O Cine Avenida na Av. João Pessoa, foi um dos locais
por mim frequentado na década de 1970
|
Nasci na década de 1950. Na minha concepção
fomos uma geração muito privilegiada. Fui testemunha de uma enorme evolução da “sociedade
brasileira”, e porque não dizer “mundial”. O avanço da tecnologia modificou hábitos
e trouxe confortos antes nunca vistos, pelo menos para nossa família, que nesta
década recém chegara do interior para a cidade grande.
Muitas dificuldades foram enfrentadas, desde
sobreviver na cidade grande, onde a competição é acirrada por empregos, até o
desconhecimento de uma realidade totalmente nova, para quem estava acostumado
com a pasmaceira do meio rural.
Alguns puxões de orelhas impunham limites
na nossa infância
|
Mas não era uma infância triste por causa
disso. Ela era repleta de brincadeiras e descobertas. Muitas travessuras faziam
parte desta realidade, e muitas vezes com consequências não tão alegres. Havia
as reprimendas, com uma “chinelada” ou um “beliscão”, quando não um ”puxão” de
orelhas. Ou seja, todos nós sabíamos nossos “limites”.
Uma geração inteira pode ter sido influenciada
pela falta de limites
|
Mas o mundo atual tem mostrado uma nova realidade
no comportamento humano. E não era de se esperar algo diferente, pois a evolução
pressupõe o aperfeiçoamento e o aprimoramento do ser humano. Todavia, o que preocupa
é como se dá esta nova realidade. Parece que nem tudo deu certo neste processo
evolutivo.
No ano de 1983, o Dr. Dan Kiley propôs ao
mundo da psicologia a “Síndrome de Peter Pan”, no seu livro “The Peter Pan Syndrome: Men Who Have
Never Grown Up”. Ou seja, homens que nunca crescem, referindo-se a
indivíduos que tendem a apresentar rasgos de irresponsabilidade, rebeldia, cólera
e narcisismo. Segundo ele, crianças superprotegidas adquirem este distúrbio, e que
podem levar para toda a vida. A mim parece que esta seja a origem de muito do
que nos deparamos hoje em dia. Na mesma década, também a psicóloga estadunidense Colette Dowling lançou sua teoria do "Complexo de Cinderela", numa referencia ao famoso conto de fadas, em que a princesa empreende uma busca desesperada pelo "príncipe perfeito". Todavia, não me parece que esta segunda teoria tenha preponderado, já que as mulheres tem demonstrado maior independência na atualidade.
Alguns adultos de hoje são os "mimados" de ontem |
Influídos por uma criação baseada na aceitação
de comportamentos adversos, com pais envolvidos no corre-corre do mundo contemporâneo,
incapazes de uma análise mais profunda pela escassez de tempo, os filhos acabam
se tornando egoístas e egocêntricos. E ainda mais, extremamente “mimados”, como
destaca o interessante artigo do editor e criador do site Radar Escola, psicólogo
e professor Rafael Mansur. Destaca ele que aquela geração de crianças super
mimadas, cresceu... e teve filhos.
Diz ele:
A influencia da televisão também foi fator relevante |
Eles foram os
primeiros super mimados. Cresceram com a ideia de que tudo a eles poderia
pertencer. Qualquer coisa basta bater o pé no chão, cruzar os braços e
pronto... ganhou.
Vivem dentro da
cultura do descarte, do consumo, vivem em um mundo camuflado de presentes de
compensação de faltas.
A primeira geração
de crianças super mimadas cresceu e se reproduziu. As crianças fruto dessa
reprodução estão sendo mimadas ao triplo. Nos resta agora esperar o dia em
que veremos um adulto rolar no chão na fila do restaurante porque não liberaram
ainda sua mesa”.
Talvez essa seja a explicação para a realidade atual com que nós profissionais da educação, agora nos deparamos. Eles chegaram à idade adulta e estão aí...
Um comentário:
Meu caro amigo e colega Jairo,
Obrigado pelas recordações (Oh, cine Avenida!) e especialmente agradecido pelos muito ponderados alertas.
Lembrei-me das severas reprimendas e castigos que moldaram minha infância.
Realmente vivemos outros tempos, não só nos avanços tecnológicos, mas também nos chamados ‘bons costumes’.
Mais um fim de semana com uma apreciada blogada do Jairo.
attico chassot
Postar um comentário