10 maio 2014

NA IDADE DA RAZÃO

Quando se é criança parece haver uma ansiedade em nos tornarmos adultos. Não é incomum ouvir como resposta das crianças, após perguntadas sobre o que mais desejam no momento, que querem logo se tornarem adultos. Principalmente porque pensam elas que aos adultos tudo é permitido. Pelo menos é o que sonhadoramente supõem.

As primeiras etapas da vida humana se caracterizam pelo desenvolvimento gradativo da personalidade
Depois chegamos à adolescência, fase da contestação de tudo que está estabelecido, principalmente às regras impostas pela sociedade. Aos poucos vamos construindo e desconstruindo nossos heróis. E nessa constante tarefa de reformas muitas vezes nos decepcionamos, não é verdade? Este período é um dos mais importantes de nossa evolução, onde formamos nossa personalidade, e onde nossos valores começam a ser construídos.

Depois a fase adulta nos impõe quantidade enorme de responsabilidades, alem de uma busca incessante pelos sonhos profissionais. Nisso também muitas vezes nos decepcionamos, porque apesar de aconselhamentos e receitas prontas de amigos e colegas, somos instados a seguir nosso ego e nossas convicções.
Alguns consideram a Idade da Razão como aquela mais avançada nos anos

Mas e depois dos 40? E depois dos 50?

Bem, aí, só quem realmente já chegou lá, para falar com mais autoridade, ou, respeitosamente, com um pouco mais de experiência. Muita gente descreve esta etapa da vida como a idade da razão. Tenho minhas dúvidas, porque devemos tomar o cuidado sobre que razoes são estas. Já vi muita gente passar dos 50 e agir totalmente fora da razão, como se ainda fora adolescente em algumas questões.

Mas uma coisa é certa. Depois de mais de cinco décadas de existencia, a vida nos mostra a importancia de tomar decisões tomando por base o acúmulo de experiências. Até porque vale o velho ditado: “Errar é humano. Errar duas vezes é burrice!” Apesar de que, ao se fazer uso da experiência nas nossas decisões, não há qualquer garantia de total sucesso.

Outro dia alunos e alunas me perguntavam na sala de aula, em que faixa de idade eu me sentia mais feliz. Não soube responder, e também evitei o velho pendor de que a fase atual, carregada de experiência, seria a que eu mais gosto. Sou saudoso logicamente de minha juventude permeada por certa irresponsabilidade e, quando a força física me permitia, executar atividades hoje impossíveis. Também os sonhos daquela época me fizeram trilhar caminhos jamais imaginados. Parti na década de setenta de Porto Alegre e só retornei em meados do século XXI. Morei em vários lugares do país, sempre em busca dos meus sonhos e de meus desafios.

Para muitos, os desafios é que tornam a vida mais interessante
Hoje ainda me sinto instigado por desafios, embora os recursos físicos de que disponho façam com que eu descarte uma grande quantidade deles. Meus recursos agora são mais do intelecto, e a estes tenho me dedicado com mais afinco neste momento.

Por isso, creio que os grandes motivadores de nossas vidas são os desafios. Outro dia falava para meus alunos e alunas da importância de nos desafiarmos constantemente. É esse o grande combustível do sucesso e de nossa sobrevivência. Não adianta imputar a culpa de nossos insucessos a outras pessoas. Conheço até gente que culpa os pais por não terem investido em seus filhos. Mas será isso verdade mesmo? Muitas vezes não assumimos nossas responsabilidades.

Agora, quando neste maio de 2014, completo quase seis décadas, tenho tentado ser mais tolerante, mais compreensivo e mais reflexivo, na medida em que sou mais anoso. Mas este julgamento só é completo se for referendado por outras pessoas, para que tenha o devido valor. Ainda acho que muito tenho a melhorar. Por vezes me acomete a tristeza de observar que, embora se tenham passado muitos séculos de evolução da humanidade, o ser humano recorrentemente volta a adotar comportamentos primitivos, da “Lei do Talião”, no surreal linchamento da mulher de Guarujá-SP, no caso do vaso sanitário arremessado em Recife-PE, no cruel assassinato do menino de Três Passos-RS.
 
Debaixo do Viaduto Obirici, a jornaleira se alegre
na distribuição diária dos periódicos
Mas também admiro pessoas que vivem de bem com a vida, apesar da idade avançada. Como aquela senhora que encontro semanalmente debaixo do Viaduto Obirici, distribuindo sorrisos e o jornal gratuito por entre os carros ali no semáforo. De todos os dias que ali passei nunca a vi tristonha ou reclamando de sua tarefa. Me faz bem a maneira empolgada como encara a vida todas as manhãs. Ainda não consegui saber seu nome, pois sempre o semáforo abre quando vou inquiri-la a respeito.

Neste sábado, pré Dia das Mães, abria as redes sociais e via a postagem da ex-colega de Mestrado na Unisinos, Eluza Flores, de Montenegro. Me aposso agora do texto trazido pela Eluza, com sua permissão, de autoria do educador e escritor Rubem Alves, como forma de encerrar esta edição e trazer uma reflexão final de tudo que escrevi. Tenho certeza de que é um texto procedente e faço minhas as palavras do autor.

“Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltavam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. (...) Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que, apesar da idade cronológica, são imaturas.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora...

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena. Basta o essencial!”

Ruben Alves


4 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
Há uma frase atribuída a vários autores, inclusive a Rita Levi-Montalcini, que te encantou esta manhã no meu blogue.
NÃO QUERO MAIS DIAS DE VIDA, MAS MAIS VIDA EM MEUS DIAS.
Esta a inspiração que me trazes nesta tua blogada.
Nesta quarta e quinta poderia almoçar contigo. Semana que vem estarei ausente.
Saudades
attico chassot

Vagalumeazul disse...

O texto a Idade dos Maduros pertence ao poeta angolano Mario Pinto de Andrade.

SilD

Vagalumeazul disse...

O texto a Idade dos Maduros pertence ao poeta angolano Mario Pinto de Andrade.

SilD

Anônimo disse...

Olá, quero mencionar que o texto "A Idade dos Maduros" é do poeta angolano Mario Pinto de Andrade.

SilD