02 janeiro 2011

DILMA ROUSSEFF - PRESIDENTE DO BRASIL

É como uma mãe que toma o filho nos braços e, com muito carinho e cuidado extremo, o conduz ao futuro. A partir deste ano somos mais um país governado por uma mulher presidente. Ou seja, nós estamos fazendo parte de um dos momentos importantes da história brasileira, onde se deixa de lado o preconceito de gênero, preconceito este que permeou muitos momentos da trajetória do país. Momentos onde a mulher simplesmente desempenhava o papel de serviçal ou apêndice da prepotência masculina.

Para quem como eu, nascido ainda na década de 1950, percebia desde cedo o pouco reconhecimento da mulher no contexto político, às quais não eram dadas oportunidades de voz e de vez, assistir à posse da primeira presidenta da república foi algo de muito emocionante. Jamais imaginei em minha vida essa possibilidade. Confesso que não consegui conter as lágrimas ao ouvir o discurso de posse de Dilma Rousseff no plenário da Câmara. E não foi um discurso vazio, tão somente para corroborar um momento político; muito ao contrário do que a oposição, com uma ponta de inveja, como o senador goiano Demóstenes Torres, desdenhou depois da fala de Dilma. Foi um discurso coerente com tudo que havia referido durante a campanha vitoriosa da candidata.

Quem comigo convive há bastante tempo sabe que não sou Petista de carteirinha, até porque neste ano que passou, ainda no primeiro turno das eleições, fui partidário do PV e, por isso, votei em outra mulher que me comoveu: Marina Silva. Em não avançando para o segundo turno, mantive minha preferência pela petista Dilma Rousseff, porque acredito ser o projeto do presidente Lula infinitamente superior ao projeto neoliberal do tucanato que apoiava o outro lado. E, como já convivi anteriormente, mais especificamente entre 1995 e 2002, com a administração peessedebista de FHC, onde para solucionar problemas financeiros do país se vendiam as riquezas nacionais, me arrepiava só de imaginar a volta desse projeto ao Palácio do Planalto.

Mas o que eu gostaria de salientar aqui são algumas partes do discurso de posse de Dilma Roussef, onde se percebe uma grande coerência com tudo aquilo que foi referido durante a campanha. E isso é importante porque demonstra que a futura presidente possui bem claros os desafios a serem enfrentados em seu mandato.

E o discurso principia mostrando o reconhecimento com quem lhe mostrou o caminho e orientou até a vitória:

“Lula estará conosco. Sei que a distância de um cargo nada significa para um homem de tamanha grandeza e generosidade. A tarefa de sucedê-lo é desafiadora. Saberei honrar o seu legado. Saberei consolidar e avançar sua obra.”

Desde o início da campanha Dilma sempre salientou que seu governo seria a continuidade do governo Lula. E se isso acontecer, realmente teremos a manutenção de ações que levaram o país a um patamar de reconhecimento internacional, e de redução das desigualdades sociais com ascensão reconhecida das classes menos favorecidas durante seu governo. Só não admite isso quem não quer enxergar.

“Também reafirmo aqui outro compromisso: cuidarei com muito carinho dos mais frágeis e mais necessitados, mas governarei para todos!”

Trabalhar em prol das classes menos favorecidas sempre foi uma das colocações da candidata Dilma durante sua campanha. E aqui no discurso de posse ela reafirma novamente esse objetivo. Aliás, foi através dos programas sociais do governo Lula que muitas mães conseguiram sustentar seus filhos, muitas vezes abandonadas pelos maridos.

“Acredito e trabalharei para que estejamos todos unidos pelas mudanças necessárias - na educação, na saúde, na segurança e, sobretudo, na luta para acabar com a pobreza extrema.”
“Não peço que ninguém abdique de suas convicções. Buscarei apoio e respeitarei a crítica. É o embate civilizado entre as idéias que move as grandes democracias, como a nossa.”

Demonstrando outra vez sua intenção pelos mais pobres, Dilma também abre espaço para discutir com a oposiçao diferentes visões sobre o futuro do país e acolhe aqueles que não votaram na sua proposta de governo, mas que agora fazem parte do povo que estará sob seu comando nos próximos anos.

“Agora é hora de trabalho. Agora é hora da união. União pela educação das crianças e jovens, união pela saúde de qualidade para todos e união pela segurança de nossas comunidades. União para o Brasil continuar crescendo, gerando empregos para as atuais e futuras gerações. União enfim para criar mais e melhores oportunidades para todos.”
“O meu sonho é o mesmo sonho de qualquer cidadão ou cidadã: o de que uma mãe e um pai possam oferecer aos filhos oportunidades melhores do que as que tiveram em suas vidas.”

Nestes trechos do discurso, Dilma demonstra seu compromisso com três áreas que mais preocupam a população brasileira, e que a maioria dos candidatos trouxe propostas durante a campanha. Acredito ser o grande desafio da nova governante: educação, saúde e segurança. Como integrante da parcela do país envolvida com a educação, sem querer puxar a sardinha pro meu assado, não vejo outra alternativa mais importante do que o investimento na educação para resgatar a estima de nosso povo, contribuindo significativamente para melhorar a saúde e a segurança. Ou seja, desse tripé, saúde, segurança e educação, talvez esse último seja o que mais merece atenção.

“Para governar um país continental como o Brasil é também preciso ter sonhos. É preciso ter sonhos grandes e persegui-los. Foi por não acreditar que havia o impossível que o presidente Lula fez tanto pelo país nestes últimos anos. Sonhar e perseguir os sonhos é exatamente romper o limite do possível.”

Tem razão Dilma quando diz que se deve sonhar e perseguir estes sonhos. Quando o presidente Lula, através de sua eqiupe econômica, contrariou muitos especialistas que haviam participado de governos anteriores, distribuindo renda para depois forçar a arrecadação através de aumento de impostos e maior fiscalização, se disse que isso era um sonho, pois, segundo a visão econômica anterior, e que predominou desde o período militar, “era preciso fazer crescer o bolo para depois reparti-lo”. Pois a equipe de Lula resolveu empoderar as classes consumidoras para fazer crescer a economia, contrariando inclusive visões externas dos experts do FMI, e que fizeram implodir a economia estadunidense e européia com suas previsões e aconselhamentos.

“Vou estar ao lado dos que trabalham pelo bem do Brasil na solidão amazônica, nos rincões do nordeste, na imensidão do cerrado, na vastidão dos pampas. Vou valorizar o desenvolvimento regional, sustentando a vibrante economia do nordeste, preservando e respeitando a biodiversidade da Amazônia no norte, dando condições à extraordinária produção agrícola do centro-oeste, a força industrial do sudeste e a pujança e o espírito de pioneirismo do sul.“

Aqui a presidente Dilma enfatiza sua opção pelo desenvolvimento integrado de todo o país, sem favorecimentos regionais, sem bairrismos e sem compadrios, como reafirmou várias vezes durante a campanha. Mesmo que tenha Minas Gerais como terra natal e o Rio Grande do Sul como lugar de recomeço, depois de submetida à tortura pelo regime militar, Dilma não deve levar isso em consideração para levar em frente seu projeto de governo. Até porque, se levarmos em conta o resultado do segundo turno das eleições, os grandes responsáveis por sua vitória foram Norte e o Nordeste brasileiros. Portanto, se houvesse algum favorecimento irresponsável por parte do governante nessa hora, ele seria para essa porção do país. É claro que isso não se coaduna com o perfil da presidente que hora assume o governo.

Por fim, cabe ressaltar a importância daquele que deixa o governo federal, com um índice de aprovação próximo de 90%, coisa inédita no Brasil e quiçá, no mundo. Não se tem notícia de um mandatário em qualquer país do mundo que, após oito anos de mandato, tenha conseguido tal façanha. Mas, ao presidente Lula o que pode ser dito é que somente a História lhe fará a justiça merecida. Pois existem alguns personagens cujo reconhecimento não se dá de imediato, mas sim, com o passar dos anos. E quanto à ele, eu não tenho nenhuma dúvida de que a História lhe será justa, muito mais justa do que qualquer palavra que eu escolha nesse momento para qualificar sua passagem pelo governo brasileiro.

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Muito querido Jairo,
parabéns pela maneira detalhada e objetiva como descreves o memorável dia 1º de janeiro de 2011. Acompanho teu texto, escrevi hoje que o que vimos ontem foi uma emocionada sagração à Democracia adito a maior torcida para que o consistente plano de governo trazido ontem à nação brasileira – centrado fundamentalmente na erradicação da miséria – se transforme numa sonhada realidade.
Que 2011 seja muito bom para ti e para todos leitores de teu blogue.
attico chassot