Mas a prova, além de não ter essa finalidade, deve ser um momento importante de aprendizagem para o aluno e de eficiente avaliação docente. É através dela que se pode verificar a dedicação dispensada pelos discentes aos estudos e a competência daquele que é responsável pela formação cidadã do indivíduo. Nunca a prova deve servir como um acerto de contas.
O que deve o professor então buscar no aluno através das provas? Buscar saber se o aluno está desenvolvendo competências que o levem à independência. Essa é na verdade a grande responsabilidade do profissional docente. Mas e o que são competências? De acordo com o sociólogo suíço Philippe Perrenoud, “são as capacidades do sujeito de mobilizar recursos cognitivos visando resolver situações complexas”. É a aquisição destas capacidades que fazem o individuo cada vez mais livre em sua trajetória, tanto profissional quanto de cidadão.
Por isso, devemos estar cientes de que a “educação bancária”, segundo a concepção freiriana, não possui mais espaço nos tempos atuais. Neste tipo de educação, segundo Paulo Freire, o conhecimento é um conjunto de verdades de natureza ontológica, em que o professor é o “transmissor” do conhecimento, e o aluno é o “receptor”, repetidor das mesmas.
Diferentemente, a educação na perspectiva “construtivista sociointeracionista” não aceita o conhecimento como uma descrição do mundo. Nesta concepção ele é uma representação que o sujeito faz do mundo que o cerca. Diz-se então, que todo o conhecimento é uma construção individual, resultante das experiências do sujeito, em sua interação com o mundo físico e social que o rodeia. No caso, o aluno é um construtor de representações significativas contextualizadas, onde o professor está presente como mediador, facilitador e catalisador do processo de aprendizagem.
O professor Vasco Moreto em sua obra “Prova: momento privilegiado de estudo”, destaca que: “o professor não é o transmissor de um conhecimento, e sim aquele que prepara as melhores condições para que a sua construção se efetue. É importante ressaltar que o aluno elabora suas representações a partir das próprias experiências anteriores, que certamente serão diferentes para cada aluno. Essa idéia mostra que a mesma informação recebida por diferentes alunos poderá se transformar em representações distintas” (p. 38)
Então, é necessário que a avaliação seja mais ampla do que somente a prova. Há que se observar outras formas de expressão do aluno, de representações, de experiências acumuladas. Se utilizar somente da prova como uma forma de avaliar o aluno é deixar de valorizar outras experiências, outros contextos, outras construções. Pior ainda é se utilizar da prova como uma forma de vingança, de acerto de contas.
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