25 outubro 2009

SEREMOS CAMPEÕES MUNDIAIS NOVAMENTE?

Embora o esforço empreendido na fiscalização das obras que ocorrem por toda parte no país, a construção civil continua batendo seus recordes em termos de acidentes de trabalho. Recentemente conversei com um auditor-fiscal da Superintendência do Trabalho do RS e me dizia ele que a atuação da fiscalização tem sido intensificada ano a ano na área. Todavia, o número de irregularidades supera o contingente fiscalizador. A Norma Regulamentadora 18 melhorou significativamente os canteiros de obras, mas muitas atividades ainda acontecem irregularmente, sem que as condições mínimas sejam atendidas. O Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Construção Civil é exigido para todo o tipo de atividade que envolva mais de 20 trabalhadores. Entretanto, muitas obras e reformas de pequeno porte não tem levado a legislação a sério, onde também o improviso é fator preponderante como motivo de acidentes fatais.

Na última quarta-feira, dia 21 de outubro, mais dois operários foram vítimas de acidente de trabalho fatal na construção civil na Serra Gaúcha. Gelson Antônio da Silva, 36 anos, e Alcemir Carlos Pedroso, 38, foram soterrados quando trabalhavam na escavação de um barranco com mais de sete metros de altura. As mortes foram confirmadas pelo Corpo de Bombeiros de Caxias do Sul. O acidente ocorreu por volta das 14h na rua 20 de setembro, no centro da cidade. A rua ficou interditada durante toda a tarde. As vítimas e outras quatro pessoas preparavam o terreno para a construção de um muro de contenção. Os bombeiros tiveram dificuldades para retirar os corpos, devido à grande quantidade de terra. A operação levou mais de uma hora e meia.

De acordo com o delegado Vitor Carnaúba, responsável pela investigação das causas do acidente, as casas vizinhas à construção também foram interditadas pelos Bombeiros. Carnaúba afirma que investigações preliminares apontam que os moradores vizinhos já haviam reclamado da obra. O delegado diz que o inquérito será realizado com base nos laudos dos bombeiros e do IGP.
“Nós vamos aguardar agora, enquanto procedemos as oitivas dos responsáveis pela obra, do engenheiro responsável, do dono da obra e outras testemunhas que nós localizarmos. Também vão chegar, as perícias realizadas pelo IGP, o relatório dos Bombeiros e da Delegacia do Trabalho. Com base nesse material, a gente vai conseguir ter uma noção do que aconteceu e apurar as responsabilidades’, afirma.

O acidente em Caxias do Sul revela os riscos da profissão e confirma os dados estatísticos das últimas décadas. O Brasil que já deteve o desonroso título de Campeão Mundial de Acidentes de Trabalho, títuloo este motivado pela construção civil durante o Milagre Brasileiro da ditadura militar, pode novamente retomar o troféu. Basta que o descaso continue durante as obras para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.

Conforme o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Construção Civil, Antônio Olírio dos Santos, o sindicato visitou a obra na semana anterior e verificou que o local era perigoso. Além da tragédia prenunciada, o que mais impressiona é a declaração do presidente do Sindicato quando perguntado sobre o fato: “A gente esteve semana passada na obra e verificou ali com os funcionários a situação deles na obra. Nós enxergamos o risco de vida. A gente viu aquele barranco de cinco metros de altura de terra frouxa e pura. Ali se encontrava um Cemitério anteriormente. Eu fiquei preocupado e disse para os trabalhadores se cuidarem”.

Parece que o descaso também tem acometido algumas instituições que deveriam zelar pela vida de seus associados.

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