forma desnecessária, evitando assim o desperdício e, por consequência, preservando os recursos naturais em prol das futuras gerações. Só assim poderemos pensar num dia 05 de junho em que se tenha algo a comemorar.       

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
eu no meu blogue mestrechassot.blogspot.com relativo a data que celebras esta semana evoquei meu pai, que certamente foi um ambientalista, quando esta palavra talvez não figurasse na sua cartilha.
Tu trazes hoje a nossa memória o nome de dois dos maiores ícones: James Lovelock e José Lutzenberger.
Obrigado pelos alertas que fazes nesta edição semanal de teu blogue.
A admiração de
attico chassot
Www.professorchassot.pro.br