26 abril 2014

AGORA, A EUROPA É AQUI!

Haitianos em grande número começam a ingressar no Brasil
Desfrutar de um emprego estável, com bom salário, uma rede adequada de serviços de saúde, educação de qualidade e segurança pública que permita circular a qualquer hora do dia em todos os lugares é o desejo de muitos brasileiros. Isso também está na agenda de diversas populações ao redor do mundo.

Mas e quando o país em que se vive não consegue proporcionar tudo isso aos seus habitantes?

Ao longo das últimas décadas observaram-se vários movimentos migratórios em busca de melhores condições de vida. E na maioria das vezes, a Europa e os Estados Unidos foram os destinos mais buscados. Por exemplo, se recuperarmos na memória algumas notícias sobre as invasões do território norte-americano (ou estadunidense, como se queira), por parte de imigrantes ilegais através da fronteira mexicana, veremos o esforço ianque para restringir estas incursões. Um muro construído a partir de 1994, na chamada Operação Guardião (Operation Gatekeeper), teve como motivo principal a contenção na entrada de pessoas ilegais provenientes do México e centro-americanos oriundos da parte Sul do continente. O mesmo inclui barreiras de contenção, potente iluminação, detectores de movimentos, equipamentos com visão noturna, sensores eletrônicos, rádio-comunicação ligados com as bases policiais de fronteira, e ainda uma vigilância de 24 horas de veículos tanto blindados como comuns reforçado com os helicópteros armados, ou seja, preparados para matar.

O muro da fronteira Estados Unidos - México foi
construído em 1994, para evitar os imigrantes ilegais
Na Europa também ocorreram inúmeras medidas para conter a entrada de populações migrantes das antigas colônias, principalmente do continente africano, em direção à Itália, França, Portugal e Espanha. Com isso também se intensificou a “xenofobia”, uma repulsa ou aversão da população local à presença do elemento estrangeiro. Na medida em que estes imigrantes, que em sua maioria entram de forma ilegal na Europa, chegam aos países da região, acirram-se conflitos e protestos contra a presença dos mesmos. E muitos são os motivos que levam estes estrangeiros a desembarcar no velho continente. Dentre os mais comuns estão a busca de um emprego estável, melhores condições de vida e até mesmo um futuro promissor.

O impacto da presença dos imigrantes nestes países se faz sentir diretamente nos recursos públicos aplicados para atender a população local. Sistemas de saúde, educação, segurança, habitação, saneamento e tantos outros acabam sendo inevitavelmente compartilhados, colocando em situação de risco o que já era uma garantia para os habitantes locais.

A xenofobia interna no Brasil acomete a população nordestina
Pois agora, nós brasileiros, que talvez jamais supúnhamos viver esse problema, estamos a mercê dos fluxos migratórios. O que era exclusividade de nações ricas, de economias sólidas e bem construídas, começa a preocupar nossas autoridades. Outrora tivemos fluxos migratórios ao final do século XIX, na busca do chamado “branqueamento” da raça, uma “eugenia racial” defendida pela elite brasileira, que justificava a falta de desenvolvimento pelo excesso de negros e mestiços. E a chegada do imigrante italiano e alemão, na verdade, acabou contribuindo para o desenvolvimento nacional.

Mas se uma “xenofobia interna” também mostrou suas garras no século passado, [e ainda hoje mostra em relação aos nordestinos que chegaram/chegam a São Paulo] a situação atual traz mais preocupação. Sutilmente tivemos notícias do ingresso de bolivianos em território brasileiro e que, ao assumirem postos de trabalho em regime de escravidão de pequenas oficinas de costura, na capital paulista, acabaram resgatados pelo Ministério Público do Trabalho. Só assim vieram à tona a exploração destes imigrantes.

Na Europa a xenofobia é motivo constante de charges e cartuns
Esta semana as notícias deram conta do fluxo migratório intenso de haitianos através do estado do Acre, tendo como direção principal a capital paulista também. O envio dos haitianos a São Paulo, patrocinados pelo governo acriano, deflagrou uma crise entre os dois governos, com declarações de secretários de ambas as administrações.

Ficam então as perguntas: “O Brasil está preparado para viver estes fluxos migratórios e saber lidar com eles? Teremos condições de propiciar os mesmos cuidados de saúde e moradia a estes “estrangeiros” que ora ingressam no país? Ou teremos de começar a pensar em políticas restritivas que evitem o colapso dos serviços públicos, aqueles mesmos que a nós já demonstram insuficiência? Ou ainda teremos de construir muros na fronteira com os países mesoamericanos para evitar esses ingressos?


Pois bem, parece mesmo que agora, ”a Europa é aqui!”    

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
quando recebi tua chamada com manchete, imaginava que cantarias loas a nossos 'avanços'.
Mas trazes retrocessos.
Também somos xenófobos. Isto é doloroso.
Com votos de sejam benvindos aos haitianos, cumprimentos pelo blogue desta semana.
A estima e a admiração do
attico chassot