02 agosto 2008

A TRANSFORMAÇÃO PELA EDUCAÇÃO

Minhas leituras preferidas são aquelas relacionadas à educação. Sempre que posso estou em contato com essa literatura. Talvez seja isso que cada vez mais tem me impulsionado ao gosto pela docência. Atualmente, a cabeceira de minha cama recebeu a companhia saborosa de "Ciência, ética e cultura na educação", uma obra editada em 1998 pela Unisinos, organizada pelos professores Attico Chassot e José Renato de Oliveira, e que reúne produções de vários educadores brasileiros. Ao refletir sobre seu conteúdo vejo que nosso papel enquanto educadores é cada vez mais o de transformar indivíduos, tornando-os mais sensíveis com as questões culturais e sociais, principalmente no sentido de transformar este mundo, e transformá-lo num mundo melhor, como diz o professor Chassot.

Muito ainda terá de ser feito em nosso país para atingirmos a plenitude na educação. A exclusão de grande contingente de cidadãos das possibilidades educadoras é que tem feito com que alguns aspectos de nossa sociedade sejam precários, saúde e segurança principalmente. E quando me refiro à saúde, estou me referindo à saúde mental inclusive. E neste aspecto as drogas possuem interferência direta. Um exemplo recente está repercutindo na mídia nacional: o esquartejamento esta semana de uma estudante britânica por um adolescente brasileiro adepto das drogas.

Se me permitem a reflexão, certamente na vida deste adolescente algum educador ou educadora esteve presente. Mas, qual terá sido a importância destes docentes na vida dele? No momento em que com ele estiveram, estes docentes possibilitaram diálogo e reflexão? É lógico que a educação é mediada não só pela escola, mas também pelo ambiente familiar. E em ambos espaços o diálogo é essencial. Talvez aí resida alguma perspectiva de transformação do comportamento adolescente. O engenheiro e professor Joal Teitelbaum, diretor do PGQP e palestrante esta semana no V Congresso Íbero Americano da Qualidade na Educação, em Porto Alegre, relembrava que Pitágoras ficara conhecido tão somente por seu teorema. Mas poucas pessoas sabem que o destacado matemático era um dedicado educador, e dele é a sábia frase: "Educai as crianças e não será preciso punir os homens". Vejam! Isto foi dito entre 571 e 497 antes de Cristo. Parece que realmente não aprendemos a prioridade que deve ser dada à educação.
Chamo a atenção para que o diz Chassot (1998), ao refletir sobre o conservadorismo de muitos de nós na tarefa docente. Diz ele que:

"Continuamos praticando a mesma artesania de então. Damo-nos conta quanto somos conservadores no nosso fazer profissional e, se nos quisermos absolver, diremos que a Educação sempre se fez, e ainda sefaz com fortes amarras no conservantismo. Digo, com uma dose de exagero que, se Anchieta, um dos iniciadores da escola no Brasil há mais de 400 anos, entrasse hoje em nossas salas de aula, teria poucas surpresas." (p. 80)

Nos últimos tempos tenho atuado em diversas escolas técnicas da região metropolitana de Porto Alegre, além de treinamentos ministrados In Company em empresas locais. Nota-se por parte dos alunos e treinandos uma busca incessante de conhecimentos que os capacite atuar profissionalmente. Mas, infelizmente, nota-se também uma busca "utilitarista" dos conteúdos técnicos, sem qualquer preocupação com o espírito crítico e o papel social e cultural a ser desempenhado pelo futuro profissional, e que muitas vezes adiciono nas aulas ou treinamentos. Não raro estes conteúdos são rejeitados pelos educandos sob a argumentação de que pouco lhes serão úteis no desempenho da profissão. Talvez este tenha sido o maior motivo da transformação de muitos de nós docentes em meros "informadores", tornando nossos alunos "depositários" destes conteúdos, tal qual a visão bancária da educação de Paulo Freire.

Minha expectativa é de que um dia consigamos tornar a educação mais interdisciplinar, mais transformadora e mais reflexiva. Sei que o mercado de trabalho necessita profissionais de capacidade para o desenvolvimento das empresas e para o progresso do país. Mas, também a sociedade necessita de cidadãos mais responsáveis, mais éticos e mais comprometidos com as necessidades de nossas comunidades. Temos de olhar mais para o nosso entorno e admirar menos nosso umbigo, pois há muito ainda por fazer. Talvez então possamos conviver de forma mais harmoniosa e sem a brutalidade dos crimes que hoje nos deixam chocados.

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