A inspeção federal e os empresários da carne tiveram uma
semana conturbada
|
Não bastassem as costumeiras
denuncias semanais de corrupção da Lava-Jato, e a expectativa da liberação da
Lista do Janot, a sexta-feira foi sacudida por outro tsunami. Dessa vez, numa
das áreas que mais emprega trabalhadores, e que é motivo de
orgulho nos indicadores do PIB nacional.
Agora fica a dúvida
se “Agro é POP, Agro é TECH, Agro é TUDO” mesmo.
Caiu a Casa! Quando
uma rede destas se estrutura em cima da ilegalidade e da trapaça, está fadada a
golpes inesperados. Basta que uma peça do “Castelo de Cartas” balance, para que
tudo se transforme em ruínas. E assim foi... Um fiscal agropecuário ciente de
sua tarefa, resolve abrir o verbo diante das ameaças recebidas. E não foi pouca
a coragem para enfrentar esta estrutura. Tanto que hoje, resolveu vir a público
para remediar em parte o estrago perpetrado.
O consumidor foi ao supermercado desconfiado
nesta sexta-feira
|
O problema daqui prá
frente é recuperar a imagem abalada. Não há dúvidas de que, pelo menos no
mercado interno, o consumo sofrerá drásticas alterações nos próximos meses. Caberá
às empresas marqueteiras o resgate desta credibilidade.
Por ter trabalhado
na área por alguns anos, gostaria de atenuar um pouco das denúncias, defendendo
este segmento que foi parte da minha vida, e que tem muita gente séria e
honesta.
A produção de
embutidos, principalmente de linguiça, de salsicha e mortadela possui uma formulação
padronizada e aprovada pelos órgãos de fiscalização. A adulteração destas fórmulas
é motivo de severas punições por parte dos agentes fiscalizadores,
principalmente nas empresas com fiscalização federal, o conhecido SIF. Existem
porcentagens limites para a mistura das massas que compõem a fórmula. E um dos
componentes principais destas massas é a CMS – Carne Mecanicamente Separada.
Esta carne é proveniente de resíduos de desossa, como esqueleto de aves (peito
e pescoço) e espinhaço de suínos (depois de retirado o lombo). Então, a carne
triturada se transforma numa pasta que é congelada e depois adicionada em
blocos na formulação destes embutidos. E também são adicionados carne de cabeça
de suíno, pele de frango e outros resíduos. Para dar sabor há um kit de
condimentos que também é adicionado. Tudo possui limites nas quantidades, de
acordo com as fórmulas que são previamente submetidas ao Ministério da
Agricultura e, se aprovadas, são autorizadas. O problema é o controle e fiscalização
destas quantidades.
A Carne Mecanicamente Separada, ou CMS, é
matéria prima essencial para embutidos
|
No áudio dos
diretores da Peccin do Paraná, se observa a preocupação de um deles no excesso
de massa fina na formulação da linguiça calabresa. Ou seja, estavam
extrapolando a quantidade aprovada pelo órgão fiscalizador. E para tal, já
poderiam ter corrompido o agente fiscalizador da unidade para evitar a denúncia,
ou então, estariam realizando misturas às escondidas.
Para mim, o mais
grave de tudo do que veio à tona nesta sexta, foi a continuidade do
funcionamento da unidade da BRF em Mineiros, no estado de Goiás, mesmo após a comprovação
de uma contaminação generalizada. Apesar de comprovada a presença de Salmonella
naquele frigorífico, a interdição recomendada foi evitada por uma negociação de
300 mil reais, entre o Chefe do Serviço de Inspeção local e um representante da
empresa. Isso sim é muito grave. Inúmeros consumidores poderão ter tido DTAs (Doenças
Transmitidas por Alimentos) consumindo alimentos ali produzidos, sem se dar
conta disso. Alguns podem até ter morrido por esta causa.
E o que fica de tudo
isso é uma grande lição...
As formulações são previamente enviadas para aprovação do
Ministério da Agricultura
|
Primeiramente, fica
a lição para alguns empresários inescrupulosos que terão que se ver com a justiça,
e outros que, mesmo agindo corretamente, terão de recuperar a credibilidade da
marca e fiscalizar com maior atenção seus processos de fabricação, se quiserem
se manter na liderança mundial.
Aos órgãos de fiscalização
fica o alerta para que estejam mais atentos, assim como, fortaleçam seus
quadros de agentes, para torná-los mais eficientes nestes serviços de inspeção.
Aos consumidores um
apelo para que se informem antes de adquirir produtos de baixo preço e
qualidade duvidosa, pois muitos supermercados continuam trocando etiquetas de
produtos vencidos por datas mais recentes. Isso é uma realidade e que deve ser
denunciada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário