09 julho 2016

ELES CRESCERAM E SE REPRODUZIRAM...

O Cine Avenida na Av. João Pessoa, foi um dos locais
por mim frequentado na década de 1970
Nasci na década de 1950. Na minha concepção fomos uma geração muito privilegiada. Fui testemunha de uma enorme evolução da “sociedade brasileira”, e porque não dizer “mundial”. O avanço da tecnologia modificou hábitos e trouxe confortos antes nunca vistos, pelo menos para nossa família, que nesta década recém chegara do interior para a cidade grande. 

Muitas dificuldades foram enfrentadas, desde sobreviver na cidade grande, onde a competição é acirrada por empregos, até o desconhecimento de uma realidade totalmente nova, para quem estava acostumado com a pasmaceira do meio rural.

Alguns puxões de orelhas impunham limites
na nossa infância
Mas como criança, fomos educados de maneira bastante rígida, em que não havia espaço para “traumas” de infância. O respeito era uma das marcas de nossa relação com os mais velhos. Pai e mãe faziam parte do “sagrado”. Eram incontestáveis. Os avós tinham papel importante no aconselhamento dos netos, e até dos pais, quando supunham necessário.

Mas não era uma infância triste por causa disso. Ela era repleta de brincadeiras e descobertas. Muitas travessuras faziam parte desta realidade, e muitas vezes com consequências não tão alegres. Havia as reprimendas, com uma “chinelada” ou um “beliscão”, quando não um ”puxão” de orelhas. Ou seja, todos nós sabíamos nossos “limites”.

Uma geração inteira pode ter sido influenciada
pela falta de limites 
E nem por isso adentramos a vida adolescente traumatizados pelos castigos impostos. Sabíamos a exata medida de nossas ações, e das consequências que podiam advir delas. Um grande aprendizado para a vida toda.  

Mas o mundo atual tem mostrado uma nova realidade no comportamento humano. E não era de se esperar algo diferente, pois a evolução pressupõe o aperfeiçoamento e o aprimoramento do ser humano. Todavia, o que preocupa é como se dá esta nova realidade. Parece que nem tudo deu certo neste processo evolutivo.

No ano de 1983, o Dr. Dan Kiley propôs ao mundo da psicologia a “Síndrome de Peter Pan”, no seu livro “The Peter Pan Syndrome: Men Who Have Never Grown Up”. Ou seja, homens que nunca crescem, referindo-se a indivíduos que tendem a apresentar rasgos de irresponsabilidade, rebeldia, cólera e narcisismo. Segundo ele, crianças superprotegidas adquirem este distúrbio, e que podem levar para toda a vida. A mim parece que esta seja a origem de muito do que nos deparamos hoje em dia. Na mesma década, também a psicóloga estadunidense Colette Dowling lançou sua teoria do "Complexo de Cinderela", numa referencia ao famoso conto de fadas, em que a princesa empreende uma busca desesperada pelo "príncipe perfeito". Todavia, não me parece que esta segunda teoria tenha preponderado, já que as mulheres tem demonstrado maior independência na atualidade.   

Alguns adultos de hoje são os "mimados" de ontem
No nosso trabalho docente, temos visto comportamentos intrigantes, e que nos leva a considerar o quanto os jovens atuais sofreram influencia de uma geração tratada com excesso de zelo e muito “mimada”. A ponto de não saber lidar com “Perdas e Frustrações”. No meu ponto de vista, aí reside a grande dificuldade de professores e professoras manter um diálogo aberto, honesto e sincero com seus pupilos.

Influídos por uma criação baseada na aceitação de comportamentos adversos, com pais envolvidos no corre-corre do mundo contemporâneo, incapazes de uma análise mais profunda pela escassez de tempo, os filhos acabam se tornando egoístas e egocêntricos. E ainda mais, extremamente “mimados”, como destaca o interessante artigo do editor e criador do site Radar Escola, psicólogo e professor Rafael Mansur. Destaca ele que aquela geração de crianças super mimadas, cresceu... e teve filhos.    

Diz ele:

A influencia da televisão também foi fator relevante
“Tudo começa quando essa geração adulta de hoje, quando criança, foi um pouco mimada. Pouco não, super mimada. Eles cresceram junto à ascensão financeira de boa parte das famílias brasileiras, eles cresceram vendo vídeo game se popularizar, TV a Cabo se tornar real, carrinho de controle remoto aos montes. Essa geração cresceu vendo Xou da Xuxa e desejando tudo que lá aparecia. Essa geração teve a adolescência marcada com a popularização do Windows 95, popularização do celular e aparecimento dos primeiros e-commerces. A grande questão é que essa geração não só viu isso, ela desejou isso, e ganhou muito disso.

Eles foram os primeiros super mimados. Cresceram com a ideia de que tudo a eles poderia pertencer. Qualquer coisa basta bater o pé no chão, cruzar os braços e pronto... ganhou.

Vivem dentro da cultura do descarte, do consumo, vivem em um mundo camuflado de presentes de compensação de faltas.

A primeira geração de crianças super mimadas cresceu e se reproduziu. As crianças fruto dessa reprodução estão sendo mimadas ao triplo. Nos resta agora esperar o dia em que veremos um adulto rolar no chão na fila do restaurante porque não liberaram ainda sua mesa”. 

Talvez essa seja a explicação para a realidade atual com que nós profissionais da educação, agora nos deparamos. Eles chegaram à idade adulta e estão aí...

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro amigo e colega Jairo,
Obrigado pelas recordações (Oh, cine Avenida!) e especialmente agradecido pelos muito ponderados alertas.
Lembrei-me das severas reprimendas e castigos que moldaram minha infância.
Realmente vivemos outros tempos, não só nos avanços tecnológicos, mas também nos chamados ‘bons costumes’.
Mais um fim de semana com uma apreciada blogada do Jairo.
attico chassot