Na edição desta
semana resolvo resgatar um artigo que achei interessante, tratando da velhice e
da implicação que sempre teve com a educação. Para tanto, trago um excerto da
psicóloga Rosely Sayão, especialista na área e colunista da Folha de São Paulo. Há muito de verdade na sua exposição, e que seguidamente não nos damos conta.
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Nossa sociedade não valoriza a sabedoria de seus velhos |
Nós não
consideramos os velhos importantes em nossa sociedade. Todos pensamos que é
muito mais importante ser jovem, não é verdade?
A palavra
"velho" foi transformada em um xingamento e passou a ter um caráter
tão pejorativo que não conseguimos mais dizer com naturalidade que alguém é
velho. Procuramos criar outras expressões que consideramos mais apropriadas.
Usamos em substituição, por exemplo, eufemismos como "terceira idade"
ou "melhor idade".
Atualmente, os
velhos estão segregados em espaços que abrigam seus pares, ou seja: outros
velhos.
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Na maioria das sociedades os velhos são segregados |
Realizamos bailes
para a terceira idade, excursões e shows especiais para eles etc. Isso não
deixa de ser uma maneira de nos protegermos da velhice. Quando nós isolamos os
velhos, tornamos a velhice invisível.
Quando não há jeito
de não reconhecer que uma pessoa é velha, sempre há um modo de amenizar a
situação. Afirmar que uma pessoa é "jovem de espírito",
independentemente da sua idade avançada, é um elogio. Para quem diz e para quem
ouve. Nem mesmo os velhos aceitam a própria velhice.
É esse contexto
sociocultural que precisamos considerar ao refletirmos sobre o papel dos avós
na atualidade.
Creio que todo
mundo se lembra do tempo em que as famílias consideravam natural o fato de os
avós mimarem seus netos. Algumas décadas atrás, essa função era valorizada,
inclusive pelos pais das crianças, que não conseguiam esconder seu orgulho
quando "reclamavam" que seus pais mimavam ou estragavam os seus
filhos.
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O exagero dos avós no mimo dos netos já foi uma situação considerada de valor pelos pais |
Era simples assim:
os avós podiam mimar seus netos porque seus filhos --os pais das crianças e
adolescentes-- estavam ocupados demais com a tarefa educativa e não tinham
tempo, portanto, (não me refiro aqui ao tempo cronológico) para satisfazer os
gostos de sua prole.
Hoje, os avós não
podem e nem devem mais mimar seus netos. Isso porque são os pais que, agora, se
ocupam dessa função. É difícil encontrar mães e pais que não tentem, a qualquer
custo, satisfazer todas as vontades de seus filhos, desde as mais simples às
mais complexas e caras --em todos os sentidos.
Pois eu conheço
muitos avós que conseguiram inovar o sentido da palavra "mimar" na
relação com seus netos. Para esses velhos da atualidade, mimar passou a ser
dedicar tempo aos netos e ter paciência com eles.
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Atualmente atividades procuram congregar os idosos, embora esta possa ser uma forma de isolamento |
Contar histórias da
família, lembrar casos que aconteceram com seus filhos, agora adultos, quando
eram pequenos como são os netos agora, fazer relatos sobre a formação do grupo
familiar são meios de passar aos mais novos noções de como é o grupo ao qual
eles pertencem. Isso ajuda a construir vínculos e identidade.
Gastar o tempo com
os netos é o maior mimo que, hoje, os novos avós podem fazer. Esses mesmos avós
lutam com seus filhos para ter um papel mais ativo na educação de seus netos.
Lutam mesmo, já que a maioria dos pais considera invasiva essa postura de seus
pais de querer ajudar a formar as crianças.
Nessa linha da
perda de importância que aconteceu com os velhos em nossa sociedade, os pais
dos mais novos não acreditam que os avós tenham alguma coisa a acrescentar na
educação de seus filhos.
É: querer ter
participação ativa na educação dos netos virou motivo de intensos conflitos
familiares.
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Os avós são importantes na construção dos vínculos e da identidade dos jovens |
Mas esses avós
insistem, porque acham que vale a pena ensinar aos netos que autonomia se
conquista e não se ganha, que ter liberdade é muita responsabilidade, que há,
sim, certo e errado e falso e verdadeiro, entre tantas outras coisas.
Esses avós estão
conscientes de que essa atitude que escolheram adotar é duramente criticada
pelos filhos. Mesmo assim, eles não desistem. É que eles sabem o quanto é
preciosa a boa educação.
Autora: Rosely
Sayão – psicóloga e consultora em educação.
Um comentário:
Meu caro Jairo!
O texto de Rosely Saião se faz valioso, mas a tua seleção Imagetica fala por si especialmente a primeira das fotos (as duas mãos)!
Parabéns a tua editoração!
Attico Chassot
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