Extintor ABC, o que apaga tudo, até a legislação |
Pois
é! O extintor de incêndio agora vai ser “facultativo”. Segundo o CONTRAN, órgão
federal atrelado ao Ministério das Cidades, não é mais necessário o uso, pois nos
países mais “adiantados” se comprovou sua ineficiência para debelar princípios de
incêndio em veículos de pequeno porte. Mas só agora é que se deram conta disso?
Uma vergonha! Há dois meses eu estava “apavorado” buscando regularizar a situação,
diante das ameaças do Detran local.
Ainda recordo um vídeo de reportagem realizada por rede local goiana, onde uma jornalista tentava demonstrar a importância de motoristas portarem o extintor ABC. Um bombeiro ateava fogo ao estofamento do veiculo para fazer a demonstração. Só não contavam com a inoperância do equipamento. Foi um verdadeiro "mico" transmitido ao vivo pra todo o Estado. Para quem não teve a oportunidade de assistir, abaixo estou disponibilizando.
Perigo na demonstração do Extintor ABC em Goiânia
Iniciativas
como essa nos fazem duvidar e desacreditar cada vez mais sobre a pertinência das
leis aprovadas pelo legislativo e aplicadas pelo executivo, em todas as suas
esferas. Muitas destas leis sequer são colocadas em avaliação antes de serem
sancionadas. Só pra ficar na legislação de trânsito, lembro muito bem de uma
que tempos atrás mobilizou toda a população de motoristas brasileiros. Os ases
do volante do meu tempo vão lembrar do famigerado “kit de primeiros socorros”, que todo veículo
em território nacional deveria carregar no porta-luvas.
Dizia assim a legislação do CONTRAN na
época:
RESOLUÇÃO Nº 42, de 21 de maio de 1998 –
Dispõe sobre os equipamentos e materiais de primeiros socorros de porte
obrigatório nos veículos a que se refere o art. 112 do Código de Transito Brasileiro.
Art. 1º: Os materiais e equipamentos de
primeiros socorros de porte obrigatório nos veículos são os seguintes:
I – dois rolos de ataduras de crepe;
II – um rolo pequeno de esparadrapo;
III – dois pacotes de gaze;
IV – uma bandagem de tecido de algodão do
tipo bandagem triangular;
V – dois pares de luvas de procedimento;
VI – uma tesoura de ponta romba.
E olha que muita gente assinou esta resolução
à época. Entre eles, Renan Calheiros, Ministro da Justiça e Eliseu Padilha,
Ministro dos Transportes. Coincidência ou não, estão todos ainda por aí. E a
lei entrou em vigor a partir de janeiro de 1999.
Foi uma grande correria, com muitas pessoas se
dando conta que nem curativo sabia fazer. Surgiu então uma série de treinamentos
para capacitar sobre a forma correta de atender pequenos ferimentos, pois se
dizia que o kit deveria ser utilizado no atendimento a pessoas acidentadas. Aliás, conta-se de trágicos atendimentos a feridos, quando até a tesoura perfurou acidentados e motoristas tiveram infecções por procedimentos equivocados.
População indignada se manifestou nas redes sociais |
Diante da comprovação da ineficiência, bem
como, da suspeita de que a lei havia beneficiado empresas do setor, tão logo
assumiu o segundo mandato, FHC revogou a lei dos kits em abril de 1999. Ou
seja, não durou nem um semestre, tal como a atual exigência do extintor ABC.
Mas o que me deixa impressionado é o descaso
das autoridades públicas com toda a estrutura que acabou por ser montada para
atender as exigências da legislação. Estou comprovando nas mídias sociais
nestes dois últimos dias a “chiadeira geral”. Alguns listaram impropérios no Facebook.
Outros, de forma bem humorada, característica do brasileiro mesmo em momentos
difíceis, ofertava “extintor na caixa, sem uso” por apenas R$130,00, facilitando
inclusive o pagamento em parcelas.
Em plena crise que campeia todo o país, com
pessoas em busca de oportunidades de emprego e “fazendo das tripas coração”
para se livrar de dívidas, muitos brasileiros correram no comércio para atender
a exigência do extintor ABC. Sem contar alguns veículos que deixaram as
fábricas com extintores de outro tipo, e que tiveram que ser adaptados mediante
a ameaça de autuações.
Em alguns estados, veículos chegaram a ser recolhidos por falta do extintor ABC |
Também não se deve esquecer a quantidade de
empresários que investiu na fabricação ou comercialização destes equipamentos.
Pode-se concluir daí, alguns dos motivos da excessiva desconfiança de empresários
estrangeiros em investir no país. A falta de seriedade das autoridades
brasileiras na tomada de decisões, como a desta semana, faz com que haja sempre
“um pé atrás”, quando lá fora se fala de investimento no Brasil.
Com isso, também o descrédito toma conta da população.
Receosa e desconfiada, acaba a cada dia se convencendo de que não há verdade
nas decisões nacionais. De que está cada vez mais abandonada ao seu próprio destino,
totalmente insegura e refém de um governo de pessoas sem qualidade e competência.
E quando eu ainda tinha meus vinte anos, muito me foi dito ser este um “país do
futuro”. Estou desesperançoso de quem um dia esse futuro vá chegar.
Um comentário:
Meu caro Jairo!
O título da blogada desta semana: “INFLAMANDO A DESCONFIANÇA, EXTINGUINDO A SERIEDADE...” faz admirável síntese do assunto que analisas.
Parabéns,
attico chassot
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