Os tempos
atuais tem sido de grande apelo visual, onde o maior valor tem sido dado à
estética. Não é à toa que as academias se proliferam em grande escala, tantos
nos conglomerados urbanos quanto nas cidades do interior. No início deste ano,
fui ministrar um curso de três dias sobre Segurança Alimentar para empresas de panificação
e laticínios, numa pequena cidade da região da Encosta da Serra Gaúcha. Nos
finais de tarde, quando encerrava o curso e me dirigia ao hotel, passava por uma
academia lotada. E me perguntava: “Porque essas pessoas se fecham numa sala
repleta de bicicletas ergométricas e esteiras de caminhada artificial, enquanto
a pequena cidade dispõe de tamanha exuberância natural disponível para
caminhadas e corridas?” Só vejo uma razão: o apelo mercadológico e a estética.
Dominado
por esta dúvida da importância da estética, busco leituras que possam me saciar
a curiosidade. Pois bem, fiquei me perguntando também porque algumas pessoas
vivem recorrendo ao bisturi para melhorar a aparência e, até mesmo, fazem
investimentos pesados nesta área?
Entendo ainda que a cirurgia plástica tem importância significativa, ao recuperar a auto-estima de pessoas destruídas por acidentes mutilantes e outras causas similares.
Como sempre faço sobre estes assuntos,
fui ler a respeito das cirurgias estéticas e os tipos de intervenções medicas comuns
hoje em dia. Sequer imaginava eu que encontraria algo bem inusitado na área;
prá não dizer um tanto "bizarro". Pois
vejam o artigo que encontrei na edição desta quinta-feira, dia 30 de agosto, da
Folha de São Paulo.
Cirurgia plástica íntima é mania mundial que preocupa ginecologistas
Lábios
vaginais recauchutados e outros retoques na genitália feminina não podem ser
facilmente exibidos como peitões de silicone ou barriguinhas lipoaspiradas.
Mesmo assim, são o último fenômeno no cardápio moderno das intervenções
plásticas.
Nos EUA,
são feitas mais de 1,5 milhão de cirurgias íntimas. No Reino Unido, 1,2 milhão.
No Brasil, médicos apontam um crescimento de 50% nos últimos dois anos.
O ginecologista
Paulo Guimarães é expert em "design vaginal". Dá cursos de formação
em cosmetoginecologia para médicos. Nos treinamentos, diz, 900 mulheres são
operadas por ano, a preços menores. No consultório, "com atendimento
personalizado e sigilo", afirma fazer 15 cirurgias íntimas por mês.
O
cirurgião plástico Marcelo Wulkan, que atende em São Paulo e tem trabalhos
sobre redução de lábios vaginais em publicações internacionais, diz fazer cem
desses procedimentos por ano.
Grande Mural da Vagina - Artista Plástico Inglês Jamie McCartney |
Mesmo
médicos mais conhecidos por outros tipos de cirurgia, como implantes mamários e
plástica de nariz, estão vendo a procura crescer.
"Nos
últimos dois anos, passei de uma cirurgia íntima para três por mês", conta
Eduardo Lintz, chefe de cirurgia plástica do hospital HCor, de São Paulo, e
professor do Instituto Ivo Pitangui, no Rio. No total, Lintz faz cerca de 40
cirurgias plásticas mensais.
TAMANHO-PADRÃO
Como não
há evidências de que os lábios vaginais cresceram nos últimos anos, especula-se
que o aumento de cirurgias redutoras esteja ligado à uma nova busca de medidas
genitais "padrão".
E o que é
uma vagina normal? Assim como as estatísticas brasileiras sobre cirurgia
íntima, as medidas são imprecisas. "Isso é um pouco subjetivo. Quando o
lábio menor não ultrapassa 2 cm de largura pode ser considerado normal",
diz Wulkan.
Está
longe de ser consenso. Segundo estudo no "British Journal of Obstetrics
and Gynaecology", a diversidade de tamanhos observada nos lábios vaginais
da população é imensa, o que amplia o espectro de normalidade.
O mesmo
estudo aponta que trabalhos anteriores definiram como acima do normal lábios
com mais de 4 cm de largura, mas essa medida deve ser revista e ampliada.
Quando os
lábios menores ultrapassam os maiores, a tendência é serem considerados
candidatos à cirurgia. Mas não se trata de uma imperfeição física.
Modelo gaúcha Andressa Ulrach acredita que algumas partes podem melhorar |
"É
constitucional, a mulher nasce com essa característica, como nasce com um nariz
grande", diz Lintz.
No
entanto, o que é natural já não é o normal.
Imagens
de nus femininos, reportagens e material didático criam o modelo de
normalidade, diz a antropóloga Thais Machado-Borges, do Instituto de Estudos
Latino-Americanos da Universidade de Estocolmo, Suécia.
No estudo
"Um olhar antropológico sobre a mídia, cirurgia íntima e
normalidade", ela diz que as mulheres consideram atrativas as formas que
correspondam a esse modelo, criadas por técnicas cirúrgicas. "Será que
essas cirurgias podem transformar zonas erógenas em 'paisagens' onde reina o
prazer?", questiona.
Como em
relação a narizes, peitos e bundas, o padrão estético muda conforme a época e o
país. "Nos EUA, as mulheres querem vagina pequena, cor-de-rosa. As
brasileiras querem no mesmo tom de pele do das mãos, com lábios de 1 cm a 1,5
cm", diz o ginecologista Paulo Guimarães.
"É o
modelo imaginário do órgão de menininha, o formato 'sou virgem'",
interpreta a psicóloga Rachel Moreno.
A
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia alerta seus
membros sobre riscos dessa onda.
"É
preciso muito cuidado para mexer em locais com tantas terminações nervosas. As
cirurgias íntimas são vendidas como soluções para dificuldades sexuais, mas, se
você mexer onde não era para mexer, você piora o que era para melhorar",
diz Gerson Lopes, presidente da comissão de sexologia da entidade.
2 comentários:
Meu caro Jairo,
esta edição semanal de teu blogue deveria ser difundido a rodo, por sua dimensão de alerta e de esclarecimento. Não tinha ideia da dimensão da realização de cirurgias estéticas em partes íntimas.
Mais uma vez parabéns pela oportunidade desta blogada
attico chassot
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