Pense no perfil de um
excelente profissional. Provavelmente, ele não é preguiçoso ou sem foco, certo?
Tampouco excessivamente competitivo ou ansioso. Mesmo porque essas
características psicológicas podem gerar problemas físicos, só pensar naquele
seu colega de trabalho que tem gastrite ou pressão alta - as chances são
grandes de a causa ser psicossomática.
1) Sono e preguiça
O corpo tem um relógio biológico
que funciona muito com base na iluminação do dia e no
escuro da noite. "De dia, liberamos o hormônio cortisol, que nos prepara
para o enfrentamento da rotina. À noite, o hormônio melatonina começa a agir
para indução do sono", explica o médico Artur Zular, consultor científico
do Instituto Qualidade de Vida.
Na prática, alterações nesse
relógio biológico - como acordar antes do sol nascer ou insistir em se manter
acordado até altas horas da noite, podem afetar o funcionamento desses
hormônios, deixando a pessoa com sono durante o horário comercial. Pessoas
que trabalham à noite, fazem plantões ou trabalham em turnos sofrem mais com
isso.
Também é importante levar em
consideração outros transtornos que podem estar causando sono em horários
indevidos. "A pessoa pode estar com depressão não diagnosticada, por
exemplo. Ela também pode ter transtornos como anemia e hipotireoidismo, que dão
fraqueza e cansaço", diz Duílio Antero de Camargo, psiquiatra do Hospital
das Clínicas de São Paulo e médico da Associação Nacional de Medicina do Trabalho
(ANAMT).
Como lidar
Segundo Camargo, é importante
passar por uma avaliação médica para determinar se o trabalhador
"preguiçoso" não tem, na verdade, algum transtorno físico. "Se o
problema for o trabalho em turnos ou à noite, o jeito é passar por uma
readaptação, talvez mudar seu horário", fala.
Para quem precisa lidar com o
sono e não encontrou a causa da preguiça na medicina, Zular é bem direto na
dica: "café". Ele explica que cafeína é um excelente estimulante. Por
dia, pode-se tomar 4 a 5 xícaras pequenas da bebida. "Quem não gosta de
café pode tomar refrigerante de cola, que equivale a duas xícaras. Chocolate
também funciona. Mas é preciso tomar cuidado com essa mistura para não
ultrapassar a dose diária recomendada", alerta.
Além de tirar a sonolência, o café
estimula a cognição e memória. Para quem não tem diabetes, até o açúcar pode
ser benéfico, por evitar glicemia.
2) Impaciência e ansiedade
Apesar de muitas vezes serem
usadas como sinônimos, as palavras têm significados diferentes. "A
impaciência tem relação com a urgência do tempo", explica Zular. "Já
a ansiedade se relaciona com o sofrer por antecipação."
A impaciência tem um componente
bastante cultural, da criança que não aprende que precisa esperar. Já a
ansiedade pode produzir uma dificuldade em se lidar com o tempo, gerar
estresse, angústia e até sintomas físicos como pressão arterial elevada.
A ansiedade é normal e as pessoas
costumam ter alguns sintomas mais leves relacionados à tensão. O problema é
quando eles se intensificam (sudorese, tremores, falta de ar e taquicardia) e
acabam se tornando crônicos. "Ansiedade crônica deixa marcas físicas, o
corpo não aguenta tamanho esgotamento", afirma Camargo.
Como lidar
Na hora da tensão, alguns
alimentos e bebidas (como o chocolate e o suco de maracujá, por exemplo), podem
ajudar a lidar com um ataque de ansiedade. Se a questão é crônica, porém, e
começa a afetar o seu dia a dia, é preciso passar por uma avaliação médica.
Os dois especialistas reiteram a
importância de acompanhamento psicológico para se trabalhar as causas da
ansiedade. "O médico vai desconstruir o modelo mental desse paciente
ansioso", conta Zular. E ele completa: "Essa pessoa muito ansiosa
está vivendo em outra realidade, uma na qual os efeitos e sintomas são
desproporcionais às causas".
Para o médico Camargo, que faz
parte da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, é importante notar que as
causas dessa tensão podem vir do próprio emprego: sobrecarga de trabalho,
excesso de meta, relacionamentos complicados. "Às vezes, é preciso tratar
a pessoa, e para isso temos tranquilizantes e antidepressivos, mas às vezes
também precisamos tratar a empresa", diz.
3) Excesso de competitividade
Os novos modelos de gestão exigem,
sim, um profissional mais agressivo e competitivo. Esse é um comportamento
incentivado. "Mas o que importa mais: competência ou
competitividade?", questiona Artur Zular.
Claro que competência é mais
importante e ser melhor que o outro pode ser desgastante, especialmente se a
competição torna o clima da empresa menos colaborativo. "A pessoa
competente compete consigo mesma, tem autocrítica", diz Zular.
Ambos especialistas concordam que
a característica da competitividade é um fenômeno psicossocial, ou seja,
cultural. "Não tem nada a ver, por exemplo, com testosterona. Testosterona
implica em agressividade, não competição", desmistifica Zular.
Como lidar
Para Zular, é difícil mudar a
personalidade de alguém muito competitivo: "Essa pessoa terá de ser
treinada. Ela primeiro precisa se perceber como extremamente competitiva,
depois adequar seus processos mentais e por fim mudar seus atos, não
necessariamente sua essência", afirma.
O psiquiatra Camargo também
concorda com a importância da terapia em casos de competição extrema, para que
a pessoa tenha consciência dos limites. "É preciso trabalhar a empresa,
também, que tem responsabilidade pelo clima de extrema competição que
promove", completa.
O especialista dá algumas dicas,
também, que podem ajudar a amenizar a necessidade de competir e brigar no
ambiente de trabalho: "Busque válvulas de escape e recarregue suas
baterias. Vale atividade física, espiritualidade, buscar apoio familiar e
social e até agrados na alimentação", sugere. Isso evita que, com tanto
estresse, a pessoa exploda (cause brigas e seja agressiva) ou imploda
(desenvolva doenças crônicas psicossomáticas).
4) Falta de foco
Já aconteceu de você não estar com
sono, não estar cansado, mas também não conseguir manter sua atenção no
trabalho a ser feito? Qualquer coisa parece mais interessante do que a tela do
seu computador nesses momentos. Em alguns dias isso é normal, sim. O problema é
quando a falta de foco se torna algo constante no trabalho.
"Falta de foco é poluição
mental", explica o médico Artur Zular. "Ela é gerada por fragmentos
de outros dias e lugares que ficam na sua cabeça. Você lê um texto, mas com ele
concorrem outros assuntos com os quais você precisa lidar", explica.
Essa desatenção também pode ser
sintoma de doenças mais graves como Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade ou depressão. "Esquecimento e apatia são sintomas comuns da
depressão", descreve Camargo.
Como lidar
Assim como com outros sintomas, a
falta de foco pode ser indicativa de doenças mais graves. Por isso, é essencial
que se passe por uma avaliação médica.
Se, por outro lado, você não
consegue se concentrar por conta de algum problema pessoal, a solução é "se
despoluir". "Se for algo que você puder resolver, peça licença para o
chefe e lide com o problema. Caso contrário, tente usar o trabalho como
distração do problema - em vez de ser o oposto", diz Zular.
A falta de foco pode ser sinal de
que falta, na realidade, estímulo para se trabalhar. Segundo Camargo, um
desgaste no trabalho pode ser resolvido com alterações: novos projetos, funções
e tarefas que estimulem o funcionário.
"Há meios artificiais,
também, para concentração: café e às vezes é necessário medicação", diz
Camargo. Ele, assim como Zular, sugere que a pessoa treine seu comportamento
para saber priorizar tarefas. "Se está difícil de prestar atenção no
trabalho, tire os ladrões de tempo e as distrações da sua frente", completa
Zular.
3 comentários:
Meu caro Jairo,
pareceu-me bem postos os quatro ‘hábitos’ ruins presentes no trabalho e, especialmente, como lidar com os mesmos. O terceiro (excesso de competividade) parece não ser culpa do trabalhador e sim do empregador. Também não me pareceu adequado associar sono a preguiça, talvez o melhor seria relacionar com fadiga.
Na verdade seria questionável chamar estas situações de hábitos.
Obrigado pelos aprendizados que nos premeias a cada fim de semana.
A admiração de
attico chassot
mestrechassot.blogspot.com
Fiz comentário no fim de semana de quando junho se transmutou em julho elogiando a população de Sapucaia do Sul
Meu caro Garin,
pela manhã li domingueira, mas fiquei pensando o que seria ‘revessa’. Agora fica uma questão: Qual destas duas acepções de referes?
1. Água próxima à margem do rio e que tem movimento contrário ao do veio de água.
2. Intersecção de duas águas do telhado.
Com curiosidade de um leitor que nunca ouvira esta palavra.
Um bom saldo de domingo.
attico chassot
www.professorchassot.pro.br
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