Em nome da audiência, emissoras usam e abusam |
Somos vítimas diariamente de uma invasão
televisiva, de muitos personagens ávidos pelos pontos de audiência exigidos
pelo patrocinador. Se não há venda direta oferecendo uma gama infindável de
produtos e serviços, as mensagens e imagens de forma subliminar (sem que se
perceba) são capazes de nos cooptar na aquisição de bens supérfluos ou até
mesmo de descartáveis. Ou seja, coisas sem grande utilidade mas que, por
influencia deste meio, somos instados à aquisição. É o que um professor meu de
graduação dizia tempos atrás: “Se há um curso onde o Diabo faz especialização, este se chama Propaganda e Marketing". Aqui não é intenção minha recriminar quem é ou está em formação na área. Me refiro ao marketing agressivo
que influencia o consumo pelo consumo simplesmente.
Influenciar e convencer. Esse é o papel
deste poderoso veículo de comunicação capaz de adentrar desde as mansões dos
Jardins Paulistas, até mesmo, as favelas da Rocinha, os sertões de Pernambuco e
as aldeias indígenas da Amazônia, via antenas parabólicas. Cerca de
90% dos lares brasileiros sofre a influencia da televisão.
E o que muita gente não sabe é que este
poderoso meio de comunicação de massa é uma concessão do Estado. Ou seja,
regularmente são renovados seus contratos e avaliados em seus conteúdos e
direcionamento do que divulgam. O Estado é responsável por fiscalizar as ações
das emissoras de rádio e televisão naquilo que divulgam e disponibilizam aos
seus consumidores.
Mas a devassidão e a agressividade de
algumas cenas exibidas, até mesmo em horário nobre, é de assustar. São imagens
que instigam a violência, a sexualidade, a arrogância, o egoísmo, a falsidade,
a traição, prá não falar em outros tipos de comportamento. Raras são as cenas
capazes de ensinar atitudes de ternura, gentileza, sinceridade e entendimento.
No tocante a comportamentos negativos e perniciosos, as novelas levam o premio
máximo. Personagens falaciosos capazes de enganar até mesmo o elenco todo, pois
nunca se sabe o que ocorrerá no próximo capítulo. O próprio autor deixa a
sequencia em aberto para poder conquistar a audiência. Com isso, o personagem
que hoje era bom, pode se tornar amanhã num grande vilão. Basta que a audiência
assim o exija, ou o próprio patrocinador da novela.
Outras cenas chocantes também fazem parte
desta miscelânea televisiva. Como o que ocorreu recentemente num desafio dito
“esportivo” das lutas de MMA (Mistura de Artes Marciais), com o lutador
Anderson Silva. Ao desferir um golpe em seu adversário, teve ambos os ossos da
perna esquerda esfacelados instantaneamente, em imagens que puderam ser vistas
mundo afora com estarrecimento. Coisa comum nestas disputas. Basta que se observe
nos finais de semana os confrontos exibidos nos ringues preparados de forma
circense, com espectadores berrando e gritando barbáries nas cercanias do
octógono (local dos confrontos). O público parece descarregar toda sua ira dos
desconfortos diários naquele local.
Quando penso a quantidade de pessoas
visualizando toda esta parafernália, principalmente crianças e adolescentes,
cuja personalidade ainda em formaçao não sabe distinguir o “certo” e o “errado”,
me dou conta do quanto a TV é capaz de influenciar estas cabeças. Sem levar em conta também os aparelhos que dão acesso à internet, e que também é outra discussão à parte.
Recentemente, o deputado José Mentor (PT-SP)
apresentou um projeto de lei que defende a retirada do ar dos programas de UFC
da televisão de canais abertos ou pagos. Segundo ele: “É importante tirar essa
luta da TV, porque a única lição que ela propagandeia a violencia. São golpes
violentos, joelhadas, onde o sangue é o suor, como dizem aqueles que gostam do
MMA”.
Mas é interessante observar que esta
preocupação com a violencia e agressividade das lutas não atinge também a divulgação
de imagens e comportamentos das novelas e outros eventos da grade de
programação das emissoras. E que são, ou deveriam ser, fiscalizados pelas
autoridades públicas responsáveis pela renovação periódica destes contratos.
Espetáculos de erotismo, cenas explícitas de sexo, atitudes agressivas e de
violência são comuns nas novelas do horário nobre, nos Reality Shows (como o
BBB e A Fazenda) e ainda nos Programas de Auditório, cada vez mais sedentos de
audiência.
Está mais do que na hora de se colocar um
freio na forma como a televisão brasileira tem explorado a concessão que o
Estado lhe fornece. Temo que a população telespectadora, em sua maioria jovens
e adolescentes, não possui capacidade crítica para escolher de forma sensata o
que lhe convém. E acredito que há por parte do Estado uma grande
responsabilidade neste sentido, pois este também é um dos motivos responsáveis pela violência que estampa cotidianamente as manchetes de jornais Brasil
afora. Se esperarmos que as próprias emissoras assumam este papel fiscalizador, isso dificilmente ocorrerá. Afinal, não se pode deixar que "o cachorro tome conta da linguiça".
2 comentários:
Meu caro Jairo!
Não há reparo no que dizes acerca da programação da TV! Há, todavia, excelentes programas culturais e científicos!
Não podemos demonizar a TV e sim criticar os proprietários e programadores das redes.
Lamentavelmente eles põem a venda o que é comprado pelos consumidores.
Com admiração
Achassot
Meu caro Jairo!
Não há reparo no que dizes acerca da programação da TV! Há, todavia, excelentes programas culturais e científicos!
Não podemos demonizar a TV e sim criticar os proprietários e programadores das redes.
Lamentavelmente eles põem a venda o que é comprado pelos consumidores.
Com admiração
Achassot
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