10 setembro 2011

POR QUE AS TORRES CAÍRAM?

Este final de semana tem essencialmente uma marca: a lembrança de 10 anos do atentado ao World Trade Center. Talvez cada um de nós consiga relembrar o que fazia exatamente naquele momento em que o mundo inteiro era tomado de pavor. Facilitado pelo poder e pela eficiência da tecnologia da informação, que transmitiu praticamente todas as cenas em tempo real, o atentado tomou dimensões mundiais. Sua repercusssao foi imediata e pode ser visto em quase todos os cantos do planeta.


Ao relembrar o atentado, algumas coisas podem nos chamar a atenção. Uma delas para mim foi a imagem daquele segundo boeing mergulhando no prédio, como se fosse uma tesoura cisalhando a estrutura numa velocidade de 800 quilômetros por hora. Em segundos, como um míssil teleguiado, o bólido desapareceu e segui-se uma "bola de fogo". Mas outra coisa particularmente me intriga: “Será que os terroristas que planejaram o ataque tinham a noção da amplitude da ação suicida, com a posterior implosão dos edifícios na seqüência?” Tenho a impressão de que isso sequer era imaginado pelos autores. Acredito que os mesmos devem ter sido tomados de grande satisfação ao perceberem a extensão do evento, ao não deixar “pedra sobre pedra”. Mas porque isso ocorreu? Algumas coisas podem explicar a eficiência do terrorismo no evento que marcou o início do terceiro milênio, e que certamente é um ponto que marca a história mundial.
Dois fatos permitiram que as torres do WTC, que foram finalizadas em 1973 após quase sete anos de construção, se tornassem dois dos prédios menos seguros do mundo no caso de um incêndio: primeiramente, elas eram propriedade da Autoridade Portuária de Nova York e New Jersey, ou seja, órgão público pertencente a dois Estados que era praticamente acima da lei em relação às normas de segurança. Em segundo, as torres foram construídas seguindo o código de construção de 1968 de Nova York, um dos menos restritos e mais influenciados pela indústria imobiliária.
De acordo com um artigo do jornal New York Times, o código de construção de 1938, anterior ao de 1968, “exigia materiais específicos, como tijolos e concreto, na construção de um prédio alto, para proteger em caso de um incêndio". Além disso, o código de 1938 determinava que as colunas de um prédio tinham de suportar o fogo por pelo menos quatro horas. O código de 1968 reduziu esse número para três, sem especificar qual material teria de ser usado nos prédios.
A flexibilidade criada por ele permitiu à Autoridade Portuária reduzir enormemente o uso de concreto na construção das torres. Segundo relatório do ex-chefe dos bombeiros de Nova York Vincent Dunn, especialista em incêndios em prédios altos, com mais de 43 anos de experiência na sua área, diferentemente da construção clássica de edifícios altos, os pilares fundamentais das Torres Gêmeas estavam concentrados no centro do edifício, juntamente com os elevadores. Além disso, a estrutura era feita de 60% aço e 40% concreto, quando o modelo clássico estipula exatamente o contrário.
Esse tipo de estrutura inovadora realmente absorveu o impacto imeadiato dos aviões, conforme haviam atestado os engenheiros que as construíram. Elas não desabaram imediatamente. Sua estrutura revolucionária, porém, respondeu muito mal aos minutos que se seguiram sob incêndio e calor extremo.
Cada andar das torres do WTC era praticamente uma área aberta, como passaram a ser os escritórios modernos, sem paredes do chão até o teto. “Esse projeto permitiu que o fogo se espalhasse muito mais rapidamente em cada andar e, disseminando-se pelas saídas de ar do ar-condicionado central, por todos os andares do prédio”, relatou o ex-chefe dos bombeiros.
Como cada andar suportava o peso apenas do andar imediatamente acima, assim que os andares mais altos começaram a desmoronar pela destruição causada pelo fogo, todos os andares foram pressionados consecutivamente. Isso ajuda a explicar por que os prédios desabaram completamente: assim que os andares superiores começaram a desabar, a pressão sobre os andares mais baixos era superior ao que eles podiam aguentar.
Até 1968, todos os prédios em Nova York com mais de seis andares tinham de ter uma saída de emergência adjacente ao edifício, fora da estrutura, e com paredes grossas de concreto para permitir uma retirada rápida e evitar que pegassem fogo. Se o WTC tivesse seguido as normas anteriores ao código de 1968, as torres teriam de ter pelo menos quatro escadas de emergência cada uma, sendo uma delas fora da estrutura principal.
Mas com o novo código de normas aprovado, os proprietários de imóveis podiam reservar mais espaço para salas e conjuntos, e menos para áreas de emergência: cada torre tinha apenas três escadas de emergência, e todas concentradas no centro do edifício. Com o ataque dos aviões, as três escadas de emergência da Torre Norte e duas na Torre Sul foram destruídas e bloqueadas em pelo menos uma parte. Apenas uma escada, na Torre Sul, continuou praticamente intacta depois dos ataques, possibilitando o tráfego as pessoas do topo à base do edifício de 110 andares.
Além disso, duas das três escadas de emergência de cada torre não levavam as pessoas diretamente até a rua, mas até o mezanino (primeiro andar), onde ainda era necessário descer uma escada rolante estreita para chegar às portas da rua. Esse foi um problema grave no momento da retirada no 11 de Setembro, porque uma longa fila se formou no mezanino, e muitas pessoas, impressionadas com o que viam lá fora, paravam e não conseguiam avançar para sair do prédio, impedindo que outros saíssem.
A cidade de Nova York havia mudado uma das regras sobre segurança em prédios altos em 1984, exigindo que as diversas saídas de emergências fossem distantes umas das outras, porém a lei não era retroativa, então o WTC não precisou se adequar.

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
neste fim de semana vimos e ouvimos a rodo acerca do 11S. Todavia tua análise, trazida com os óculos de quem tem expertise na área de segurança, não esteve presente nos comentários que consumi acerca do tema.
Parabéns pelos aspectos abordados, mesmo que creia – sem qualquer base técnica – que mesmo com uma construção mais ‘sólida’ as torres se esboroariam.
Com admiração
attico chassot