A "Leitura Mínima" reduz a capacidade de compreensão |
Um grande exemplo disso são as redes
sociais, cuja economia de conteúdo atrai multidão de conectados, impacientes
com as extensões de parágrafos que aprofundem assuntos. Não que isso seja
inconveniente nestes espaços, pois foram construídos para tão somente “dar
tintas” do assunto. Mas o que se tem visto é cada vez mais uma demasiada
simplicidade redativa, o que leva a efeitos conclusivos nefastos; até porque, "reles leituras" podem resultar em ignorância e, porque não dizer, em injustiças.
Alunos adeptos da leitura se expressam melhor |
Como se não bastasse, a ausência de leituras
também é a grande responsável pela dificuldade de escrita e de argumentação
oral do aluno. Sem a bagagem das leituras, o indivíduo se empobrece de termos e
expressões. O professor competente é capaz de detectar já no primeiro contato a
experiência do aluno com a Leitura. Ao pronunciar as primeiras palavras é
notória a riqueza de vocabulário de quem teve/tem contato com ela. A facilidade
de tratar os assuntos de forma ordenada e com riqueza de detalhes, de se fazer
entender sem muita dificuldade, é uma habilidade do aluno leitor.
A deficiência de leitura se reflete nas respostas de avaliações |
Outro dia eu pedia numa questão de avaliação
sobre Equipamentos de Proteção Individual, os famosos EPIs, qual tipo de
proteção deve utilizar o soldador para que se proteja dos raios ultravioletas
emitidos pela queima do eletrodo. A resposta não podia ser pior! Ao ler fui
tomado de grande surpresa. Estava literalmente assim: “Neste caso o trabalhador
deve utilizar o IPI Máscara de Ferro”.
O aluno confundiu a realidade com a fantasia |
Bem, ao fazer a correção da avaliação em
sala de aula temos de tomar cuidado para não expor o aluno diante da turma. Chamei-o
à parte, fiz a pergunta “In Off” sobre o que ele entendia por IPI? Logicamente
não sabia que era um imposto federal cobrado sobre os produtos
industrializados. Mas ainda foi capaz de me dizer que isso era “tudo a mesma
coisa”. Depois perguntei se havia assistido a todos os filmes do Leonardo Di
Caprio. Me disse que “Não”, no que eu duvidei, pois este foi o ator da última
versão do clássico dirigido por Randal Wallace em 1998. Talvez tendo lembrado
da película escreveu sem pestanejar.
As “leituras mínimas”, como chamo, são
capazes de levar a este tipo de conclusão imediata, sem um aprofundamento do
assunto. E este é o grande perigo para quem busca “qualificação” no intuito de preservar
uma coisa tão importante, a saúde do trabalhador. Sei que minhas ponderações em
relação à importância da leitura muitas vezes são vistas como um certo
“exagero”. Mas não há como interpretar um conteúdo, sem que haja o entendimento
do que aquele autor tinha em mente quando o escreveu.
Aurélio, o dicionário mais conhecido |
Um de meus autores favoritos é Luiz Augusto
Fischer. Natural de Novo Hamburgo, Luis Augusto é filósofo, escritor e professor da UFRGS. Outro dia
estava lendo a respeito de uma das suas últimas obras, Filosofia mínima, em que
o mesmo destaca que esses exercícios intelectuais da leitura, da escrita, do
ensino e da aprendizagem estão cada vez mais fora de moda, e que há necessidade
de se retomá-los. Na obra, Fischer diz que neste mundo fragmentado, cujos
espaços existentes são preenchidos pelas redes sociais, a leitura atenta, reflexiva
e de formação é cada vez mais escassa, e que alguns dos envolvidos nesta questão
tem defendido a adaptação a textos mais breves e curtos para facilitar a
compreensão dessa nova geração. Atitude essa a que o autor é totalmente avesso.
Assim como ele, também sou contra esta “sintetização”
de uma das maiores habilidades do ser humano, o poder de argumentação. E quanto
mais reduzimos nossa aptidão de oratória e de escrita, apelando às chamadas
“leituras mínimas”, mais nos tornamos pobres de espírito e miseráveis na capacidade de
entender o mundo.
Um comentário:
Meu caro Jairo,
Nesta manhã de sábado, quando o jornal que é hegemônico nestas plagas, em seu novo visual deixa de publicar o caderno Cultura faço de teu blogue alternativa.
Sou premiado com teu excelente testo acerca da "não-leitura". Endosso tua análise, inclusive quando afirmas que também entre nós professores grassa esta crise.
Lamentavelmente todos nós estamos lendo menos. A internet não apenas nos rouba horas de leituras em suporte papel, mas nos seduz com uma leitura ligeira e superficial,
Bons tempos aqueles que se pegava um livro e ia lê-ló na rede!
Parabéns pela qualidade da edição e também pelo aniversário do autor.
Com espraiada admiração
Attico Chassot
Postar um comentário