18 setembro 2015

INFLAMANDO A DESCONFIANÇA, EXTINGUINDO A SERIEDADE...

Extintor ABC, o que apaga tudo, até a legislação
Pois é! O extintor de incêndio agora vai ser “facultativo”. Segundo o CONTRAN, órgão federal atrelado ao Ministério das Cidades, não é mais necessário o uso, pois nos países mais “adiantados” se comprovou sua ineficiência para debelar princípios de incêndio em veículos de pequeno porte. Mas só agora é que se deram conta disso? Uma vergonha! Há dois meses eu estava “apavorado” buscando regularizar a situação, diante das ameaças do Detran local.

Ainda recordo um vídeo de reportagem realizada por rede local goiana, onde uma jornalista tentava demonstrar a importância de motoristas portarem o extintor ABC. Um bombeiro ateava fogo ao estofamento do veiculo para fazer a demonstração não contavam com a inoperância do equipamento. Foi um verdadeiro "mico" transmitido ao vivo pra todo o Estado. Para quem não teve a oportunidade de assistir, abaixo estou disponibilizando. 

Perigo na demonstração do Extintor ABC em Goiânia 
Iniciativas como essa nos fazem duvidar e desacreditar cada vez mais sobre a pertinência das leis aprovadas pelo legislativo e aplicadas pelo executivo, em todas as suas esferas. Muitas destas leis sequer são colocadas em avaliação antes de serem sancionadas. Só pra ficar na legislação de trânsito, lembro muito bem de uma que tempos atrás mobilizou toda a população de motoristas brasileiros. Os ases do volante do meu tempo vão lembrar do famigerado “kit de primeiros socorros”, que todo veículo em território nacional deveria carregar no porta-luvas.

Dizia assim a legislação do CONTRAN na época:

RESOLUÇÃO Nº 42, de 21 de maio de 1998 – Dispõe sobre os equipamentos e materiais de primeiros socorros de porte obrigatório nos veículos a que se refere o art. 112 do Código de Transito Brasileiro.
 
O Kit Primeiros Socorros, vigorou de janeiro
a abril de 1999
Art. 1º: Os materiais e equipamentos de primeiros socorros de porte obrigatório nos veículos são os seguintes:
I – dois rolos de ataduras de crepe;
II – um rolo pequeno de esparadrapo;
III – dois pacotes de gaze;
IV – uma bandagem de tecido de algodão do tipo bandagem triangular;
V – dois pares de luvas de procedimento;
VI – uma tesoura de ponta romba.

E olha que muita gente assinou esta resolução à época. Entre eles, Renan Calheiros, Ministro da Justiça e Eliseu Padilha, Ministro dos Transportes. Coincidência ou não, estão todos ainda por aí. E a lei entrou em vigor a partir de janeiro de 1999.

Foi uma grande correria, com muitas pessoas se dando conta que nem curativo sabia fazer. Surgiu então uma série de treinamentos para capacitar sobre a forma correta de atender pequenos ferimentos, pois se dizia que o kit deveria ser utilizado no atendimento a pessoas acidentadas. Aliás, conta-se de trágicos atendimentos a feridos, quando até a tesoura perfurou acidentados e motoristas tiveram infecções por procedimentos equivocados.

População indignada se manifestou
nas redes sociais
Diante da comprovação da ineficiência, bem como, da suspeita de que a lei havia beneficiado empresas do setor, tão logo assumiu o segundo mandato, FHC revogou a lei dos kits em abril de 1999. Ou seja, não durou nem um semestre, tal como a atual exigência do extintor ABC.

Mas o que me deixa impressionado é o descaso das autoridades públicas com toda a estrutura que acabou por ser montada para atender as exigências da legislação. Estou comprovando nas mídias sociais nestes dois últimos dias a “chiadeira geral”. Alguns listaram impropérios no Facebook. Outros, de forma bem humorada, característica do brasileiro mesmo em momentos difíceis, ofertava “extintor na caixa, sem uso” por apenas R$130,00, facilitando inclusive o pagamento em parcelas.

Em plena crise que campeia todo o país, com pessoas em busca de oportunidades de emprego e “fazendo das tripas coração” para se livrar de dívidas, muitos brasileiros correram no comércio para atender a exigência do extintor ABC. Sem contar alguns veículos que deixaram as fábricas com extintores de outro tipo, e que tiveram que ser adaptados mediante a ameaça de autuações.

Em alguns estados, veículos chegaram a ser recolhidos
por falta do extintor ABC
Também não se deve esquecer a quantidade de empresários que investiu na fabricação ou comercialização destes equipamentos. Pode-se concluir daí, alguns dos motivos da excessiva desconfiança de empresários estrangeiros em investir no país. A falta de seriedade das autoridades brasileiras na tomada de decisões, como a desta semana, faz com que haja sempre “um pé atrás”, quando lá fora se fala de investimento no Brasil.

Com isso, também o descrédito toma conta da população. Receosa e desconfiada, acaba a cada dia se convencendo de que não há verdade nas decisões nacionais. De que está cada vez mais abandonada ao seu próprio destino, totalmente insegura e refém de um governo de pessoas sem qualidade e competência. E quando eu ainda tinha meus vinte anos, muito me foi dito ser este um “país do futuro”. Estou desesperançoso de quem um dia esse futuro vá chegar.

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo!
O título da blogada desta semana: “INFLAMANDO A DESCONFIANÇA, EXTINGUINDO A SERIEDADE...” faz admirável síntese do assunto que analisas.
Parabéns,
attico chassot