06 maio 2011

PROFISSIONAIS DESATUALIZADOS

O mundo contemporâneo é um mosaico de novidades e mudanças. Sabe-se que nada é definitivo nessa vida, e que a única coisa irreversível é a morte. Mesmo que dela se queira manter distância, chegada a hora não há como escapar. De resto tudo mais pode ser modificado, alterado ou transubstanciado, pra ser um pouco mais complicador. Vejam que até eu recorri ao dicionário para mudar um pouco a linguagem inicial desta edição.

Mas toda a mudança implica também em transformação, não é verdade? E essa transformação é uma forma de evoluir e de se atualizar. Principalmente na ciranda profissional, onde as instituições cada vez mais exigem atualização e adequação às novas formas de atuar e de agir no mercado de trabalho. Deve se atualizar constantemente o advogado, pois a dinamicidade das leis é constante. Devem se atualizar os médicos, pois a ciência médica não pára de descobrir novos procedimentos. Deve se atualizar o engenheiro, pois a engenharia descobre projetos ousados e criativos constantemente. Deve se atualizar o professor, pois a quantidade de pessoas que busca formação, cada vez mais exige competência e novas formas de ensinar. E assim por diante.

Ou seja, cada profissão tem suas particularidades e vai evoluindo ao longo do tempo, exigindo do profissional aperfeiçoamento constante. E o que vemos entre os profissionais das mais diversas áreas, é que alguns tem demonstrado evolução e outros estagnação. Há profissionais preocupados em buscar uma performance que os mantenha sempre atualizados e atuando dentro da realidade da época em que vivem. Outros não se deram conta que o tempo passou e vivem no passado. Conheço um dentista, amigo de meu pai, cujo consultório guarda as mesmas características do século passado. Já pelas divisórias de madeira e o sofá na recepção, além das revistas surradas e do porta-guarda-chuvas amassado e riscado num canto, se pode ter a impressão de adentrar um outro período da história.

Da mesma forma tenho observado essa realidade no futebol profissional brasileiro, nos comandantes das equipes que disputam competições acirradas regionais e outras de nível internacional. Figuras públicas que por estarem na vitrine das emissoras de televisão e de rádio, catalisam nossas atenções e muitas vezes são decepcionantes ao emitirem opiniões e se expressarem, ou até mesmo na hora de desabafarem suas emoções.

Uns dos primeiros momentos em que tive a atenção catalisada foi na última Copa do Mundo, quando nosso conterrâneo, e ex-capitao da Seleção Brasileira, Dunga demonstrou toda sua irritação com alguns membros da imprensa esportiva. Sem qualquer pudor se meteu aos berros e xingamentos com o repórter, demonstrando total desequilíbrio emocional. Fiquei imaginando como seria a reprimenda imposta por ele a um atleta que cometesse uma falha nas quatro linhas, e comprometesse a equipe com um resultado adverso. O Dunga na Copa da África de 2010 não deu um minuto de sossego aos árbitros e aos ferros da estrutura do banco de reservas. A cada brado de raiva e ódio espancava as ferragens da casa mata violentamente. Basta recuperar as imagens para confirmar. E o Dunga nunca mais foi chamado para treinar sequer o Cruzeiro de Porto Alegre. Houve sondagem de seu nome aqui no Beira-Rio recentemente, mas parece que faltou coragem aos dirigentes depois do que foi visto em Joanesburgo e Porto Elisabeth.

Outro nome que recentemente me chamou a atenção foi o de Luiz Felipe Scolari. Contratado a peso de ouro pelo Palestra Itália da capital paulista, Scolari tem colhido maus resultados desde sua chegada, não conseguindo os mesmos feitos obtidos em Portugal e outros paises da Europa. Mas o que mais impressiona é sua relação conflituosa com a imprensa esportiva paulista. Nas entrevistas mantem uma postura semelhante ao comandante Dunga e está sempre na ofensiva, tentando intimidar os repórteres que acompanham a rotina palmeirense. Nesta quinta-feira, pela Copa do Brasil, seus comandados foram massacrados com uma goleada ao natural imposta pelo Coritiba do estado paranaense: 6 a 0. Até o goleiro Marcos, um símbolo do time paulista, foi enfático ao atribuir a culpa à falta de vontade dos colegas, talvez pelo clima pesado que rola nos vestiários e por um complô imposto ao técnico pelo grupo.

Mas a atitude que mais me impressionou pela covardia e desfaçatez, e que foi a minha imagem da semana, aconteceu na partida entre Cruzeiro de Belo Horizonte-MG e Once Caldas da Colômbia, pela Copa Libertadores da América. Partindo de uma vantagem obtida em jogo fora de casa, o técnico Cuca do Cruzeiro, fazia favas contadas a classificação de sua equipe que jogava em casa. O time de melhor retrospecto na competição enfrentava a equipe de pior desempenho, uma regra característica da Libertadores. Mas o que era certo se tornou uma “zebra”. O melhor time da competição era derrotado pelo pior. Numa saída de bola ao final da partida, o técnico do Cruzeiro, sem qualquer motivação aparente e numa atitude covarde, levantou o cotovelo e atingiu a boca do atacante colombiano Rentería, quando este vinha apanhar a bola. Imediatamente foi expulso pelo árbitro. E na entrevista após o jogo, teve uma atitude dissimulada, negando o fato registrado pela televisão e chamando o jogador atingido de malandro. O vídeo disponibilizado na rede mundial não deixa dúvidas. Naquele momento pude concluir que nosso futebol anda um pouco acéfalo e sem comando. E não foi à toa que nesta mesma noite, quatro clubes brasileiros deram adeus à Copa Libertadores da América.

Quanto ao técnico Cuca, seu histórico também é privilegiado desde que era atleta do Grêmio. Fui relembrado de uma façanha dele por meu Mestre Chassot nesta quinta-feira, quando juntos almoçávamos no Restaurante Manifesto ali da Mariante. Cuca foi preso em Berna na Suíça em 1987, numa excursão do Grêmio, juntamente com outros colegas de clube, por acusação de estupro a uma menor de 13 anos no Hotel Metropol, quando esta buscava autógrafos. Ao fato pode ser atribuída a escassez de convites ao clube para posteriores competições internacionais desse porte.

Pessoas públicas e com uma renda mensal de dar inveja a qualquer marajá daqueles países do Oriente, parece que alguns profissionais que comandam o futebol profissional em nosso país não se deram conta de que os tempos são outros. Estão completamente defasados em relação à realidade global, necessitando de uma atualização para que possam evoluir. Mas pelo que vejo, isso vai ser difícil. E agora o pior!!! Todos esses profissionais que eu citei tem alguma coisa em comum comigo, e talvez com você que está lendo. Notou? Todos são gaúchos.

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Muito querido colega e amigo Jairo,
fico feliz que tenha sido um pouco partícipe da blogada de hoje. Lamentavelmente, vemos que há humanos que não desmentem a sua história. O treinador Cuca tem uma história pregressa enquanto jogador do Grêmio que recordamos no nosso almoço de quinta-feira e que detalhas na edição de hoje. Eis algo triste: Explicamos a não regeneração do técnico, como mostras em teu texto, em ação de violência no jogo onde inexplicavelmente o Cruzeiro foi eliminado.
Parabéns por esta aula sabatina

attico chassot