Depois das notícias que permearam os jornais nos últimos dias, não há como não refletir, se é que isso seja possível nesse momento, sobre as mortes na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro. Que tragédia! Nesta quinta-feira, voltava de uma das minhas aulas na Escola Técnica Cristo Redentor em Porto Alegre, quando ao chegar em casa me deparo com o noticiário do meio-dia em polvorosa. Plantão de notícias e um repórter na porta da escola buscando depoimentos e declarações dos adolescentes que conviveram aqueles momentos inomináveis.
Até agora eu me pergunto qual o real motivo da brutalidade. Não encontro explicações. Uma única é a demência.
No best-seller "Mentes Perigosas", a médica Ana Beatriz Barbosa Silva, com pós-graduação em psiquiatria pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), dedica um trecho aos pais que suspeitam que seus filhos são "francos candidatos à psicopatia", palavras usadas pela especialista.
"Podemos observar características de psicopatia desde a infância até a vida adulta. Antes dos 18 anos, por uma questão de nomenclatura, o problema é chamado de Transtorno de Conduta", escreve a autora na página 170.
Em seguida, ela lista 19 características comportamentais que, se verificadas em um padrão repetitivo e persistente, podem fazer soar o alerta de que algo está errado.
"Não pretendo ser pessimista, no entanto não seria honesto da minha parte afirmar que a psicopatia infanto-juvenil atualmente tenha uma solução satisfatória. O máximo que podemos fazer é adotar posturas no trato com essas crianças no intuito de melhorar a forma como a psicopatia vai se manifestar no futuro", alerta a médica.
Em um trecho do livro, ela resume como se dá a percepção do mundo por esses criminosos: "Para os psicopatas, as outras pessoas são meros objetos ou coisas, que devem ser usados sempre que necessários para a satisfação do seu bel-prazer."
Confira os 19 indícios apontados pela médica Ana Beatriz em "Mentes Perigosas".
1- Mentiras frequentes (às vezes o tempo todo)
2- Crueldade com animais, coleguinhas, irmãos etc.
3- Condutas desafiadoras às figuras de autoridade (pais, professores etc.)
4- Impulsidade e irresponsabilidade
5- Baixíssima tolerância à frustração, com acessos de irritabilidade ou fúria quanto são contrariados
6- Tendência a culpar os outros por erros cometidos por si mesmos
7- Preocupação excessiva com seus próprios interesses
8- Insensibilidade ou frieza emocional
9- Ausência de culpa ou remorso
10- Falta de empatia ou preocupação pelos sentimentos alheios
11- Falta de constrangimento ou vergonha quando pegos mentindo ou em flagrante
12- Dificuldades em manter amizades
13- Permanência fora de casa até tarde da noite, mesmo com a proibição dos pais. Muitas vezes podem fugir e levar dias sem aparecer em casa
14- Faltas constantes sem justificativas na escola ou no trabalho (quando mais velhos)
15- Violação às regras sociais que se constituem em atos de vandalismo como destruição de propriedades alheias ou danos ao patrimônio público
16- Participação em fraudes (falsificação de documentos), roubos ou assaltos
17- Sexualidade exacerbada, muitas vezes levando outras crianças ao sexo forçado
18- Introdução precoce no mundo das drogas ou do álcool
19- Nos casos mais graves, podem cometer homicídio.
Vale ressaltar que essas características são apenas genéricas e que o diagnóstico exato só pode ser firmado por especialistas no assunto. Além do mais, o leitor deve atentar para a frequência e a intensidade com as quais essas características se manifestam.
O que impressiona e deixa enigmático ainda mais o ataque perpetrado pelo insano assassino é o teor da carta deixada por Welligton Menezes de Oliveira, de 23 anos. Em trecho, Oliveira diz que os "impuros" não poderão tocá-lo "sem luvas": "Nenhum fornicador ou adúltero poderá ter um contato direto comigo". Dando a entender de que se mataria após o ataque, ele explica como gostaria que fosse seu sepultamento. Ele pede que tirem sua roupa e o enrolem em um lençol.
Veja o conteúdo da carta:
"Primeiramente, deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem luvas, somente os castos ou os que perderam suas castidades após o casamento e não se envolveram em adultério poderão me tocar sem usar luvas, ou seja, nenhum fornicador ou adúltero poderá ter um contato direto comigo, nem nada que seja impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão, os que cuidarem de meu sepultamento deverão retirar toda a minha vestimenta, me banhar, me secar e me envolver totalmente despido em um lençol branco que está neste prédio, em uma bolsa que deixei na primeira sala do primeiro andar, após me envolverem neste lençol poderão me colocar em meu caixão.
Se possível, quero ser sepultado ao lado da sepultura onde minha mãe dorme. Minha mãe se chama Dicéa Menezes de Oliveira e está sepultada no cemitério Murundu. Preciso de visita de um fiel seguidor de Deus em minha sepultura pelo menos uma vez, preciso que ele ore diante de minha sepultura pedindo o perdão de Deus pelo o que eu fiz rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte para a vida eterna.
Eu deixei uma casa em Sepetiba da qual nenhum familiar precisa, existem instituições pobres, financiadas por pessoas generosas que cuidam de animais abandonados, eu quero que esse espaço onde eu passei meus últimos meses seja doado a uma dessas instituições, pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar, trabalhar para se alimentarem, por isso, os que se apropriarem de minha casa, eu peço por favor que tenham bom senso e cumpram o meu pedido, por cumprindo o meu pedido, automaticamente estarão cumprindo a vontade dos pais que desejavam passar esse imóvel para meu nome e todos sabem disso, senão cumprirem meu pedido, automaticamente estarão desrespeitando a vontade dos pais, o que prova que vocês não tem nenhuma consideração pelos nossos pais que já dormem, eu acredito que todos vocês tenham alguma consideração pelos nossos pais, provem isso fazendo o que eu pedi."
Gostaria muito de ter trazido essa semana um tema mais ameno para dialogar com vocês, meus queridos alunos e colegas. Mas, não foi possível, tamanha a a comoção que tomou a todos nós depois de assistir cenas de tamanho requinte de crueldade. Um fato que fica na história da segurança pública e da educação brasileira para reflexão.
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