11 dezembro 2010

OUTRA VEZ, A EDUCAÇÃO AGREDIDA

Nessa semana somos surpreendidos por notícia nada alvissareira na relação professor-aluno: "Professor morre assassinado por aluno em Minas Gerais". Outra vez a agressão investe contra a educação. O que as manchetes dos jornais brasileiros estamparam no último dia 08 de dezembro deixa preocupados aqueles que são responsáveis pela transformação do país pelo conhecimento: os professores.

Outro dia arrisquei aqui mesmo neste Blog a tecer alguns comentários sobre a temática, embora não tenha o domínio da ciência da psicologia para entender a mente humana. Mas, diante da agressão sofrida pela professora Jane, e ainda pasmo com o ocorrido, não pude me furtar de tal intento. Me atrevi a comentar porque acredito que minha experiência em sala de aula me possibilita uma ótica da prática pedagógica. E muitas coisas se tem observado nos últimos tempos, principalmente no que diz respeito ao comportamento discente. A começar pelo Bullying costumeiro em atividades de sala de aula, principalmente no momento de apresentações de trabalhos. Interceder nessa hora tem sido uma forma de impedir que alunos façam verdadeiro terrorismo com alguns colegas. E a totalidade dos alunos adeptos dessa prática possui fraco desempenho na disciplina. Então, também se pode associar a prática do Bullying ao início de um comportamento alinhado com a violência. E deixá-lo persistir em sala de aula ou mostrar descaso com essa prática é oportunizar o desenvolvimento de um ambiente propício ao caos.

Ao ler matéria da Revista Psicologia, Teoria e Prática, do Instituto Mackenzie, sobre o tema, observei o seguinte relato que achei adequado trazer nesse momento.

“Uma discussão bastante atual é a que se refere à dificuldade entre duas direções a serem tomadas pelos professores em suas aulas: impor atitudes e conhecimentos a alunos que se recusam a aceitá-los ou abandoná-los a sua própria sorte?

Na perspectiva de Riolfi (1999), ninguém está sabendo muito bem o que fazer e tem vergonha de dizer isso, o que coloca o professor em uma posição de solidão improdutiva e rancorosa, que o empurra para uma situação de rivalidade quase que mal disfarçada em relação a seus próprios alunos. Além disso, fatores de violência externos à escola têm gerado conflitos que se manifestam dentro da sala de aula comprometendo o aprendizado. Esse tema ocupa grande espaço nos noticiários, jornais, revistas e periódicos laicos e científicos no mundo todo, apesar de pouco ter sido feito para minimizá-lo ou eliminá-lo”.

Por aí se observa a dificuldade do professor, solitário em sala de aula, de resolver a situação, principalmente quando ele também é abandonado à própria sorte pela direção da Escola, que não busca formas e alternativas para o problema, o que é muito comum em nossa atividade. O abandono de algumas ferramentas eficientes na avaliação de alunos, como o tradicional Conselho de Classe, fez com que o professor se visse cada vez mais solitário nessa empreitada. O Conselho de Classe tornava mais evidente a necessidade de medidas para resgatar os alunos com dificuldade ou em situação de comportamento inadequado em sala de aula. A linguagem docente se tornava uníssona e as ações eram coordenadas e objetivas. Isso evitava ações isoladas tanto de docentes quanto de alunos, sem contar o reconhecimento precoce por parte de todos os envolvidos de que uma transformação se fazia necessária.

Outra leitura que também me chamou a atenção na Revista do Instituto Mackenzie foi uma que tratava da visão do professor em relação à violência escolar.

“A escola, como instituição que faz parte da sociedade, sofre os reflexos dos fatores de violência externos que têm gerado conflitos manifestados dentro da sala de aula, comprometendo o aprendizado e as relações interpessoais.

Segundo Sposito (1998), a violência escolar expressa aspectos epidêmicos de processos de natureza mais ampla, ainda insuficientemente conhecidos, que requerem investigação. Faz-se necessário, portanto, investigar a concepção do professor, principal ator nesse cenário educacional, acerca da violência, pois muitas vezes esta pode ser percebida e compreendida como inevitável e inerente ao contexto. Esse tipo de concepção é denominado por Tulloch (1995, p. 98) agressão pró-social, aquela cujos caminhos e propósitos são socialmente aprovados e aceitos dentro dos padrões morais de um grupo”.

Portanto, aceitar a violência escolar como atitude normal de um grupo, pode levar a situações posteriores que perdem o controle. E na maioria dos casos relatados e observados ultimamente sobre violência escolar, o agressor possuía antecedentes. Ou seja, sua trajetória vem permeada de atitudes que talvez não tenham sido motivo de observação e atenção por parte da Escola, redundando em fatos mais graves e irreversíveis do ponto de vista educativo.

Certa feita falava com um grupo de especialistas em educação e ouvi de um que a Escola necessitava rever sua forma de atuação. Dizia ele que até mesmo o arranjo físico da sala de aula remetia ao século dos mosteiros. E por um determinado tempo pensei que isso também poderia ser um elemento motivador da violência na Escola: o desinteresse dos alunos pela mesmice das aulas expositivas e do tradicionalismo no “fazer pedagógico”. Mas, recentemente, desconstruí em mim um pouco dessa possibilidade. Adotei algumas estratégias bastante atuais e desafiadoras em uma turma na qual observei demasiada resistência e uma certa indiferença nas aulas. No início houve uma atenção maior, mas aos poucos a acomodação tomou conta e se desinteressaram. Ou seja, a cultura da atual sociedade de consumo requer um número incessante de novidades. É como o celular adquirido no mês passado, e que neste mês foi superado por um outro aparelho agora com internet e MSN.

Por isso tudo, creio que não será muito fácil encontrar soluções a curto prazo para a violência que impera na educação. Todavia, se não houver um esforço conjunto que envolva toda a sociedade, tendo como elementos fundamentais nessa discussão a Escola, os docentes, pais e alunos, certamente não chegaremos tão cedo a um denominador comum. E isso é preocupante, pois como se sabe, sem o conhecimento não há transformações.

3 comentários:

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado colega Jairo,
na noite deste 10 dezembro, as atividades do seminário de oficina de Projetos e Métodos de Pesquisa nos Mestrados de Biociências e Reabilitação e no Profissional de Reabilitação e Inclusão no Centro Universitário Metodista do IPA se iniciaram com um momento de reflexão em memória do colega Kassio, da Rede Metodista de Educação em Minas Gerais, tragicamente trucidado. Então nos associamos também a dor e a humilhação da colega a profª Jane Leon Antunes, coordenadora pedagógica do curso de Enfermagem da Factum que foi brutalmente agredida.
A Cátedra de Direitos Humanos Bispo Federico Pagura trouxe então um alerta para o mundo desigual que vivemos, na evocação do que tu chamas de agressão à Educação.
Obrigado por trazeres alertas tão oportuno no teu blogue.
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
www.atticochassot.com.br

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado colega Jairo,
na noite deste 10 dezembro, as atividades do seminário de oficina de Projetos e Métodos de Pesquisa nos Mestrados de Biociências e Reabilitação e no Profissional de Reabilitação e Inclusão no Centro Universitário Metodista do IPA se iniciaram com um momento de reflexão em memória do colega Kassio, da Rede Metodista de Educação em Minas Gerais, tragicamente trucidado. Então nos associamos também a dor e a humilhação da colega a profª Jane Leon Antunes, coordenadora pedagógica do curso de Enfermagem da Factum que foi brutalmente agredida.
A Cátedra de Direitos Humanos Bispo Federico Pagura trouxe então um alerta para o mundo desigual que vivemos, na evocação do que tu chamas de agressão à Educação.
Obrigado por trazeres alertas tão oportuno no teu blogue.
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
www.atticochassot.com.br

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado colega Jairo,
na noite deste 10 dezembro, as atividades do seminário de oficina de Projetos e Métodos de Pesquisa nos Mestrados de Biociências e Reabilitação e no Profissional de Reabilitação e Inclusão no Centro Universitário Metodista do IPA se iniciaram com um momento de reflexão em memória do colega Kassio, da Rede Metodista de Educação em Minas Gerais, tragicamente trucidado. Então nos associamos também a dor e a humilhação da colega a profª Jane Leon Antunes, coordenadora pedagógica do curso de Enfermagem da Factum que foi brutalmente agredida.
A Cátedra de Direitos Humanos Bispo Federico Pagura trouxe então um alerta para o mundo desigual que vivemos, na evocação do que tu chamas de agressão à Educação.
Obrigado por trazeres alertas tão oportuno no teu blogue.
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
www.atticochassot.com.br