17 maio 2014

OS CUIDADOS COM O DESPERDÍCIO

A quinta-feira em Porto Alegre foi de caos no trânsito
Mês de maio já pela metade, e o junho da Copa se aproximando. Não sem deixar as autoridades públicas de cabelo em pé, pelas grandes possibilidades de confrontos entre manifestantes e os organismos de segurança pública. Ainda nesta quinta sofremos, eu e meus alunos os revezes destas manifestações. Uma aula que deveria iniciar às 18 e 45, só foi possível às 20 e trinta. Transito caótico em toda a avenida Ipiranga, por causa da chuva e vento que derrubou arvores, culminou com o centro da capital interrompido completamente pela passeata na Esquina Democrática.

Mas o maio de 2014 me traz também uma lembrança que é anual, a morte de José Lutzenberger no dia 14 de maio de 2002, que marcou/marca/marcará minha trajetória “ad infinitum”.

O discurso de Lutzenberger ainda é bastante atual
Antes de deixar a capital para morar em outro estado, já havia ouvido falar da importância de seu trabalho, e também li alguns de seus artigos no jornal Correio do Povo, onde escrevia semanalmente. Depois migrou para o jornal Zero Hora, também escrevendo e sendo pauta toda vez que se falava das questões ambientais. Era um crítico incansável das decisões do governo estadual, em pleno período da ditadura, sem o receio das restrições impostas pelo regime.

Mas o conhecimento mais aprofundado da obra de Lutzenberger, de minha parte, se deu quando morava em Brasília e cursei uma especialização em Ciencias Sociais. Foi quando o professor Jose Luiz de Andrade Franco, que orientava meu trabalho de conclusão, sugeriu-me adotar um conterrâneo como tema de pesquisa. Desde então, me senti provocado pelas argumentações de Lutzenberger. Li todas as suas publicações e me converti num defensor do uso racional dos recursos naturais, principalmente naquilo que ele costumava denominar “a farra do desperdício”.

Três desperdícios que fizeram parte de minhas palestras
Quando retornei ao Estado, no ano de 2004, enquanto buscava oportunidades de trabalho, elaborei uma apresentação calcada no tema “desperdício”, me associei aos “Parceiros Voluntários” da região metropolitana. Numa jornada voluntariosa realizei inúmeras palestras de sensibilização em escolas públicas, órgãos públicos, associações de bairros, clubes de rotarianos e leoninos e, até mesmo, empresas privadas, falando do desperdício de água, de energia elétrica e de alimentos. Trouxe dados estatísticos que surpreendiam a grande maioria, e que até hoje estão por aí a comprovar o quanto somos uma sociedade do esbanjamento.

Lembro bem que as crianças ficavam mais interessadas do que os adultos, quando eu falava da importância de se evitar “encher o prato” para depois jogar o resto no lixo. Ainda no desperdício de alimentos, exemplificava com os populares “Café Colonial” e o “Espeto Corrido”, costumes de nossa terra que são excepcionais exemplos de abastança e de falta de responsabilidade no tocante ao consumo.

É possível fazer o teste do vazamento de Água em nossa casa 
A água também, considerada bem público universal, e por isso um recurso controlado pelo Estado, é motivo de grande desperdício. Embora se tenha visto algumas iniciativas governamentais em punir quem dela faz uso desmesurado e irresponsável. Somos um país riquíssimo neste recurso, mas as fontes disponíveis já dão sinal de esgotamento. Por isso, se faz necessário cada vez mais a adoção de uso responsável por parte da população.

E quando eu falava da água, chamava a atenção para o “teste de vazamento” que pode ser feito em casa. Basta que se fechem todas as torneiras e se observe o relógio do medidor. Se houver algum tipo de vazamento, o relógio continuará registrando a vazão. Observava as crianças atentas para levar aos pais a novidade.

A energia elétrica também pode apresentar vazamentos
Também a energia elétrica era um dos temas mais chamativos nestas palestras, quando eu tecia crítica à quantidade de lâmpadas acesas de forma desnecessária dentro de casa, ao tempo de banho excessivo no chuveiro quente e aos aparelhos eletrônicos ligados inutilmente. E também alertava para a possibilidade de vazamento de energia, e cujo teste também pode ser realizado em casa. Basta que se desliguem todos os aparelhos e lâmpadas e se verifique o medidor. Caso continue registrando consumo, o vazamento está constatado.

Todos estes temas tiveram como inspiração inicial meu contato com a obra de Lutzenberger. Sem contar que ele, além das críticas ao esbanjamento destes recursos, falava ainda das embalagens de um só uso e dos produtos supérfluos e descartáveis. Isso que hoje é uma realidade em nosso cotidiano. Basta que se adquira um pequeno equipamento como telefone móvel, ou um ipad ou iphone. Além do essencial, que é o aparelho, se fazem presentes caixas, cabos, manuais, cintas plásticas, etc. Em grande parte todos tem um destino, o lixo.
A indústria do marketing e suas estratégias para aumentar o consumo

Portanto, este maio de 2014 me fez relembrar  os ensinamentos de um grande brasileiro, e que seguem bastante atuais dentro de nossas realidades. Realidade essa onde predomina o consumismo sem controle, e a mídia segue como grande incentivadora da indústria do marketing e, porque não dizer, do desperdício.        

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