Pra quem assiste diariamente aos jornais da RBS TV, afiliada das mais antigas da Rede Globo, uma ausência pode ter sido notada há mais de mês, a de Ana Amélia Lemos; a jornalista e ex-atriz que estreou no cinema na década de 1970, interpretando a mocinha do filme “Não Aperta Aparício!”, e que se casava com José Mendes ao final da trama. Sabem por onde ela anda? Pra quem não sabe, afastou-se da televisão porque vai ser candidata nas próximas eleições pelo PP, Partido Progressista. E não é pouca coisa o cargo que almeja: simplesmente quer ser Senadora da República pelo estado do Rio Grande do Sul.
Pois quero expressar minha opinião sobre esses candidatos de ocasião. Não é de hoje que locutores e animadores de programas de rádio e televisão se utilizam dos meios de comunicação para se tornarem conhecidos e alçarem vôos na vida política. Também é costumeiro se observar candidatos ligados ao futebol conquistarem a simpatia dos eleitores, na verdade, por questões que nada tem a ver com a ciência política. Sem falar dos pastores envolvidos na política. Mas isso é coisa prá outra blogada, pois a polêmica também prepondera na questão religiosa. Vamos manter o foco.
Se uma pesquisa for feita no passado de grande maioria dos políticos que hoje se inserem na vida pública brasileira, talvez chegássemos a um numero próximo dos 50% oriunda desses dois meios, a mídia e o futebol. Alem disso, é sabido que grande maioria dos atuais deputados e senadores são detentores de concessões federais de rádio e televisão e, dessa forma, com o poder da mídia nas mãos, se perpetuam nos cargos públicos, fazendo da vida pública uma profissão. Vide aqui, por exemplo, o deputado Paulo Borges, homem do tempo na RBS e que hoje ocupa cargo público relevante, com pouca expressão se observado mais aprofundadamente. Outra expressão da mídia regional, eleito pelo voto popular gaúcho, o senador Sergio Zambiazi, também foi animador de programas onde distribuía cadeiras de rodas e ajudas humanitárias, e hoje se consolida na profissão de político. O clã Mendes Ribeiro também se perpetua na política representativa regional, aproveitando-se do uso da mídia desde os tempos da consolidação da família Sirotsky. Um outro político oriundo da mídia que fez história por aqui, e que o gaúcho certamente não esquece, principalmente quando paga os pesados pedágios das rodovias, é Antonio Brito. Do futebol podemos citar o deputado Paulo Odone (ex-dirigente do Grêmio) e Luiz Fernando Záchia (ex-dirigente do Internacional). Aliás, por falar em futebol, esses políticos passam grande parte de seus mandatos aprovando homenagens aos seus clubes, pelos quais se elegeram, e aos seus dirigentes, como forma de se manterem à vista do eleitor / torcedor (vide imagens). Vejam o quanto a exposição na mídia acaba por influenciar o eleitorado no momento do escrutínio.
Sabe-se que o Estado gaúcho nos últimos anos tem sido contemplado com recursos públicos escassos pelo governo federal, vítima de uma representatividade pífia e inexpressiva no Congresso Nacional. Não há dúvidas de que a fraqueza dessa representatividade está diretamente relacionada com os candidatos eleitos pelo voto popular, para os cargos de Deputado Federal e Senador. Pois esses cargos soa extremamente relevantes nas decisões a nível nacional.
Os acordos feitos em Brasília têm beneficiado essencialmente os estados do Norte e Nordeste, fazendo com que o peso político dessa região seja ampliado cada vez mais. É só prestar atenção nas edições dos noticiários nacionais, para ver quem mais aparece na tela da mídia justificando e ocupando espaço. São raras as aparições de representantes locais. Não há aqui pretensões de separatismo ou de criticar a atuação dos políticos da região Norte e Nordeste, pois fazem o seu papel adequadamente e defendem os interesses de quem os elegeu. Mas, e as nossas reivindicações? Como ficam?
Ou seja, até quando vamos eleger candidatos que não possuem referência e passado que possam justificar nossa escolha pelo voto? Será que durante mais algumas décadas continuaremos elegendo esses candidatos de ocasião, que se valem da exposição proporcionada pelo futebol, pelas ondas do rádio e pelas imagens da televisão?
Convido-os a uma reflexão maior: “Será que não temos candidatos que verdadeiramente representem o Estado no Congresso Nacional, a não ser essas estrelas que se nos impõem corriqueiramente a mídia e o futebol?" Não se pode confundir uma questão de extrema responsabilidade, como a política, com um esporte concebido para lazer e diversão. Assim como, o lazer e a diversão proporcionado pelo radio e televisão. Convenhamos, porque depois da decisão tomada, não nos cabe lamentar a falta de recursos públicos para duplicar uma BR-101, para construir uma saúde pública decente, para melhorar a política de segurança pública estadual e para resgatar uma educação transformadora em nossas escolas.
Se tudo isso não está acontecendo, e o Estado dá mostras de que está em decadência e se dirige para o caos, não culpemos os maus políticos, culpemos aqueles que não sabem fazer uso da arma que possuem: o voto.
A decisão é sua! O alerta é meu!
2 comentários:
Meu caro Prof. Jairo,
cumprimento-o pela análise acerca dos políticos de ocasião, com destaque para o mais recente produto midiático oferecido a senadoria gaúcha. Permito-me acrescentar às duas fontes trazidas (futebol e mídia, onde há os dublês: candidatos pelas duas vertentes como ‘comentaristas’ esportivos) uma terceira: os messiânicos produzidos pelas igrejas, especialmente as neo-pentecostais, que prometem até cadeiras (de rodas) no reino dos céus.
Com admiração
attico chassot
Apropriada e sensata observação, que saudades da nossa OSPB (Orientação Social Politica Brasileira)mas enquanto ela não volta, vamos estudando a história então, assim teremos um pouco mais de opções na escolha de nossos representantes e possivelmente faremos escolhas mais positivas.
M.Granatto
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