A semana que inicia tem uma marca muito
importante, além de despontar o último mês do primeiro semestre de 2013. No dia
5 de junho, próxima quarta-feira, o calendário marca o Dia Mundial do Meio
Ambiente. Tomei o cuidado de não destacar que esse seja um dia comemorativo, pois
é sabido que neste aspecto pouco se tem a comemorar, principalmente pelos absurdos
que se vê na dilapidação dos recursos naturais em nome do consumo da era
pós-moderna.
E para ressaltar esta data, quero trazer aqui
um pequeno excerto de um personagem que para mim se tornou um ídolo, desde que
pude aprofundar um pouco meu conhecimento a respeito de sua obra. Seu nome: José
Antonio Lutzenberger. Lutz, como era conhecido, teve uma trajetória que deveria
ser reverenciada onde se falar da questão ambiental, e principalmente em organizações
e instituições onde se busca preservar o meio ambiente. Não vou aqui destacar
sua vida em defesa da natureza, mas indicar uma leitura fantástica sobre a sua
obra: o livro da jornalista Lilian Dreyer, “Sinfonia Inacabada”. Creio ser uma
obra de leitura obrigatória a todos aqueles que militam pela causa ambiental.
A obra de Lilian Dreyer conta a trajetória de José Lutzenberger |
E todas as vezes que retomo a leitura dos
textos de Lutzenberger fico convencido de que ele foi um homem alem de seu
tempo, pois cada frase, cada reflexão, é passível de ultrapassar o tempo
histórico, tornando-se sempre hodierno em nossa realidade.
Pois bem! Lutz é autor de um artigo que se
tornou famoso já na primeira vez que o utilizou na Universidad de Los Andes (www.uniandes.edu.co), na Colombia. Para mim,
é um primor de construção, e que até hoje tem marcado minha visão a respeito
dos vários aspectos da questão ambiental. Abaixo alguns parágrafos para deleite
de meus leitores. Até no título esse texto foi de grande criatividade por parte
de seu autor. Ele se chama “La bacanal del despilfarro”, e que traduzido para a
língua portuguesa quer dizer “O Bacanal do Esbanjamento”.
Se
a humanidade e a Civilização sobreviverem aos próximos 50 anos, os
historiadores apontarão nossa época como talvez o momento mais anormal de toda
a História do Homem e os biólogos considerarão este o momento mais crítico da
longa História da Evolução Orgânica. Nunca antes o homem pôde comportar-se como
hoje se comporta e nunca no futuro poderá repetir o atual delírio. O
comportamento atual da humanidade pode comparar-se ao do pobre diabo que ganhou
o grande prêmio na loteria e que, sem saber o que é capital e como preservá-lo,
se encontra em plena bacanal de esbanjamento, seguro de que a festa não terá
fim. A Sociedade de Consumo é uma orgia. Como tal ela não terá duração. O
momento da verdade é inevitável. Estamos agindo hoje como se fôssemos a última
geração e a única espécie que tem direito à vida. Nossa ética que não abarca os demais seres,
não inclui sequer os nossos filhos.
Nossa megalomania nos cega diante dos limites das coisas.
Adoramos a quantidade pela quantidade e perdemos de vista os aspectos
qualitativos. Com isto chegamos a uma perfeita inversão de alvos. A tecnologia,
cuja verdadeira função seria a de escravo do homem, já se tornou seu soberano.
Tão cegos e alienados estamos que aceitamos de bom grado esta escravidão. Um
delegado brasileiro nas Nações Unidas, em discussão sobre a problemática
demográfica, ilustrou acertadamente esta atitude ao afirmar que o Brasil
necessita demais população e de maior densidade de população para, note-se bem,
criar mercado para as indústrias de bens de consumo. Não mais a tecnologia para
suprir as necessidades do homem, mas o homem para atender as necessidades da
tecnologia.
Nos alimentos as proteínas, vitaminas e sais minerais foram trocados pelos aditivos químicos |
A atual forma de sociedade industrial, para funcionar
eficientemente, necessita ou crê necessitar de crescimento exponencial
constante. Para manter este crescimento, utiliza um vasto aparelho
publicitário, apoiado em uma maravilhosa tecnologia de comunicações em massa
que, por sua vez, se serve dos mais sofisticados truques psicológicos para
incutir-nos hábitos de consumo que só merecem o qualificativo de
irresponsáveis, hábitos nunca vistos em sociedades anteriores e insustentáveis
no futuro. Apelando à frivolidade, à vaidade e à ânsia de simbolizar status
fictício, criam-se necessidades fúteis e artificiais que em nada contribuem
para a verdadeira felicidade humana e que, muito ao contrário, estão na base de
muita frustração desnecessária.
[...]
A nossa alimentação, que bem mereceria ser tratada como
coisa sagrada, é vista como simples matéria-prima a ser manipulada no interesse
do manipulador, não do consumidor. Pela refinação tiramos do trigo o que de
mais valioso tem, as proteínas, vitaminas e sais minerais e com
“branqueadores”, “estabilizantes”, “antioxidantes”, “corantes” ou
“aromatizantes” e “flavorizantes” sintéticos, damos ao pão, bolos e doces
aspecto vendável. Aquelas poucas pessoas ainda conscientes do verdadeiro valor
dos alimentos, que preferem o pão integral, conseguem evitar um perigo, mas
incorrem noutro. O grão integral traz mais resíduos de pesticidas da lavoura e
do silo. Normalmente estes resíduos saem no farelo e vêm nos atingir
indiretamente através do porco, do ovo ou da galinha. A galinha e o porco, por
sua vez, são encarados como meras máquinas de engorda. Sem falar na crueldade
que significa o maltrato da gaiolinha, em que a ave nem as asas pode abrir, é
bom que o público saiba que as rações “cientificamente balanceadas” para
crescimento e produção máxima, já contem rotineiramente hormônios,
antibióticos, arsenicais e corantes para uma gema bem amarela.
Para Lutzenberger, os frangos e suínos se tornaram máquinas de engorda |
LUTZENBERGER,
José Antonio. Fim do futuro: manifesto ecológico brasileiro. Porto Alegre:
Editora Movimento, 1980. p.36 – 40.
Estes são simples excertos do texto de
Lutzenberger. Quero destacar que possuo o conteúdo completo e posso colocá-lo à
disposição para todos aqueles que se viram provocados ou atraídos por este “aperitivo”.
É só me solicitarem.
Neste dia 05 de junho, Dia Mundial do Meio
Ambiente, José Lutzenberger, que através da AGAPAN, participou do primeiro
movimento para evitar o corte de árvores no Parque Farroupilha, não poderia ser
esquecido.
2 comentários:
Muito estimado Jairo,
nada mais justo e oportuno que neste dia 05 de junho ~~ Dia Mundial do Meio Ambiente ~~ se preste uma reverente homenagem a um dos pioneiros com o cuidado do Planeta entre nós: José Lutzenberger, como este teu blogue faz;
Cumprimentos por esta preciosa edição semanal.
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
Bom dia Jairo, da uma olhadinha no seu e-mail.
Abçs, Roger
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