10 janeiro 2011

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DA REDE GLOBO

A busca pela melhoria na qualidade de vida é uma meta perseguida por quase toda a sociedade, principalmente no quesito das relações humanas e dos comportamentos. Cada vez que o conflito se estabelece, me parece que há uma degradação na evolução da espécie humana, e de tudo o que foi construído até o momento pela humanidade. Por exemplo, quando convivi com os funcionários e colegas docentes no episódio de agressão da professora Jane, na Escola Factum de Porto Alegre, me perguntei: “Onde foi parar todo o constructo de comportamento e relações interpessoais que incessantemente temos divulgado e apregoado aos nossos alunos? Será que somos tão incapazes ou ineficientes nessa tarefa?”

Acredito que é nossa responsabilidade, enquanto docentes, trabalhar temas de bom relacionamento dentro de sala de aula, indicando caminhos que possam aperfeiçoar as relações entre as pessoas, rechaçando a agressividade e o bulliyng que corriqueiramente invadem o espaço educativo. Eu diria, essa é nossa Responsabilidade Social.

Mas de nada adianta tudo isso se não estivermos imbuídos dessa responsabilidade social através dos bons exemplos. Ou seja, não há como “pregar moral de cuecas”.

E é isso que tenho observado nas últimas semanas na televisão. A maior rede televisiva brasileira, a Rede Globo, alardeando a todo momento seu grande trabalho de Responsabilidade Social, ao divulgar temas como combate a drogas, preconceitos de gênero, cor, raça, acessibilidade de deficientes e outros tantos em suas produções, novelas, seriados, especiais, etc. Mas é aí que vem o detalhe do bom exemplo. De que adianta divulgar temas como esses em 10% de suas produções, se os outros 90% estão recheados de “cenas de erotismo e de sexo quase explícito”, “momentos de grande agressividade e violência”, “exemplos de corrupção e falcatruas” entre outros? Somente uma noite de exibição do reality show Big Brother Brasil, em cenas acaloradas de exercícios eróticos sob os cobertores e posturas de ódio, falsidade e traição no momento das votações para eliminação de membros da casa, aniquila qualquer postura de Responsabilidade Social que a emissora tente envidar. Uma grande quantidade de maus exemplos invade a telinha e deixa atônitos pais e mães que se estrebucham no dia-a-dia para qualificar a educação dos filhos. Ou seja, para essas redes de televisão, na hora do bom exemplo, o que vale é conquistar valiosos pontos no Ibope e justificar os valores investidos pelo patrocinador. Sendo assim, que se dane a Responsabilidade Social.

Aliás, analisando qualquer produção televisiva, é fácil observar o quão longe da realidade estão a grande maioria. Me preocupa quando penso que estas cenas, que vemos diariamente em nossos aparelhos, ingressam nos lares de muitos brasileiros sem pedir permissão. O que deve pensar um telespectador que vê personagens que habitam mansões esplêndidas, dirigem carros de último ano, vestem roupas de grife, freqüentam salas de estar e de jantar repletas de boa comida e se divertem em clubes dos mais elegantes e sofisticados? Será que realmente essa é a realidade em que todos vivemos? Raramente se vê nessas produções um personagem lavando louças, passando roupas, fazendo comida ou limpando o vaso sanitário: cenas comuns do dia-a-dia de muitos de nós, reles mortais.

Voce certamente já ouviu falar da manipulação que órgãos de comunicação se utilizam na divulgação de notícias e de fatos. E isso não é novidade para redes como essas que monopolizam as notícias em nosso país. Muitas mentiras assumem caráter de verdade sob a ótica do editor da emissora; verdades essas que privilegiam grupos empresariais com grande interesse financeiro e pouco compromisso com a sociedade. E muitas emissoras se prestam a isso. Mas esse é um assunto muito extenso para discutirmos agora nesse espaço, mas com certeza desejo retomá-lo em outro momento.

Para quem não sabe, todos os canais de rádio e televisão são concessões do Estado, e como tal, possuem prazo de validade e posterior renovação. Quem renova essas concessões? O Governo Federal através do Poder Legislativo. Deputados e Senadores periodicamente avaliam essas empresas e concedem a renovação de mais um período, se lhes convier. E se esses deputados e senadores aprovam ou desaprovam a concessão, eles estão representando o povo brasileiro. Com isso quero afirmar que o proprietário das concessões desses canais é na verdade o povo brasileiro, e a ele os canais de televisão devem esse benefício da Responsabilidade Social. Mas Responsabilidade Social não se faz desse jeito, pregando uma coisa e fazendo outra. Por isso, mais uma vez estamos entregues à sorte da avaliação de nossos políticos para que tenhamos esse benefício.

Mas será mesmo que a Rede Globo e outras emissoras da telemídia nacional tem sido socialmente responsáveis na divulgação de algumas cenas em suas produções? Ou tudo não passa de um engodo para justificar a concessão do Estado por tantos anos? É pra pensar...Não?

Um comentário:

Anônimo disse...

Não pude me calar diante de tal coragem. Fico orgulhoso de ler sua opinião e registro que somos um numero em crescimento, lento é verdade, mas em crescimento.
Parabéns pela lucidez e malicia nas observações.


Grande abraço!

Marcelo Granatto