Este domingo é um dos momentos mais importantes da vida pública
nacional. E por que não dizer, para nós que partilhamos o espaço público
municipal, momento principal da vida local. Acontece a eleição de nossos
mandatários mais próximos, vereadores e prefeitos. Aqueles já serão conhecidos
neste inicio de semana, estes em alguns lugares terão ainda de disputar um
segundo turno, se for o caso.
Mas quero aproveitar este período para trazer aqui uma reflexão sobre a eleição
para cargos que são públicos e que permanecem de forma perpétua na mão de
pessoas que deles tiram proveito, e que se negam a deixar de desfrutar suas
benesses. São os dirigentes de entidades responsáveis pela organização do
esporte nacional, esporte esse que cada vez mais reúne uma massa de atletas e
aficcionados torcedores, o que contribui também no aumento dos valores arrecadados
e dos salários destes cartolas. Isso faz com que a disputa por estes cargos
sejam acirradas, e que quem está no poder faça de tudo para preservar a
boquinha.
Portanto, a seguir um artigo da Revista Carta Capital, que destaca o que
está em trâmite no Congresso Nacional para acabar com este abuso longevo nas
entidades esportivas brasileiras. Sabe-se que vem muita reação por aí.
COMO DERRUBAR OS SENHORES FEUDAIS
Nuzman, há 17 anos no poder |
Vinte e um anos. Esse é o tempo que o dirigente
Carlos Arthur Nuzman terá permanecido na presidência do Comitê Olímpico
Brasileiro (COB) quando a tocha dos Jogos do Rio de Janeiro estiver acesa em
2016. Nuzman, que também preside o Comitê Organizador da Olimpíada brasileira,
é o líder de uma estirpe de dirigentes que se perpetuam no poder do esporte
nacional: dez confederações esportivas do País são comandadas há pelo menos dez
anos por cartolas beneficiados por sucessivas reeleições.
A longevidade de cartolas como Nuzman pode estar com os dias
contados. Tramita no Senado um projeto de lei que pretende combater a
permanência de “dinastias” e, de maneira indireta, inibir abusos de poder e
corrupção nas entidades esportivas brasileiras, bem como em federações e
sindicatos. A proposta proíbe reeleições consecutivas, estipula um limite de
quatro anos para a duração dos mandatos e prevê que cônjuges e parentes
consanguíneos do eleito fiquem impedidos de se candidatar.
Senador Cássio Cunha Lima: Mudança na escolha dos dirigentes |
A ideia é impor às entidades as mesmas regras que a
sociedade aprovou para os cargos executivos públicos. “Embora essas entidades
não sejam públicas, elas gozam de isenção de impostos e incentivos do governo.
Por isso, devem seguir os padrões democráticos que a sociedade brasileira
estabeleceu”, afirmou a CartaCapital o senador Cássio Cunha Lima
(PSDB-PB), autor da proposta. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, já se mostrou
favorável à mudança. “Essas medidas trariam benefícios para as entidades e para
a prática esportiva”, disse em nota.
A longevidade dos dirigentes esportivos é a parte
visível de uma estrutura arcaica que favorece sempre o grupo que está no poder
e dificulta a mudança de práticas, necessária quando o investimento não se
transforma em melhorias para os atletas ou resultados. O presidente do Comitê
Olímpico Brasileiro é eleito pela assembleia-geral da entidade. Têm direito a
voto apenas as federações dos 28 esportes olímpicos e os três “membros natos do
COB”. São membros natos o próprio Nuzman, seu vice, André Richer, e João
Havelange, que comandou a Fifa durante 24 anos e que recentemente foi condenado
por receber propina de uma empresa de marketing esportivo. O sistema em vigor
dá superpoderes ao presidente do COB, pois é ele quem determina o destino e o
tamanho dos repasses de verbas para as federações. Como são as próprias
federações que elegem o próximo presidente, o comandante de cada uma delas
precisa fazer reivindicações com ponderação, sob risco de ser penalizado no
repasse de verbas. Agrava a situação o fato de o estatuto do COB exigir que um
dirigente tenha o apoio de pelo menos dez presidentes de federação para
apresentar sua candidatura. Assim, oposição só surge em caso de rebelião.
A Lista dos Senhores Feudais do Esporte Brasileiro |
Cunha Lima já prevê uma pressão contrária dos
dirigentes. O COB de Nuzman informou a CartaCapital que a entidade é contrária
à ideia. “A gestão de um dirigente deve ser analisada sob a ótica dos
resultados e das conquistas alcançadas, de sua representatividade no âmbito das
entidades esportivas internacionais e do legado”, diz a entidade em nota. “O
COB defende a autonomia das entidades dirigentes esportivas e considera que a
definição do tempo de mandato do presidente deve ser uma atribuição da
comunidade da respectiva entidade desportiva.”
O ex-judoca Aurélio Miguel, medalha de ouro em Seul em 1988 e
atualmente vereador em São Paulo pelo PR, é um dos ex-atletas contrários à
perpetuação de dirigentes. “Essa sempre foi a minha bandeira. O Ministério
Público deve ter poder para fiscalizar os atos das confederações. Na hora de
receber o recurso do governo, elas dizem ter interesse público, mas na hora de
ser fiscalizadas, se dizem privadas. Uma eleição com apenas uma reeleição
ajudaria a mudar isso”, entende, apesar de ressaltar que enxerga a gestão de
Carlos Arthur Nuzman com bons olhos.
Aurélio Miguel: as Confederações recusam a fiscallização |
Miguel sentiu na pele os problemas internos que uma
confederação pode ter. Quando era judoca, encabeçou um movimento contra a
chamada “dinastia Mamede” na Confederação Brasileira de Judô (CBJ). Ele e
outros judocas, como Rogério Sampaio (medalha de ouro em 1992), ficaram três
anos sem participar de competições oficiais por conta de desavenças com o então
presidente da entidade, Joaquim Mamede. “O governo ajudava com alguma verba,
mas, como as contas da CBJ estavam condenadas, esse dinheiro era embargado,
porque vinha através da federação e não diretamente ao atleta. E havia cobrança
de ágio pelos dirigentes, era muito difícil.” A família Mamede comandou a CBJ
por 31 anos, entre 1970 e 2001.
Se não é tão raro ouvir as reclamações de um
ex-atleta como Miguel, raríssimos são os esportistas ainda em atividade que se
posicionam contra o status quo da política esportiva. Um desses atletas é Diogo
Silva, semifinalista do tae kwon do em Londres-2012. “Existe um ciclo vicioso
centralizador que faz as associações de academia elegerem presidentes das
federações, que elegem os presidentes das confederações, que escolhem o
presidente do COB”, diz Silva. “Se um presidente de federação vira oposição,
ele passa a ter dificuldades para desenvolver o esporte no seu núcleo. Muitos
queriam votar contra (o Nuzman), mas temem retaliações”, afirma.
Diogo Silva: "O sistema é viciado!" |
Silva entende que a participação política dos
atletas é prejudicada nesse contexto. “O dinheiro está nas mãos do COB. Se você
levanta a bandeira da oposição, vai ter um caminho muito mais difícil para
chegar ao sucesso. Sou atleta não para ganhar dinheiro, mas para provocar essa
discussão.”
Aos 30 anos, o lutador diz se preparar para ser um
dirigente capaz de tornar o sistema mais justo e transparente ao se aposentar.
Exemplos de mais transparência no comando de comitês olímpicos sobram no
exterior. Um bom deles é o da Coreia do Sul. Embora no Brasil alguns dirigentes
aleguem que mandatos curtos atrapalham a administração e prejudicam o trabalho
a longo prazo, os sul-coreanos são um exemplo flagrante de que a alternância de poder não
impede o sucesso. Desde 1984, o país só não ficou entre as dez primeiras
colocações no quadro de medalhas olímpicas em Sydney, em 2000. Em Londres,
ficaram em quinto lugar. O comitê olímpico local teve oito presidentes, apenas
um deles reeleito.
Fonte: Carta Capital – 06 de out
de 2012
Um comentário:
Meu caro Jairo,
mais uma vez, muito oportuna reflexão para um domingo eleitoral importante no Brasil e na América Latina. Aqui, as eleições municipais em 5.568 municípios brasileiros. A nível continental, a eleição presidencial na Venezuela, que envolve ‘torcida’ de quase todos os países das Américas. Minha homenagem ‘espirituosa’ às eleições está no final.
Como historiador que és, permito anunciar a teus leitores,desde Manaus, anuncio uma Blogada sabática em homenagem a ERIC J. HOBSBAWM (1917-2012) onde escrevo: NÃO SE EXTINGUE O NARRADOR DO NOSSO SÉCULO 20
Mestrechassot.blogspot.br
Com estima,
atticochassot
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