28 dezembro 2013

A PERSONALIDADE DO ANO



O motivo da última blogada do ano não é copiar a Vênus Platinada na Retrospectiva 2013, como já fiz tempo atrás e nisso sou confessor. Quero neste momento eleger a minha Personalidade do Ano, como fez a senadora Marina Silva na Folha de São Paulo desta semana. E a minha personalidade deste ano fez a classe política toda tremer, e no alvoroço aprovar projetos que estavam engavetados há alguns meses ou anos.

Foi uma polvorosa geral, pois pareciam intermináveis as manifestações que tiveram início em junho e trouxe inquietação geral nas câmaras municipais, nos palácios estaduais e até mesmo no corrompido congresso nacional brasileiro. A população jovem se articulou e foi para as ruas, alguns sem saber direito o que era aquilo. Mas muitos acharam interessante experimentar as possibilidades da liberdade de expressão em um país que, depois de décadas de ditadura, agora desfruta da democracia.
 
O transporte público foi o grande motivo das manifestações
Logicamente, não vou fazer qualquer referencia aqui àqueles criminosos que se infiltraram no movimento para saquear lojas, depredar instituições bancárias e colocar em pânico a população. Estes foram uma minoria capaz de ressaltar um certo despreparo da Segurança Pública em lidar com estas situações. Segurança esta que em alguns casos demonstrou certa conivência com o vandalismo, por vezes em nome da democracia. E isso foi ininteligível para muitos, como o foi para mim. 

Voltando ao verdadeiro movimento democrático de junho, uma das características que mais chamou a atenção foi o apartidarismo que imperou durante todo o tempo. Nenhuma sigla, nenhuma bandeira de organização formal sequer foi aceita. Toda vez que surgiam oportunistas para desfraldar algum ícone que pudesse fornecer personalidade ao movimento, eram de imediato rechaçados. Sequer foram agregados partidos políticos, ONGs, sindicatos entre outros. O movimento era tão acéfalo que tardou ter identificados seus mentores. E até hoje, há dúvidas se realmente foram corretamente identificados. O que se sabe é que o apelo principal, a reivindicação primordial, era a redução do valor e a melhoria da qualidade do transporte público.

A população tomou as ruas reivindicando direitos
Num primeiro momento as prefeituras das capitais, grande parte mancomunadas com a elite do transporte local, se recusava a mostrar as planilhas de calculo para justificar a redução dos preços. Pressionadas por uma multidão reivindicadora, que a cada dia aumentava em número e vozes, não teve outra alternativa. Foi quando se teve ciência de alguns conchavos a portas fechadas, sem que o povo soubesse disso. E o preço das passagens, que antes era impossível ser reduzido, teve até mesmo subsídios dos próprios órgãos públicos. Sem contar ainda alguns empresários que foram instados a investir em veículos novos, tal era a condição precária do transporte público em algumas capitais.

E o mais interessante na articulação do movimento, foi o uso das redes sociais como ferramenta de mobilização. Ferramenta essa que muitos políticos ainda estão em fase de descoberta, e que certamente agora vão procurar se inteirar mais, fazendo cursinhos compactos devido aos riscos que passam a correr caso ignorem esta nova forma de organização popular.     

Como ressalta a ex-senadora Marina Silva em seu artigo desta semana na Folha de São Paulo:

O secretário da Fifa e o conselheiro do comitê da Copa 2014
"As jornadas de junho permanecem como uma presença extra, incômoda para muitos como um fantasma na sala, gerando uma sensação de que os bastidores foram devassados, de que não há mais possibilidade de "votos secretos", de que o reino inteiro está nu. Por mais que os operadores do sistema político tentem restaurar a opacidade na vida institucional, não conseguem escapar aos olhos de um novo sujeito político que, de fora, abre as janelas. Ainda não chegaram a um termo na insistente tentativa de controlar a internet, mas já criaram grandes dificuldades para o surgimento de novos partidos e novas formas de representação política. Não adianta erguer novos muros, todos serão ultrapassados ou derrubados.”

Pois bem. Depois de algumas reflexões sobre a Personalidade do Ano de 2013, não há como não eleger o Povo Brasileiro como um grande agente de mudanças. Mudanças estas que ignoraram a FIFA e sua arrogância através de um secretário capaz de sugerir “um chute no traseiro” ao país pelo atraso nas obras da Copa 2014. Que ignoraram exigências de um organismo cujo representante brasileiro foi capaz de supervalorizar a construção de estádios para o evento, em detrimento de hospitais para atender uma política de saúde caótica.

Fica então a lição, e porque não dizer, o temor. 

O grande temor das autoridades públicas é a volta do movimento
A lição de que nós não queremos tão somente a política do "panis et circenses" da Copa de 2014. Queremos mais! Queremos saúde, segurança, mobilidade urbana, educação. As obras para o futebol país afora mostraram que os recursos existem, basta que sejam aplicados corretamente, e sem desvios. 

Ah! Eu dizia que fica também o temor? Sim! Fica o temor de que, às vésperas do grande evento esportivo mundial, possamos ter um “replay” (como gostam de falar os próprios comentaristas esportivos) de tudo que ocorreu neste junho de 2013. Então, a Personalidade do Ano poderá dizer novamente a que veio. 

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