O motivo da
última blogada do ano não é copiar a Vênus Platinada na Retrospectiva 2013,
como já fiz tempo atrás e nisso sou confessor. Quero neste momento eleger a minha Personalidade do Ano, como fez a senadora Marina Silva na Folha de São Paulo desta
semana. E a minha personalidade deste ano fez a classe política toda tremer, e no
alvoroço aprovar projetos que estavam engavetados há alguns meses ou anos.
Foi uma
polvorosa geral, pois pareciam intermináveis as manifestações que tiveram
início em junho e trouxe inquietação geral nas câmaras municipais, nos palácios
estaduais e até mesmo no corrompido congresso nacional brasileiro. A população
jovem se articulou e foi para as ruas, alguns sem saber direito o que era
aquilo. Mas muitos acharam interessante experimentar as possibilidades da
liberdade de expressão em um país que, depois de décadas de ditadura, agora desfruta da democracia.
Logicamente, não vou fazer qualquer referencia aqui àqueles criminosos que se infiltraram no movimento para saquear lojas, depredar instituições bancárias e colocar em pânico a população. Estes foram uma minoria capaz de ressaltar um certo despreparo da Segurança Pública em lidar com estas situações. Segurança esta que em alguns casos demonstrou certa conivência com o vandalismo, por vezes em nome da democracia. E isso foi ininteligível para muitos, como o foi para mim.
Voltando ao verdadeiro movimento democrático de junho, uma das características que mais chamou a atenção foi o apartidarismo que imperou durante todo o tempo. Nenhuma sigla, nenhuma bandeira de organização formal sequer foi aceita. Toda vez que surgiam oportunistas para desfraldar algum ícone que pudesse fornecer personalidade ao movimento, eram de imediato rechaçados. Sequer foram agregados partidos políticos, ONGs, sindicatos entre outros. O movimento era tão acéfalo que tardou ter identificados seus mentores. E até hoje, há dúvidas se realmente foram corretamente identificados. O que se sabe é que o apelo principal, a reivindicação primordial, era a redução do valor e a melhoria da qualidade do transporte público.
A população tomou as ruas reivindicando direitos |
Num
primeiro momento as prefeituras das capitais, grande parte mancomunadas com a
elite do transporte local, se recusava a mostrar as planilhas de calculo para
justificar a redução dos preços. Pressionadas por uma multidão reivindicadora, que a cada dia aumentava em número e vozes, não teve outra alternativa. Foi quando
se teve ciência de alguns conchavos a portas fechadas, sem que o povo soubesse
disso. E o preço das passagens, que antes era impossível ser reduzido, teve até mesmo subsídios
dos próprios órgãos públicos. Sem contar ainda alguns empresários que foram
instados a investir em veículos novos, tal era a condição precária do transporte público em
algumas capitais.
E o mais
interessante na articulação do movimento, foi o uso das redes sociais como
ferramenta de mobilização. Ferramenta essa que muitos políticos ainda estão em
fase de descoberta, e que certamente agora vão procurar se inteirar mais,
fazendo cursinhos compactos devido aos riscos que passam a correr caso ignorem
esta nova forma de organização popular.
Como
ressalta a ex-senadora Marina Silva em seu artigo desta semana na Folha de São Paulo:
O secretário da Fifa e o conselheiro do comitê da Copa 2014 |
"As jornadas de junho permanecem como uma presença extra, incômoda para muitos
como um fantasma na sala, gerando uma sensação de que os bastidores foram
devassados, de que não há mais possibilidade de "votos secretos", de
que o reino inteiro está nu. Por mais que os operadores do sistema político
tentem restaurar a opacidade na vida institucional, não conseguem escapar aos
olhos de um novo sujeito político que, de fora, abre as janelas. Ainda não
chegaram a um termo na insistente tentativa de controlar a internet, mas já
criaram grandes dificuldades para o surgimento de novos partidos e novas formas
de representação política. Não adianta erguer novos muros, todos serão
ultrapassados ou derrubados.”
Pois bem.
Depois de algumas reflexões sobre a Personalidade do Ano de 2013, não há como não
eleger o Povo Brasileiro como um grande agente de mudanças. Mudanças estas que
ignoraram a FIFA e sua arrogância através de um secretário capaz de sugerir “um
chute no traseiro” ao país pelo atraso nas obras da Copa 2014. Que ignoraram exigências
de um organismo cujo representante brasileiro foi capaz de supervalorizar a construção
de estádios para o evento, em detrimento de hospitais para atender uma política
de saúde caótica.
Fica então a
lição, e porque não dizer, o temor.
O grande temor das autoridades públicas é a volta do movimento |
A lição de que nós não queremos tão somente a política do "panis et circenses" da Copa de 2014. Queremos mais! Queremos saúde, segurança, mobilidade
urbana, educação. As obras para o futebol país afora mostraram que os
recursos existem, basta que sejam aplicados corretamente, e sem desvios.
Ah! Eu
dizia que fica também o temor? Sim! Fica o temor de que, às vésperas do grande
evento esportivo mundial, possamos ter um “replay” (como gostam de falar os próprios
comentaristas esportivos) de tudo que ocorreu neste junho de 2013. Então, a Personalidade do Ano poderá dizer novamente a que veio.
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