A escola mantém nos dias de hoje o mesmo formato dos monastérios |
Por conta do início
das atividades docentes em 2017, resolvi me envolver nas questões da educação
nesta edição, pois creio que meu papel aqui também é este. E para orientar minha tessitura,
fui me apropriar de algumas considerações da professora Patrícia Konder Lins e
Silva, de quem li uma obra interessante recentemente: “Inteligência se Aprende”.
Assim que preguei o olho no título, não pude deixar de ser tocado pela
curiosidade. E não deu outra: comprei, li e recomendo. O conjunto de textos é
muito bom. Muito elucidativos. Vale a pena.
Sendo assim,
selecionei algumas passagens para comentar. Se concordarem, tudo bem. Caso
discordem, não há problemas, pois temos que conviver com a diversidade de opiniões.
Transformar a Escola é um dos maiores desafios da atualidade |
Vejam essa afirmação:
“A escola ainda
pratica um ensino mais próximo da educação enciclopédica do passado do que da educação
necessária para o enfrentamento de um mundo em rápida transformação, consequência
do desenvolvimento da tecnologia da informática”. Capítulo 8 – p. 132
O computador permite
a obtenção imediata de informação e de saberes, o que desloca a escola do papel
de principal provedora de conhecimento. O aluno pode obter a informação de que
necessita a partir de qualquer lugar e a qualquer momento, desde que tenha
acesso a um computador.
A curiosidade é o motor do conhecimento |
Ou seja, como
docentes, já não nos cabe o papel de enrijecer a sala de aula proibindo o
acesso às tecnologias, mas, sim, orientar, flexibilizar e possibilitar ao
público discente cada vez mais fazer uso de maneira adequada de todo este arcabouço.
Nesta direção, confesso que estou tentando me remodelar e readequar. Perco a
cada dia que passa mais o medo de concorrer com a tecnologia, pois se assim não
for, vamos ser engolidos por ela. Precisamos torná-la nossa amiga, uma
verdadeira aliada na construção conjunta do conhecimento: tecnologia +
professor + alunos.
Em outra passagem, a
professora Patrícia Konder ressalta como a curiosidade é capaz de influenciar a
busca do conhecimento.
“O conhecimento se
estrutura a partir da curiosidade. O homem é naturalmente curioso em relação ao
que acontece à sua volta e procura explicações para o que encontra. A
curiosidade faz o homem descobrir o que está alem dos seus sentidos imediatos”.
Capítulo 15 – p. 160.
Vândalos atacam as escolas na capital com frequencia |
Fui sempre um
defensor de que onde não há curiosidade dificilmente acontece a transformação do
conhecimento. Desde quando inicio turmas nas escolas onde trabalho, a primeira
coisa que procuro vislumbrar são aqueles alunos curiosos, cujos olhos brilham
já no primeiro dia. E a minha maior ansiedade é fazer com que esse brilho não se
esvaeça, que ele permaneça ou se amplie. Mas muitas vezes, após algumas semanas,
alguns deixam de brilhar e me põem triste, talvez pela decepção de não terem
recebido tudo que havia sido prometido pela escola desde o primeiro dia.
Diz a professora Patrícia
que “a escola costuma esquecer essa capacidade natural, característica do ser
humano, de querer saber e de tentar explicações para os fenômenos do mundo. Como
ela se regula em torno de conteúdos e programas que, obrigatoriamente, deve entregar aos aprendizes, corre o
risco de burocratizar o conhecimento, apartando-o da vida real, afastando-o de
contextos”. E isso tenho observado com frequência. Acabamos desencantando
aprendizes pelo excesso de burocracia e de demasiadas regras rígidas.
Marta foi morta na sala de aula
por colegas em Cachoeirinha
|
Não é a toa que há alguns
anos o Ensino usa e abusa de expressões que refletem muito essa rigidez,
como por exemplo: delegacia de ensino, grade curricular, conteúdo disciplinar e
tantos outros.
Quem sabe também não sejam estes os motivos para os verdadeiros ultrajes ao mais nobre dos fazeres humanos, o resgate do conhecimento, que vivenciamos nestas últimas semanas, com a invasão e dilapidação do Colégio Ildo Meneghetti na zona sul por vândalos, e a trágica e covarde morte por enforcamento da aluna Marta Avelhaneda, de 14 anos, da Escola Estadual Luiz de Camões em Cachoeirinha, por três colegas.
Precisamos repensar tudo isso!
Um comentário:
Eu caro Jairo,
Educação é tua praia. Nesta blogada tu não és alienígena. Falas com os teus. Esta, também, é tua praia mais ampla. Aqui cabem tanto as discussões sobre segurança do trabalhador, crítica às normas técnicas, análise da triste realidade de depredação de escolas ou esse texto interessante acerca de obra publicada recentemente: “Inteligência se Aprende” da professora Patrícia Konder Lins e Silva. Não conheço a autora e por extensão seu livro.
Com teu texto, onde pinças excertos do livro, fazes-me curioso.
Obrigado pela oportuna sugestão para ajudar a navegar em águas turbulentas neste ano letivo que começa sob a égide — melhor diria sob o tacão — de um governo ilegítimo e corrupto.
Começamos um ano letivo (em 2017, inicio o meu 57º ano letivo) com crises nas três esferas (federal, estadual e municipal, para nós de Porto Alegre) em meio a uma violência jamais vivida.
Há três virtudes recomendadas pelo filósofo espanhol Fernando Savater, que ouvi no dia 26 de outubro de 2015, no Fronteiras do Pensamento, que me permito oferecer aos leitores deste blogue que festeja com vigor seu 10º aniversário:
• - a coragem para poder viver: pois vivemos diante da morte, das dificuldades e das ameaças, e não se pode viver eticamente sem coragem;
• - a generosidade para poder conviver: pois viver com outros exige, de alguma maneira, ceder, e precisamos limitar nossos desejos no choque com os demais;
• - e a prudência para sobreviver: pois a vida está cheia de armadilhas e de riscos, e exercer o bem é, muitas vezes, arriscado. Mas passar por martírios sem proveito não serve de nada.
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