Um dia para ser lembrado e pensado |
O mês de maio já se vai, e o de junho que
entra neste domingo anuncia o ocaso do primeiro semestre de 2014. Impressiona o
voar das horas e dos dias, principalmente num ano com tantos eventos no país.
Mas o mês de junho traz uma marca bastante
significativa, além de neste 2014 trazer o início da Copa no Brasil. O dia 05
de junho é conhecido como o Dia Mundial do Meio Ambiente. Não sei se é da ciência
de todos meus leitores, mas o país passa por profundas modificações em relação aos
resíduos sólidos, ou lixo como alguns possam considerar. Há uma Política
Nacional em andamento que impõe às prefeituras municipais uma nova forma de
lidar com os resíduos sólidos gerados.
Segundo o Ministério do Meio
Ambiente, esta política contém instrumentos importantes para permitir o avanço
necessário no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e econômicos
decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. Prevê a prevenção e a redução
na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos de consumo
sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da
reciclagem e da reutilização dos resíduos sólidos [aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado]
e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos [aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado].
Inúmeras pessoas vivem do que extraem dos resíduos sólidos nas grandes cidades |
Também esta política prevê a eliminação dos
famosos “lixões”a céu aberto, além de propor medidas de planejamento nas
esferas federal, estadual e municipal. As empresas e todos os órgãos geradores deverão
cada um estabelecer seus Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos.
Ou seja, tudo isso pretende contribuir para
melhorias profundas nas questões ambientais, bem como, reduzir ou até eliminar,
quando possível, a utilização dos recursos naturais de forma desmedida. Afinal,
como destaca o teólogo e ambientalista Leonardo Boff: “Há duas formas principais de estarmos presentes no mundo: pelo
trabalho e pelo cuidado. Como seres sem nenhum órgão especializado, à diferença
dos animais, temos que trabalhar para sobreviver. Vale dizer, precisamos tirar
da natureza tudo o que precisamos. [...] Na história humana, pelo menos no
Ocidente, instaurou-se a ditadura do trabalho. Este mais do que obra foi
transformado num meio de produção, vendido na forma de salário, implicando concorrência
e devastação atroz da natureza e perversa injustiça social”.
A chegada dos caminhões é um momento de disputa acirrada |
Por isso mesmo, pude compreender que, acima
dos benefícios trazidos pela nova Política Nacional dos Resíduos Sólidos, temos
consequências da sua aplicabilidade. Foi o que se pode comprovar pelos meios de
comunicação do Distrito Federal esta semana que passou. Dizia uma das
manchetes: “Brasília fechará lixão que sustenta 2 mil”. Ou seja, na eliminação completa
desta forma de acumular resíduos, o resultado poderá ser o de pessoas sem uma
fonte de renda para alimentar-se.
A Estrutural ou o Lixão da Estrutural, como
conheci ainda no período em que morava na capital federal, tornou-se um grande
bairro num primeiro momento. Depois, numa atitude insana e interesseira, como é
de costume da classe política, se transformou creiam, numa cidade, a Cidade Estrutural.
Foi capaz inclusive de decidir eleições, quando potenciais candidatos adentravam
as vielas da favela ali construída, em cima de carros de som para angariar os
votos preciosos da comunidade. Mesmo sem qualquer infraestrutura para a população,
como esgoto e tratamento sanitário, redes públicas de água e eletricidade foram
disponibilizadas.
O Lixão da Estrutural já foi notícia do New York Times |
Houve inclusive um cadastramento dos
catadores, chegando a um total de 1.200. Esse pessoal diariamente “mexe e
remexe” cerca de 2.700 toneladas de resíduos orgânicos e 6 mil toneladas de entulho
da construção civil. No meio de tudo isso, os catadores descobrem objetos
valiosos, e que são disputados acirradamente. A cada caminhão que chega uma
cerca humana rodeia o veículo, onde se procura a melhor posição no momento da
descarga. E isso já foi motivo de inúmeras mortes.
Portanto, se de um lado não há como negar os
benefícios na implantação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, por outro se
pode lamentar que pessoas que extraem desta fonte os recursos parcos para a sobrevivência,
terão agora de buscar outras alternativas.
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