Haitianos em grande número começam a ingressar no Brasil |
Desfrutar de um emprego estável, com bom salário,
uma rede adequada de serviços de saúde, educação de qualidade e segurança
pública que permita circular a qualquer hora do dia em todos os lugares é o
desejo de muitos brasileiros. Isso também está na agenda de diversas populações
ao redor do mundo.
Mas e quando o país em que se vive não consegue
proporcionar tudo isso aos seus habitantes?
Ao longo das últimas décadas observaram-se vários movimentos migratórios em busca de melhores condições de vida. E na maioria das
vezes, a Europa e os Estados Unidos foram os destinos mais buscados. Por
exemplo, se recuperarmos na memória algumas notícias sobre as invasões do território
norte-americano (ou estadunidense, como se queira), por parte de imigrantes
ilegais através da fronteira mexicana, veremos o esforço ianque para restringir
estas incursões. Um muro construído a partir de 1994, na chamada Operação Guardião
(Operation Gatekeeper), teve como motivo principal a contenção na entrada de
pessoas ilegais provenientes do México e centro-americanos
oriundos da parte Sul do continente. O mesmo inclui barreiras de
contenção, potente iluminação, detectores de movimentos, equipamentos com visão
noturna, sensores eletrônicos, rádio-comunicação ligados com as bases policiais
de fronteira, e ainda uma vigilância de 24 horas de veículos tanto blindados
como comuns reforçado com os helicópteros armados, ou seja, preparados para
matar.
O muro da fronteira Estados Unidos - México foi construído em 1994, para evitar os imigrantes ilegais |
Na Europa também ocorreram inúmeras
medidas para conter a entrada de populações migrantes das antigas colônias,
principalmente do continente africano, em direção à Itália, França, Portugal e
Espanha. Com isso também se intensificou a “xenofobia”,
uma repulsa ou aversão da população local à presença do elemento estrangeiro. Na
medida em que estes imigrantes, que em sua maioria entram de forma ilegal na
Europa, chegam aos países da região, acirram-se conflitos e protestos contra a
presença dos mesmos. E muitos são os motivos que levam estes estrangeiros a desembarcar
no velho continente. Dentre os mais comuns estão a busca de um emprego estável,
melhores condições de vida e até mesmo um futuro promissor.
O impacto da presença dos
imigrantes nestes países se faz sentir diretamente nos recursos públicos
aplicados para atender a população local. Sistemas de saúde, educação,
segurança, habitação, saneamento e tantos outros acabam sendo inevitavelmente compartilhados,
colocando em situação de risco o que já era uma garantia para os habitantes
locais.
A xenofobia interna no Brasil acomete a população nordestina |
Pois agora, nós brasileiros,
que talvez jamais supúnhamos viver esse problema, estamos a mercê dos fluxos migratórios.
O que era exclusividade de nações ricas, de economias sólidas e bem construídas,
começa a preocupar nossas autoridades. Outrora tivemos fluxos migratórios ao
final do século XIX, na busca do chamado “branqueamento” da raça, uma “eugenia
racial” defendida pela elite brasileira, que justificava a falta de
desenvolvimento pelo excesso de negros e mestiços. E a chegada do imigrante
italiano e alemão, na verdade, acabou contribuindo para o desenvolvimento
nacional.
Mas se uma “xenofobia interna”
também mostrou suas garras no século passado, [e ainda hoje mostra em relação aos
nordestinos que chegaram/chegam a São Paulo] a situação atual traz mais preocupação.
Sutilmente tivemos notícias do ingresso de bolivianos em território brasileiro
e que, ao assumirem postos de trabalho em regime de escravidão de pequenas
oficinas de costura, na capital paulista, acabaram resgatados pelo Ministério Público
do Trabalho. Só assim vieram à tona a exploração destes imigrantes.
Na Europa a xenofobia é motivo constante de charges e cartuns |
Esta semana as notícias
deram conta do fluxo migratório intenso de haitianos através do estado do Acre,
tendo como direção principal a capital paulista também. O envio dos haitianos a
São Paulo, patrocinados pelo governo acriano, deflagrou uma crise entre os dois
governos, com declarações de secretários de ambas as administrações.
Ficam então as perguntas: “O
Brasil está preparado para viver estes fluxos migratórios e saber lidar com
eles? Teremos condições de propiciar os mesmos cuidados de saúde e moradia a
estes “estrangeiros” que ora ingressam no país? Ou teremos de começar a pensar
em políticas restritivas que evitem o colapso dos serviços públicos, aqueles
mesmos que a nós já demonstram insuficiência? Ou ainda teremos de construir muros
na fronteira com os países mesoamericanos para evitar esses ingressos?
Pois bem, parece mesmo que
agora, ”a Europa é aqui!”
Um comentário:
Meu caro Jairo,
quando recebi tua chamada com manchete, imaginava que cantarias loas a nossos 'avanços'.
Mas trazes retrocessos.
Também somos xenófobos. Isto é doloroso.
Com votos de sejam benvindos aos haitianos, cumprimentos pelo blogue desta semana.
A estima e a admiração do
attico chassot
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