Desde o inicio da semana preparava uma edição para homenagear o
ambientalista José Lutzenberger, pela passagem dos dez anos de sua morte,
porque sou um adepto das idéias do homem considerado um dos pais do
ambientalismo brasileiro. Bem, essa era a temática do final de semana. Mas, o
destino se encarregou de modificar meus planos. Fui surpreendido por uma
notícia extremamente dura, a morte de um primo meu, pelo qual nutria grande
admiração, principalmente pela contribuição relevante de seus trabalhos para a
sociedade. Ainda no dia 28 do mês passado, fazia referência em minha página do Facebook sobre a importância de seu trabalho na segurança dos vôos comerciais, com destaque para nosso aeroporto de Porto Alegre. Na manhã da sexta-feira, dia 18 de maio, Fabian Fortes foi vítima de
acidente automobilístico fatal. Esta também considero uma perda inestimável
para minha família, bem como, para a comunidade na qual ele desenvolvia suas
atividades.
Num misto de dor e homenagem, quero aproveitar este espaço para
relembrar essas duas figuras exponenciais em suas atividades, e que, para mim,
possuem grande representatividade pelo legado que deixaram: o Lutz na luta pela
questão ambiental, e que tanta falta nos faz nos dias de hoje, quando o
legislativo brasileiro prescinde de opiniões abalizadas para aprovação do
Código Florestal Brasileiro, e o Fabian, pela primeva atividade de falcoaria, e que agora se estabelece como proteção aos
voos do Salgado Filho. Aquele entrou para a história pelas opiniões
fundamentadas na preservação dos recursos naturais, este, embora precocemente
arrebatado de nossa convivência, timbra sua marca pelo ineditismo da atividade
falcoeira.
A seguir, um breve relato das atividades destes dois gaúchos que
agora fazem parte da galeria de honoráveis cidadãos rio-grandenses.
JOSÉ ANTONIO LUTZENBERGER (1926 - 2002)
Formado em Agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), Lutzenberger trabalhou durante muito tempo para empresas
produtoras de adubos químicos, no Brasil e no exterior. Em 1971, depois de
treze anos como executivo da Basf, abandonou a carreira para denunciar o uso
indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras do Rio Grande do Sul. A partir de
então se dedicou à natureza e defendeu o desenvolvimento sustentável na
agricultura e o uso dos recursos renováveis, alertando para os perigos do
modelo de globalização em vigor.
Lutzenberger era crítico dos agrotóxicos |
Participou de mais de oitenta encontros nacionais e mais de
quarenta internacionais. Entre os quarenta prêmios que recebeu está o The Right
Livelihood Award (Nobel Alternativo), 25 distinções e inúmeras homenagens
especiais.
Participou da fundação da Associação Gaúcha de Proteção ao
Ambiente Natural (AGAPAN) – uma das entidades ambientalistas mais antigas do país - e criou a
Fundação Gaia. Lutz, como era conhecido, escreveu diversos livros, dos quais um
dos mais notáveis é Fim do futuro? - Manifesto Ecológico Brasileiro, de
1976. Coordenou também os estudos ecológicos do Plano Diretor do Delta do Jacuí
(RS), tendo papel importante na implantação do Parque Municipal do Lami, em
Porto Alegre, (que hoje leva seu nome), e do Parque Estadual da Guarita, em
Torres, entre outras atividades.
Na obra "Fim do Futuro: Manifesto Ecológico Brasileiro",
que lançou em 1980, já previa o problema do aquecimento global (hoje um
consenso científico, mas na época um assunto desconhecido da população),
alertando por exemplo que "a Amazônia não é o pulmão do planeta, é o ar
condicionado do planeta".
Em março de 1990, foi nomeado secretário-especial do Meio Ambiente
da Presidência da República, em Brasília, durante o governo de Fernando Collor
de Mello, onde permaneceu até 1992, quando se demitiu do cargo, desiludido com
a burocracia e os jogos de poder e disputa de interesses em Brasília. Nesse
período, teve papel decisivo na demarcação das terras indígenas, em especial a
dos índios Yanomami, em Roraima, na decisão do Brasil de abandonar a bomba
atômica, na assinatura do Tratado da Antártida, na Convenção das Baleias e na
participação das conferências preparatórias da Conferência Mundial do Ambiente,
a Rio-92.
Faleceu em 14 de maio de 2002, em sua cidade natal,
Porto Alegre, vítima de parada cardíaca. Até em seu cerimonial fúnebre Lutzenberger
mostrou ser um batalhador das causas ecológicas. O corpo foi enterrado dentro
um bosque no Rincão Gaia, no interior do Rio Grande do Sul, conforme desejo
expresso em vida. Lutzenberger foi enrolado num pano, sem sapatos, e colocado
na terra sem caixão.
Analisando nossa filosofia existencial, uma das regras é que os
filhos sepultem os pais. E quando essa ordem se inverte o quadro da dor se
torna muito maior. Os pais jamais imaginam essa inversão durante suas existências.
Sepultar um filho dá a impressão de se enterrar todas as expectativas e
projetos que ali estavam previstos.
Principalmente quando o fato gerador deste
desaparecimento é trágico, inesperado e avassalador. É uma existência abreviada
de forma abrupta. É isso que acredito estarem sentindo neste momento os pais do
Fabian. O doutor Arlei, um adepto também da filantropia e cujo temperamento
sempre demonstrou serenidade em lidar com as mais diversas situações,
juntamente com a esposa Francelina, pai e mãe do Fabian, devem estar sofrendo
como nunca esta perda.
Falcoaria, sua maior paixão |
O Fabian era um apaixonado pelo que fazia. Não media esforços em
busca do conhecimento e de alternativas para implantação de seus projetos junto
à Hayabusa Falcoaria e Consultoria Ambiental. Sua atividade possuía grande
identidade também com a causa ambiental, tal como o outro ilustre personagem
desta edição citado acima. Ainda esta semana, em entrevista ao tele-jornal Bom
Dia Brasil, no dia 17 de maio, Fabian demonstrava a preocupaçao com a vida das aves que inoportunamente invadem o espaço aéreo, e cujas espécies podem ser preservadas pelo uso das aves de rapina:
“A grande maioria das aves não causa danos às aeronaves e aos
passageiros. Porém, a ave em geral paga com a vida. Então, o fato destas aves
não estarem aqui dentro (da pista do aeroporto Salgado Filho) vai evitar também
a morte de animais silvestres.”
Desta forma vê-se a grande sensibilidade e preocupação do Fabian com
a vida silvestre, pois além de proporcionar segurança aos pousos e decolagens,
o uso dos falcões contribui para a preservação da fauna.
Cavaleiros da Paz |
Como um adepto do tradicionalismo gaúcho e admirador
de cavalaria, se engajou nos Cavaleiros da Paz, grupo que ao final da década de
1980, sob inspiração do folclorista Antônio Augusto Fagundes, começou a
realizar Cavalgadas Internacionais rompendo as fronteiras de diversos países e
interagindo com grupos de cultura eqüestre em todo continente americano.
Fabian Fortes teve a vida interrompida bruscamente por acidente automobilístico
nesta sexta-feira, dia 18 de maio, próximo à RS 040 em Viamão.
Fonte consultada: www.wikipedia.com.br
Um comentário:
Meu caro Jairo,
ajunto-me, mesmo que à distância a tua dor e dos teus, em especial a de Arlei e Francelina pela perda do bravo Fabian. Esta inexorável morte não anunciada me comove e me questiona.
No teu contar de maneira tão pungente sua história fazes o Fabiam presente entre nós.
Aceita-me com parceiro que sofre por esta inestimável perda,
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
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