18 março 2017

O AGRONEGÓCIO SOB SUSPEITA


A inspeção federal e os empresários da carne tiveram uma
semana conturbada
Não bastassem as costumeiras denuncias semanais de corrupção da Lava-Jato, e a expectativa da liberação da Lista do Janot, a sexta-feira foi sacudida por outro tsunami. Dessa vez, numa das áreas que mais emprega trabalhadores, e que é motivo de orgulho nos indicadores do PIB nacional.

Agora fica a dúvida se “Agro é POP, Agro é TECH, Agro é TUDO” mesmo.

Caiu a Casa! Quando uma rede destas se estrutura em cima da ilegalidade e da trapaça, está fadada a golpes inesperados. Basta que uma peça do “Castelo de Cartas” balance, para que tudo se transforme em ruínas. E assim foi... Um fiscal agropecuário ciente de sua tarefa, resolve abrir o verbo diante das ameaças recebidas. E não foi pouca a coragem para enfrentar esta estrutura. Tanto que hoje, resolveu vir a público para remediar em parte o estrago perpetrado.     

O consumidor foi ao supermercado desconfiado
nesta sexta-feira
O problema daqui prá frente é recuperar a imagem abalada. Não há dúvidas de que, pelo menos no mercado interno, o consumo sofrerá drásticas alterações nos próximos meses. Caberá às empresas marqueteiras o resgate desta credibilidade.

Por ter trabalhado na área por alguns anos, gostaria de atenuar um pouco das denúncias, defendendo este segmento que foi parte da minha vida, e que tem muita gente séria e honesta.

A produção de embutidos, principalmente de linguiça, de salsicha e mortadela possui uma formulação padronizada e aprovada pelos órgãos de fiscalização. A adulteração destas fórmulas é motivo de severas punições por parte dos agentes fiscalizadores, principalmente nas empresas com fiscalização federal, o conhecido SIF. Existem porcentagens limites para a mistura das massas que compõem a fórmula. E um dos componentes principais destas massas é a CMS – Carne Mecanicamente Separada. Esta carne é proveniente de resíduos de desossa, como esqueleto de aves (peito e pescoço) e espinhaço de suínos (depois de retirado o lombo). Então, a carne triturada se transforma numa pasta que é congelada e depois adicionada em blocos na formulação destes embutidos. E também são adicionados carne de cabeça de suíno, pele de frango e outros resíduos. Para dar sabor há um kit de condimentos que também é adicionado. Tudo possui limites nas quantidades, de acordo com as fórmulas que são previamente submetidas ao Ministério da Agricultura e, se aprovadas, são autorizadas. O problema é o controle e fiscalização destas quantidades.

A Carne Mecanicamente Separada, ou CMS, é
matéria prima essencial para embutidos
No áudio dos diretores da Peccin do Paraná, se observa a preocupação de um deles no excesso de massa fina na formulação da linguiça calabresa. Ou seja, estavam extrapolando a quantidade aprovada pelo órgão fiscalizador. E para tal, já poderiam ter corrompido o agente fiscalizador da unidade para evitar a denúncia, ou então, estariam realizando misturas às escondidas.

Para mim, o mais grave de tudo do que veio à tona nesta sexta, foi a continuidade do funcionamento da unidade da BRF em Mineiros, no estado de Goiás, mesmo após a comprovação de uma contaminação generalizada. Apesar de comprovada a presença de Salmonella naquele frigorífico, a interdição recomendada foi evitada por uma negociação de 300 mil reais, entre o Chefe do Serviço de Inspeção local e um representante da empresa. Isso sim é muito grave. Inúmeros consumidores poderão ter tido DTAs (Doenças Transmitidas por Alimentos) consumindo alimentos ali produzidos, sem se dar conta disso. Alguns podem até ter morrido por esta causa.

E o que fica de tudo isso é uma grande lição...

As formulações são previamente enviadas para aprovação do
Ministério da Agricultura
Primeiramente, fica a lição para alguns empresários inescrupulosos que terão que se ver com a justiça, e outros que, mesmo agindo corretamente, terão de recuperar a credibilidade da marca e fiscalizar com maior atenção seus processos de fabricação, se quiserem se manter na liderança mundial.

Aos órgãos de fiscalização fica o alerta para que estejam mais atentos, assim como, fortaleçam seus quadros de agentes, para torná-los mais eficientes nestes serviços de inspeção.

Aos consumidores um apelo para que se informem antes de adquirir produtos de baixo preço e qualidade duvidosa, pois muitos supermercados continuam trocando etiquetas de produtos vencidos por datas mais recentes. Isso é uma realidade e que deve ser denunciada.

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