CÃO AMIGO OU AMIGO CÃO?

Desde minha infância convivi com animais domésticos. Meus pais, oriundos das plagas de Santa Maria e arredores, assim como a maioria da população que na década de 1950 e 1960 migrou do interior gaúcho para a capital, faziam questão de manter estes animaizinhos por dois motivos: o felino para espantar os possíveis roedores que costumavam solapar algum resto de alimento, e o cão para avisar quando algum “gatuno” se atrevesse a pular a cerca que circundava nossa antiga casa de madeira.

Mas estes animais, exceto em algum momento que nós perturbávamos o sossego dos mesmos, eram de uma tolerância sem limites. Nós até carona pegávamos nas costas do “Respeito”, nome dado ao ovelheiro de pelo alvo que minha mãe trouxe de Cacequi. Quanto ao gato, nunca fui muito chegado nesta espécie, pois sempre desconfiei que aquelas unhas escondidas por debaixo do pelo poderiam se transformar em ferramenta de trabalho a qualquer momento.

Mas e hoje em dia? Como se dá essa relação com os animaizinhos? 


Tem aumentado consideravelmente a quantidade de pessoas que criam cães e gatos. Mas, como tudo nesta vida, há algumas criaturas que resolveram utilizar os cães como armas, e trouxeram para o Brasil outras raças que outrora sequer conhecíamos por aqui: os Pitbulls, Rottweiler e Dobberman.

Na minha concepção, estas raças também deveriam ser motivo de uma campanha nacional, como foi feita recentemente a Campanha do Desarmamento. Ou seja, deveria ser combinado um prazo para que todos os proprietários destas feras fizessem a castração dos mesmos. Porque quem anda com um cão destes aí pelas ruas, não está somente passeando com seu cãozinho, está portando uma arma letal.

A quantidade de casos de ataque destes animais pelo Brasil afora nestes últimos anos, e as pessoas, principalmente crianças, que já morreram em virtude deles, é incontável. O mais recente, e bem pertinho de nós, foi a morte trágica do menino Gustavo Gomes de Souza, de 5 anos, em Capão da Canoa.    

O comentarista Paulo Santana, descreve o caso assim em sua coluna de Zero Hora, esta semana:

“Já escrevi mais de 70 vezes sobre os assassinatos que os pitbulls e os rottweilers cometeram contra crianças e idosos no RS nos últimos anos. Tornei-me até quase um jornalista especializado nesses ataques. São testemunhas os meus leitores. Eu só não tinha visto uma fera dessas com mistura das duas raças assassinas no sangue, como foi o caso desse cão assassino de Capão da Canoa anteontem. Eu juro que queria ter assistido ao congresso carnal entre a cadela pitbull e o cão rottweiler que afinal redundou no animal sanguinário de Capão da Canoa: um ato sexual entre essas duas raças homicidas é muito delicado, qualquer mordidinha carinhosa poderá vir a ser fatal.

Disse a reportagem que o cão abocanhou a nuca do menino e não queria soltar as mandíbulas. Intervieram várias pessoas e nada de o cão soltar os dentes afiados da nuca do menino. Foi necessário que alguém fosse buscar um espeto e fizesse uma alavanca entre o porrete e a cabeça do menino para a fera afinal ceder e oferecer aos socorristas o cadáver da criança. Uma tragédia.

Eu não sei como se permite que convivam com pessoas humanas essas duas raças amaldiçoadas. Não consigo entender como passam os anos e rolam as vítimas. E ninguém faz nada. Ninguém esteriliza essas duas raças. Um pesadelo em forma de holocausto.

Diz a notícia que o cachorro implacável foi sacrificado logo em seguida ao ataque, com permissão do seu dono. Tinha de ter sido sacrificado antes de matar o menino. Um cão desses não pode existir, vou mais longe: não pode nascer.”

Que me desculpem aqueles que apreciam estas raças. Mas concordo em letra e número com Paula Santana. As raças deveriam ser banidas da convivência em nosso país.

Aliás, sempre me chamou a atenção, quando vejo um cão destes passeando com seu dono pela rua. Observem se o indivíduo que vai puxando o animal não tem o seguinte perfil: corpo sarado, camiseta regata, tatuagens pelo corpo, cara de poucos amigos, cabeça pra o céu e passos largos. Todos parecem possuir o mesmo biotipo. E parece que o cão acompanha as características e a altivez do insano. Sim, porque para portar uma arma em plena avenida, e mostrá-la a todos os transeuntes, só mesmo um insano. Ah, e por onde ele passa, parece acometido de uma arrogância extrema, ao observar o pânico que acomete os cidadãos na rua.  E não me venham com essa de que se o cão for criado com os cuidados necessários e bem adestrado, jamais atacará alguém. Até porque sempre no final da explicação existe um "a não ser que...".     

Ou não estaria na hora de pedirmos aos nossos representantes que se inicie uma campanha em prol do desarmamento destas feras? Aliás, descobri ontem que já existe um Projeto de Lei (PL 3722) engavetado no Congresso Nacional desde 2004, de autoria do Deputado Federal Carlos Nader, do PFL do Rio de Janeiro. O projeto disciplina a criação e a condução, em via pública, de cães das raças pitbull, dobberman, fila brasileiro, rottweiler e seus mestiços. Quem sabe podemos desengavetá-lo? Para fazer valer nosso direito de possuir somente um bom amigo canino para alegrar-nos nas nossas horas de solidão?  


Fontes: com conteúdos do Blog de Paulo Santana em www.zerohora.com.br - acesso em 14.02.2012