"Leitura": obra prima do pintor Almeida Junior (1892) Pinacoteca de São Paulo |
Ninguém irá duvidar
se eu disser o quanto sou afeito à boa leitura. Com frequência estou “garimpando”
bons textos na rede para me acercar das novidades. Também me deixo saborear
seguidamente por bons títulos e, por vezes, estou enfadonho com alguns deles.
Degusto neste momento “A Corrosão do Caráter”, do Richard Sennett. Saborosa leitura, de
linguagem nem tanto acessível, a obra quer nos fazer entender como o
capitalismo contemporâneo, por sua pretensa flexibilidade, proporcionando aos trabalhadores a possibilidade de tornar o ambiente doméstico um ambiente fabril, tem modificado o
comportamento da sociedade em geral, gerando toda essa confusão que aí está. Por conta disso, ninguém é capaz de arriscar previsões otimistas para o nosso futuro.
David Coimbra: articulista do Jornal Zero Hora |
Também sou adepto de
alguns comentaristas de periódicos locais, e não posso deixar de destacar dois
que me atraem costumeiramente: o Tulio Milmann e o David Coimbra. Acredito que se deve valorizar talentos locais, apesar de algumas restrições. O David atualmente realiza tratamento intensivo fora do país, na tentativa de cura de agressiva doença, o que me deixou muito penalizado ao tomar conhecimento. Com relação aos comentários esportivos de ambos, eu os evito, porque nisso creio que qualquer torcedor local, e mais um bando de imbecis que despejam diariamente verborragias como crônica esportiva, são capazes de “dar pitacos” e, na sua maioria, são extremamente irrelevantes. Meu filtro tem o poder de selecionar só
o que me interessa. Foi assim que destaquei um comentário que achei muito
interessante do David Coimbra, publicado em Zero Hora no dia 15 de setembro
último, com o título “O País do Quero o Meu”. Estou disponibilizando aos meus
leitores, no afã de que seja um bom prato a degustar nesta semana inicial de outubro.
Espero que gostem!
O PAÍS DO QUERO O
MEU (David Coimbra)
Todo brasileiro é um
injustiçado. Eu ganho pouco. Eu trabalho demais. Eu merecia uma casa melhor. Eu
quero entrar antes. Eu quero fazer logo. Eu tenho meus direitos.
Eu, eu, eu.
O brasileiro é o
povo do "eu". Ou do nós, quando o nós quer dizer eu, quando as nossas
queixas são as minhas queixas.
Presidente do CPERS: "Ninguém entra!" |
Na terça, um grupo
de sindicalistas fechou os acessos à Assembleia Legislativa. Ouvi a entrevista
da presidente do Cpers na Rádio Gaúcha:
–
Está fechado! Ninguém entra até sermos atendidos!
A presidente do
Cpers e os demais líderes sindicais acham que têm o direito de fechar a
Assembleia Legislativa.
Só que a presidente
do Cpers e os demais líderes sindicais não têm o direito de fechar a Assembleia
Legislativa. E o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Edson Brum,
tem, sim, obrigação de acionar a polícia e desimpedir os acessos à Assembleia
Legislativa.
Direitos?
Os direitos são assegurados pela lei. Se está dentro da lei, você tem direito;
se é contra a lei, você não tem direito. É simples assim. É a única forma de
funcionar. Não há outra. Jamais houve.
Qualquer
cidadão do Rio Grande do Sul, eu, você, o nababo mais opulento e o mendigo mais
rastejante, todos têm o direito de entrar na Assembleia Legislativa. Se o
acesso ao cidadão é vedado, seja por quem for, seja por qual razão for, o
presidente da Assembleia Legislativa tem de tomar uma atitude e fazer cumprir a
lei.
Edson Brum - presidente da Assembleia |
Faltou
ao presidente da Assembleia, Edson Brum, autoridade. Ele não cumpriu o seu
dever.
Faltou
aos líderes sindicais respeito à democracia. Eles infringiram a lei.
Por
que um e outros erraram? Porque cada um pensa apenas em si mesmo, na sua causa,
no que acredita ser o seu direito.
O presidente da
Assembleia tem medo de reagir e ser criticado pelas lideranças dos servidores.
Ele perderia prestígio e votos se fizesse isso. Dane-se, então, o direito de
todos os demais cidadãos do Rio Grande do Sul. O direito de entrar na
"Casa do Povo", o direito de ver os projetos do governo ou da
oposição debatidos e votados, o direito de acompanhar a manifestação dos seus
representantes eleitos legitimamente, esse direito foi negado ao cidadão. E o
presidente da Assembleia não teve força, pulso ou coragem para fazer nada a
respeito. Deveria renunciar ao cargo.
Já
os líderes sindicais fazem no Rio Grande do Sul a oposição destrutiva que está
sendo feita em Brasília. Por que a oposição quer o impeachment da Dilma? Para
resolver os problemas do país? Não. Para tomar o poder.
Por
que a oposição sabota agora e sabotará amanhã e sabotará sempre qualquer
projeto do Sartori, qualquer um, por melhor que seja? Porque quer o bem do Rio
Grande do Sul? Não. Para tomar o poder.
O
meu partido. O meu grupo. O meu direito. Meu. Eu. No país do "eu",
não é a lei que rege a sociedade: é o grito. É a força. Mas tome cuidado: a
força nem sempre estará ao seu lado.
Fonte:
www.zerohora.com.br acesso em
05.09.2015
Um comentário:
Meu caro Jairo,
depois da fala do casal Skia Sassen & Richard Sennett no excelente Fronteiras do Pensamento (o grande presente que me dei em 2015) do dia 24 de agosto, o livro “O declínio do homem público” do Sennett está naquela pilha que tu conheces.
Terminei hoje o excelente livro de memórias do Olivier Sacks. Tenho que fazer uma blogada sobre ele.
Quanto teus dois articulistas de Zero Hora, um deles escreve muito bem sobre futebol e é um muito conservador articulista político. O outro sabe fazer pílulas.
Com votos de uma semana na expectativa dos Prêmios Nobel,
attico chassot
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