A quinta-feira em Porto Alegre foi de caos no trânsito |
Mês de maio já pela metade, e o junho da
Copa se aproximando. Não sem deixar as autoridades públicas de cabelo em pé,
pelas grandes possibilidades de confrontos entre manifestantes e os organismos
de segurança pública. Ainda nesta quinta sofremos, eu e meus alunos os revezes
destas manifestações. Uma aula que deveria iniciar às 18 e 45, só foi possível
às 20 e trinta. Transito caótico em toda a avenida Ipiranga, por causa da chuva
e vento que derrubou arvores, culminou com o centro da capital interrompido
completamente pela passeata na Esquina Democrática.
Mas o maio de 2014 me traz também uma lembrança
que é anual, a morte de José Lutzenberger no dia 14 de maio de 2002, que marcou/marca/marcará
minha trajetória “ad infinitum”.
O discurso de Lutzenberger ainda é bastante atual |
Antes de deixar a capital para morar em
outro estado, já havia ouvido falar da importância de seu trabalho, e também li
alguns de seus artigos no jornal Correio do Povo, onde escrevia semanalmente.
Depois migrou para o jornal Zero Hora, também escrevendo e sendo pauta toda vez
que se falava das questões ambientais. Era um crítico incansável das decisões do
governo estadual, em pleno período da ditadura, sem o receio das restrições impostas
pelo regime.
Mas o conhecimento mais aprofundado da obra
de Lutzenberger, de minha parte, se deu quando morava em Brasília e cursei uma
especialização em Ciencias Sociais. Foi quando o professor Jose Luiz de Andrade
Franco, que orientava meu trabalho de conclusão, sugeriu-me adotar um conterrâneo
como tema de pesquisa. Desde então, me senti provocado pelas argumentações de
Lutzenberger. Li todas as suas publicações e me converti num defensor do uso
racional dos recursos naturais, principalmente naquilo que ele costumava
denominar “a farra do desperdício”.
Três desperdícios que fizeram parte de minhas palestras |
Quando retornei ao Estado, no ano de 2004,
enquanto buscava oportunidades de trabalho, elaborei uma apresentação calcada
no tema “desperdício”, me associei aos “Parceiros Voluntários” da região metropolitana.
Numa jornada voluntariosa realizei inúmeras palestras de sensibilização em escolas
públicas, órgãos públicos, associações de bairros, clubes de rotarianos e leoninos
e, até mesmo, empresas privadas, falando do desperdício de água, de energia
elétrica e de alimentos. Trouxe dados estatísticos que surpreendiam a grande
maioria, e que até hoje estão por aí a comprovar o quanto somos uma sociedade
do esbanjamento.
Lembro bem que as crianças ficavam mais
interessadas do que os adultos, quando eu falava da importância de se evitar “encher
o prato” para depois jogar o resto no lixo. Ainda no desperdício de alimentos,
exemplificava com os populares “Café Colonial” e o “Espeto Corrido”, costumes
de nossa terra que são excepcionais exemplos de abastança e de falta de
responsabilidade no tocante ao consumo.
É possível fazer o teste do vazamento de Água em nossa casa |
A água também, considerada bem público
universal, e por isso um recurso controlado pelo Estado, é motivo de grande
desperdício. Embora se tenha visto algumas iniciativas governamentais em punir
quem dela faz uso desmesurado e irresponsável. Somos um país riquíssimo neste
recurso, mas as fontes disponíveis já dão sinal de esgotamento. Por isso, se
faz necessário cada vez mais a adoção de uso responsável por parte da população.
E quando eu falava da água, chamava a atenção
para o “teste de vazamento” que pode ser feito em casa. Basta que se fechem
todas as torneiras e se observe o relógio do medidor. Se houver algum tipo de
vazamento, o relógio continuará registrando a vazão. Observava as crianças
atentas para levar aos pais a novidade.
A energia elétrica também pode apresentar vazamentos |
Também a energia elétrica era um dos temas
mais chamativos nestas palestras, quando eu tecia crítica à quantidade de lâmpadas
acesas de forma desnecessária dentro de casa, ao tempo de banho excessivo no
chuveiro quente e aos aparelhos eletrônicos ligados inutilmente. E também alertava
para a possibilidade de vazamento de energia, e cujo teste também pode ser
realizado em casa. Basta que se desliguem todos os aparelhos e lâmpadas e se
verifique o medidor. Caso continue registrando consumo, o vazamento está
constatado.
Todos estes temas tiveram como inspiração inicial
meu contato com a obra de Lutzenberger. Sem contar que ele, além das críticas
ao esbanjamento destes recursos, falava ainda das embalagens de um só uso e dos
produtos supérfluos e descartáveis. Isso que hoje é uma realidade em nosso
cotidiano. Basta que se adquira um pequeno equipamento como telefone móvel, ou
um ipad ou iphone. Além do essencial, que é o aparelho, se fazem presentes caixas,
cabos, manuais, cintas plásticas, etc. Em grande parte todos tem um destino, o
lixo.
A indústria do marketing e suas estratégias para aumentar o consumo |
Portanto, este maio de 2014 me fez relembrar os ensinamentos de um grande brasileiro, e que seguem bastante
atuais dentro de nossas realidades. Realidade essa onde predomina o consumismo sem
controle, e a mídia segue como grande incentivadora da indústria do marketing e,
porque não dizer, do desperdício.
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