10 julho 2015

BOAS PRÁTICAS NA REDUÇÃO E ELIMINAÇÃO DE ACIDENTES



Seminário ocorreu no dia 06 de Julho na Escola FACTUM
Depois de alguns meses, voltei a transgredir o ambiente de sala de aula, coisa que muito me dá prazer. Sair um pouco do “lugar comum”, daquela rotina dos conteúdos no arranjo físico desenhado ainda nos mosteiros da Idade Média, me faz sentir novamente aluno curioso e irrequieto pelos saberes. Foi assim que ocorreu nosso Seminário “Boas Práticas na Redução e Eliminação de Acidentes”, com a excepcional versatilidade e competência do engenheiro Edison Bitencourt.

Esteve ele na Escola alguns meses atrás me confidenciando seu retorno à capital gaúcha, depois de um longo período junto aos soteropolitanos, atuando como profissional prevencionista. Uma troca de experiências e logo surge a ideia de fazermos um evento para alunos e ex-alunos da Escola Factum e outras instituições, onde o Edison pudesse nos contemplar com um pouco da sua extensa bagagem. Assim surgiu o seminário destacado acima.

Eng. Edison Bitencourt, palestrante da noite
Embevecido com o conteúdo abordado pelo Edison, resolvi trazer um aperitivo na edição deste final de semana. Sou conhecedor de algumas políticas de qualidade, onde o Edison buscou inspiração para elaborar as Boas Práticas que aplica nas empresas que desejam melhorar a segurança do trabalho. Por isso, fiquei bastante empolgado das possibilidades da metodologia trazida por ele neste dia.

Iniciou mostrando a todos que o cenário da segurança do trabalho no Brasil não é muito alvissareiro. Que temos muito que avançar na melhoria das condições de trabalho de nossas fábricas. Historicamente, mostrou que a “Nova Segurança do Trabalho”, origina-se de políticas de qualidade desenvolvidas na década de 90 do século passado. A Política do 5S é um destes embriões, sendo que a mesma nasce nos Estados Unidos mas se desenvolve e cria asas a partir do Japão, em função da necessidade de organização do país pós Segunda Guerra. Destacou o Edison que não pode haver segurança numa fábrica desorganizada, ou onde a imundície e o desleixo tomam conta do ambiente. Portanto, este programa está intrinsecamente identificado com a prevenção.   

Teoria do prof. James Reason
Também a política de qualidade utilizada na manutenção de Máquinas e Equipamentos, a TPM (Total Productive Maintenance), contribuirá com a “Nova Segurança”. Esta ferramenta institui o lema “da minha máquina cuido eu”, onde cada operador deverá ter competência para operar e entender o ferramental que está à sua disposição. Da mesma forma, na “Nova Segurança do Trabalho”, diz o Edison, não é o Técnico ou Engenheiro de Segurança do Trabalho que faz segurança. Ele é um “Orientador”.  Quem realmente faz a segurança do trabalho é o próprio operador. “Se ele não quiser que isso aconteça, não vai acontecer!”

Autor da Teoria do Queijo Suíço
Durante a exposição salientou a teoria do queijo suíço do professor James Reason, sobre as brechas que normalmente existem na salvaguarda de um sistema. Sendo assim, para que um acidente grave ocorra é necessário que uma falha consiga ultrapassar todas as barreiras de um determinado sistema. Foi o princípio da liquidação do anterior conceito de debitarmos acidentes de trabalho a “atos inseguros”.

Citando o recente acidente automobilístico do cantor sertanejo “Cristiano Araújo”, Edison Bitencourt disse que os japoneses costumam adotar um severo princípio de investigação, que inicia até mesmo nos incidentes comuns na fábrica. Destacou que eles buscam aprofundar essa investigação em dois potenciais elementos: o Fukogen, que tenta entender possíveis alterações na concepção original da máquina, e o Kemba, que investiga o comportamento operacional no posto de trabalho. Desta forma, o acidente que comoveu o Brasil recentemente, pode também ser entendido nestes dois aspectos. O veículo acidentado teve as rodas originais alteradas. Também o motorista, que era responsável pela condução do veículo, respondia pela segurança do cantor. Poderia se entender assim, um certo “desvio de função”. Ou seja, o operador da máquina era “segurança” ou “motorista”?  Para qual destas funções ele foi treinado?

Vários fatores envolveram o acidente de Cristiano Araújo
Seguindo sua explanação, Edison mostrou aos presentes a importância do “relato de perigo”, utilizado na Gestão de Segurança. Segundo ele, esse relato valoriza o “quase acidente” ou “incidente”. Neste ponto, destacou também a teoria do Dr. Skinner, baseada na observação sistemática do comportamento (BBS – Behavior Based Safety – Segurança Baseada no Comportamento).

Chamou a atenção também sobre a importância dos “procedimentos escritos” a serem adotados como estratégia de segurança nas empresas. Para ele, o papel do técnico em segurança do trabalho não é ensinar como trabalhar, mas sim, ensinar como fazer para não se acidentar durante o trabalho. A Gestão Moderna de Segurança do Trabalho tem seu foco nos Incidentes e no Comportamento Crítico. Aproveitando o momento, destacou que os SESMTs atualmente tem adotado um comportamento “reativo”, atuando depois dos eventos ocorridos. Quando na verdade deveriam exercer uma postura “proativa”, ou seja, trabalhar com prevenção através de DDS e Relatos de Perigo.

Para Edison, a Cultura de Segurança muitas vezes não atinge a parcela administrativa estratégica da empresa, ficando somente na força de trabalho. Para ele, segurança se faz “de baixo para cima”, mas também, de “cima para baixo”.
Segurança se faz também "de cima pra baixo"

Por fim, o palestrante demonstrou toda sua experiência relatando os modelos de “Gestão de Trabalho Seguro” implantados nas empresas, e que lhe valeram inclusive premiações ao longo da carreira. Um destes exemplos trazidos foi o do “Projeto Losango”, cujo desenvolvimento se deu pela integração de quatro eixos fundamentais: treinamento, inspeção de segurança, DDS e relatos de perigo.

A noite foi pequena para amealhar tanto conhecimento. Os presentes, alunos, ex-alunos, professores e alguns profissionais de segurança, estiveram atentos ao engenheiro Edison Bitencourt no compartilhar de toda sua experiência. E nós, do curso técnico em segurança do trabalho, ficamos extremamente gratos pela sua presença entre nós.              

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Prezado Jairo!
Teu relato permute inferir quão sumarento foi o Seminário com Engenheiro Bitencourt e ‘nada muda se você não mudar!’
Cumprimentos sempre,
achassot