19 dezembro 2010

O LIXO NOSSO DE CADA DIA

Mais um período de Festas e, logo a seguir, férias escolares acompanhadas de recessos trabalhistas. Um momento de festejar, momento de rememorar bons e maus momentos do que passou em 2010. Mas, devem concordar comigo: momento de muito consumo, e por conseqüência, muita produção de lixo. E o lixo produzido nestas festas, feriados e férias muitas vezes não tem a destinação adequada. Basta que se observe em volta as calçadas e terrenos baldios, principalmente em nosso litoral. A areia da praia é muitas vezes o celeiro de garrafas pet, saquinhos plásticos, papeis de picolé entre outros.

O mau exemplo já começa no caminho para a praia.

Este final de semana fui visitar meus pais no litoral, onde sempre no verão recuperam a casa de praia para esperar ansiosamente filhos e netos. Já na RS 040 que dá acesso ao litoral mais próximo, uma quantidade enorme de veículos se desloca toda sexta e sábado em busca de clima mais ameno nos dias quentes do verão. E muitos destes veículos não consegue circular sem deixar seu rastro na rodovia. São papéis de bala e chicletes, garrafas plásticas, pontas de cigarro e outros objetos. Motoristas irresponsáveis que não são capazes de pensar coletivamente. O que interessa é resolver “o meu problema” e o mundo é “meu cesto de lixo”. E assim seguem emporcalhando o espaço público como se não tivessem qualquer compromisso com ele. Aqui não quero de todo culpar essas pessoas, pois como educador acredito piamente que não tiveram a oportunidade de aprender ainda na família a importância de conservar esse espaço público, e que será desfrutado por seus próprios descendentes.

O que mais preocupa mesmo é o pensamento consumista que assola nossa população, imposto por uma lógica mercantilista bem própria da sociedade pós-moderna do século XXI. Há cerca de três anos escrevi um artigo sobre a questão do lixo produzido por nós e a “Política dos Três Erres”, reduzir, reutilizar e reciclar. Discordava nesse artigo com as ações empreendidas em algumas escolas para educar nossos alunos, pois certos professores ao invés de incentivar e postular a redução do consumo ou a reutilização dos restos de materiais, já partem diretamente para a reciclagem do lixo, como uma única alternativa na educação ambiental. E daí seguem para aulas de produção de joguinhos, quadros, tapetes, cortinas, tudo produzido a partir de tampinhas, garrafas plásticas e outras parafernálias. Ao invés de educar para redução do consumo, a educação ambiental no Ensino Básico tem fruído para esse tipo de abordagem; uma tarefa improdutiva numa idade onde o aprendizado é facilitado pela boa receptividade.

Agora se observa outra vez que o caminho mais curto é o mais fácil.

É o que denuncia o jornalista e ambientalista Washington Novaes:

Mais uma capital brasileira, Brasília, ameaça embarcar na última moda nacional em matéria de lixo, que é a implantação de usina de incineração – embora seu Plano Diretor de Resíduos Sólidos, um decreto de 2008, não contemple essa possibilidade. Mas o fato é que o governo distrital já baixou resolução convocando empresas interessadas a apresentar projetos de parceria público/privada para essa área. Brasília junta-se, assim, a São Paulo, Rio, Recife, Belo Horizonte e outras grandes cidades – o que significa pelo menos 50 mil toneladas diárias, que, ao preço médio de R$30 por tonelada incinerada (a cotação no DF), poderão significar no mínimo R$1,5 milhão por dia.

Abriu-se a porteira e agora a boiada das incineradoras nas capitais vem em passos celerados. No Rio de Janeiro, a própria Universidade Federal prepara o projeto para parte das 9 mil toneladas diárias de resíduos geradas. Em Recife, pretende-se implantar uma usina para 1.350 toneladas diárias, ao custo de R$308 milhões para a implantação e concessão para 20 anos, cobrando quase R$30,00 por tonelada (fora os custos da coleta e transporte). São Paulo também discute a possibilidade de implantar um projeto dessa natureza.
E assim vamos, sob os pretextos de que custa muito caro implantar aterros e que se pode gerar energia na queima. Com essas lógicas, talvez chegue o dia em que se chegue perto de incinerar todas as 230 mil toneladas diárias coletadas no país – afinal, os espaços urbanos se encurtam e encarecem.

Ou seja, da mesma forma que aquele motorista que acessa a RS 040 em direção ao litoral no final de semana, se desfazendo de seus resíduos pela janela do carro, administradores das principais capitais brasileiras buscam soluções imediatas que facilitem se livrar desse incomodo passivo que atormenta a sociedade em cada parte onde hajam populações e comércio. Além de ser uma solução perniciosa, em termos de reduzir a cinzas materiais potencialmente aproveitáveis, há ainda a produção de poluentes na sua queima, o que também é denunciado por Novaes.

Além do mais, é solução muito cara, desperdiçadora de materiais (no lixo recolhido, chega até a 90% a porcentagem de materiais reutilizáveis ou recicláveis) e perigosa, por causa das emissões danosas para a saúde humana, a começar por dioxinas e furanos, na queima de materiais orgânicos (que no Brasil são mais de 50% do total), além da liberação de metais pesados e outros poluentes. E também é um processo irreversível, que exigirá sempre mais lixo, em lugar de contribuir para sua redução (na Europa, que não tem onde implantar aterros, novas usinas de incineração exigem contratos de até 40 anos).

Se não nos conscientizarmos sobre o papel que desempenhamos nessa cadeia decisória de consumo e desperdício, principalmente com relação aos supérfluos e descartáveis, cada vez mais estaremos à mercê da escassez dos recursos naturais que o planeta levou milhões de anos para disponibilizar a uma geração cujo consumo ultrapassa quatro vezes o estoque existente. Pense bem!!!

3 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo e demais colegas que recebem este alerta:
numa admirável coincidência de blogada dominical, permito-me anunciar que a Revista Competência do SENAC, neste número de dezembro publica o artigo PARA FORMAR JARDINEIROS PARA CUIDAR DO PLANETA que conclui assim:
Encerro com aquele que é o primeiro e mais significativo problema ambiental. A minimização da fome. Esta ação começa pela minimização do desperdício. Jairo Viera Brasil (2008) mostra o quanto colocamos bens de valor (= comida) fora. Primeiro são as sobras de nossas mesas. Há uma ou duas gerações as famílias tinha um porco ou galinhas que recebiam as sobras. A lavagem era a primeira água passada nos pratos que se destinavam os animais.
Hoje, as sobras, embaladas cuidadosamente, certamente encontrarão destinatários. Para as sobras de restaurantes seria necessário que houvesse revisão em determinações que impede os restaurantes de destinar a comida limpa (não necessariamente restos, mas sobras) para entidades beneficentes (creches, asilos...). Outro local de desperdício de comida de qualidade são as salas VIPs de aeroportos, especialmente quando tem terceirizados diferentes. Na troca de turno de um para o outro se coloca no lixo alimentos, sem que mesmo os serviçais possam levá-los.
A referência a restaurantes enseja a condenação de duas práticas muito correntes, em especial no Rio Grande do Sul, que se constitui em um esbanjamento de alimentos que deveriam ser proibidas em um país, onde tantos passam fome: os espetos corridos e os cafés coloniais. Quando recebo forasteiros, se acaso manifestem desejo de conhecer estas incivilidades pantagruélicas, ou os dissuado ou não os acompanho.
Acredito que tenha ajudado a preparar alguns canteiros para ajudar formar jardineiros para cuidarmos melhor do Planeta. Este é propósito deste texto. Só valerá a pena se junto conseguirmos. Vale tentar. Nossos filhos e netos agradecerão.
BRASIL, Jairo Vieira. A noção do desperdício: narrativas de uma visão docente em três níveis do ensino básico. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Unisinos, 2008.
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo e demais colegas que recebem este alerta:
numa admirável coincidência de blogada dominical, permito-me anunciar que a Revista Competência do SENAC, neste número de dezembro publica o artigo PARA FORMAR JARDINEIROS PARA CUIDAR DO PLANETA que conclui assim:
Encerro com aquele que é o primeiro e mais significativo problema ambiental. A minimização da fome. Esta ação começa pela minimização do desperdício. Jairo Viera Brasil (2008) mostra o quanto colocamos bens de valor (= comida) fora. Primeiro são as sobras de nossas mesas. Há uma ou duas gerações as famílias tinha um porco ou galinhas que recebiam as sobras. A lavagem era a primeira água passada nos pratos que se destinavam os animais.
Hoje, as sobras, embaladas cuidadosamente, certamente encontrarão destinatários. Para as sobras de restaurantes seria necessário que houvesse revisão em determinações que impede os restaurantes de destinar a comida limpa (não necessariamente restos, mas sobras) para entidades beneficentes (creches, asilos...). Outro local de desperdício de comida de qualidade são as salas VIPs de aeroportos, especialmente quando tem terceirizados diferentes. Na troca de turno de um para o outro se coloca no lixo alimentos, sem que mesmo os serviçais possam levá-los.
[...]
Acredito que tenha ajudado a preparar alguns canteiros para ajudar formar jardineiros para cuidarmos melhor do Planeta. Este é propósito deste texto. Só valerá a pena se junto conseguirmos. Vale tentar. Nossos filhos e netos agradecerão.
BRASIL, Jairo Vieira. A noção do desperdício: narrativas de uma visão docente em três níveis do ensino básico. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Unisinos, 2008.
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo e demais colegas que recebem este alerta:
numa admirável coincidência de blogada dominical, permito-me anunciar que a Revista Competência do SENAC, neste número de dezembro publica o artigo PARA FORMAR JARDINEIROS PARA CUIDAR DO PLANETA que conclui assim:
Encerro com aquele que é o primeiro e mais significativo problema ambiental. A minimização da fome. Esta ação começa pela minimização do desperdício. Jairo Viera Brasil (2008) mostra o quanto colocamos bens de valor (= comida) fora. Primeiro são as sobras de nossas mesas. Há uma ou duas gerações as famílias tinha um porco ou galinhas que recebiam as sobras. A lavagem era a primeira água passada nos pratos que se destinavam os animais.
Hoje, as sobras, embaladas cuidadosamente, certamente encontrarão destinatários.[...]
Acredito que tenha ajudado a preparar alguns canteiros para ajudar formar jardineiros para cuidarmos melhor do Planeta. Este é propósito deste texto. Só valerá a pena se junto conseguirmos. Vale tentar. Nossos filhos e netos agradecerão.
BRASIL, Jairo Vieira. A noção do desperdício: narrativas de uma visão docente em três níveis do ensino básico. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação. Unisinos, 2008.
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com