O nosso maior pedagogo, Paulo Freire,
destacou em sua Pedagogia do Oprimido:
“O educador já não é
o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando
que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo
em que crescem juntos e em que os argumentos de autoridade já não valem.
(...) Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si
mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo.”
Inspirados
pelo grande mestre brasileiro da educação, nesta quinta feira passada, dia 24
de janeiro, mais uma atividade pedagógica diferenciada teve lugar na Escola
FACTUM de Ensino Superior e Técnico, em Porto Alegre. Nesta escola
estou atuando como docente na disciplina Gestão de Segurança e Logística, que
é conteúdo integrante do Curso de Especialização em Construção Civil para
alunos já formados e público externo. Na intenção de enriquecer a disciplina,
resolvi convidar a colega Consultora, Gestora Ambiental, Professora e Técnica de Segurança do Trabalho Eveline Theisen Simanke para uma Aula Temática sobre “Acidentes
de Trabalho na Construção Civil e a Dinâmica do Setor”, nome sugerido
por mim neste caso.
Aula Temática na Escola FACTUM |
Explico
porque do nome e da atividade inusitada. Da atividade, creio que sempre é
possível ultrapassar os limites da sala de aula e do cômodo ambiente das quatro
paredes, com personagens severa e rotineiramente posicionados, alunos e
professor. Fico desesperado com este lugar comum e me ponho a pensar como
revolucionar (e porque não dizer "transgredir") um pouco tudo isto. Sobre o título da atividade, “Aula
Temática”, pensei que a ela pudesse ficar agregado o assunto “acidente
de trabalho”, suas causas e a investigação, bem como, a “dinâmica do setor” da
Construção Civil, pois diferentemente do ambiente da Indústria de Transformação
corriqueira, ali não há rotina. Cada dia é uma realidade distinta.
Mas
para tratar desta temática, já que a aula tinha esse intuito, tematizar a
questão acidente de trabalho e a realidade do setor da Construção Civil, eu
necessitava de alguém competente para tal. E não tive qualquer dúvida de que
meu convidado deveria ser a Profª. Eveline.
Fiquei
extremamente satisfeito quando ela, convidada por mim, imediatamente aceitou.
Eu tinha certeza da sua competência e habilidade par esta empreitada.
Eveline ("Nina") é também Consultora em Segurança |
A
Eveline, ou “Nina”, como é conhecida nas obras onde atua como consultora na
área de Segurança do Trabalho, inclusive conduzindo alunos e alunas da Escola
Técnica Cristo Redentor como orientadora de estágio, iniciou sua fala
de provocação com perguntas pontuais: Como Acontecem? Porque Acontecem? Com Quem
Acontecem? Fazia referência aos Acidentes de Trabalho.
Inicialmente
demonstrou o quanto nossa realidade da prevenção está eivada de preconceitos em
relação ao trabalhador, o elo mais fraco da corrente. A primeira pergunta que
surge no momento do evento fatídico normalmente é: “De quem é a Culpa do Acidente?”
Quando deveria ser: “Quais são as Causas do Acidente?”
Na
questão da culpabilidade reducionista, o acidentado é pré-julgado e a ele
atribuído um “descuido” durante as atividades, eliminando dessa forma a
responsabilidade da pessoa jurídica. Eveline relembrou os ultrapassados
conceitos de Ato Inseguro e Condição Insegura como causas de
acidentes.
Para
ilustrar a sua abordagem, destacou alguns acidentes recentes da Construção Civil
ocorridos no Estado e os motivos que os geraram, tais como, quedas, choque
elétrico e soterramento. A cada um deles elencou inúmeras causas, demonstrando
todo seu conhecimento tecnológico e um bom arcabouço de argumentação sobre cada
evento. Citou ainda, com riqueza de pormenores, um Acidente Gravíssimo de
que foi testemunha quando realizava auditoria em um de seus clientes,
salientando inclusive todos os aspectos de segurança que foram negligenciados
pela empresa no desenrolar das atividades, tais como: inexistência de projetos
específicos, economia na aquisição de acessórios adequados e a falta de
treinamento dos trabalhadores entre outros.
Mais
adiante, destacou as características da realidade de um Canteiro de Obras, e as
dificuldades vivenciadas por um profissional Técnico de Segurança do Trabalho
naquele local. Aproveitou ainda para traçar o perfil necessário a estes
profissionais no dia-a-dia destas empresas: a dedicação, a questão ética, a
reciclagem e atualização constantes e o cuidado com os preconceitos.
Prof. Jairo Brasil e Profa. Eveline Theisen |
Por
fim, respondeu a inúmeras perguntas dos presentes e salientou comportamentos
que muitas vezes acometem os profissionais da prevenção, como o descaso, a
incredulidade, a acomodação e o derrotismo. Segundo ela, quem for tomado por
estas situações deve repensar a sua escolha profissional, pois a tarefa de
lidar com vidas humanas não admite tais condutas.
Sem
dúvidas, foi uma noite de muito aprendizado. Todos nós aprendemos muito com a
Eveline e com as questões e reflexões trazidas pelos presentes: alunos, alunas, ex-alunos, ex-alunas e convidados. Isso me faz cada vez mais convencido de que o espaço da sala de aula
deve ser um grande laboratório na busca de novas formas de se fazer a educação,
e de transformar o conhecimento num grande prazer.
2 comentários:
A Nina & ao Jairo, a admiração pela coragem de inovar freirianamente!
achassot
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