29 março 2013

SEMANA SANTA: DIAS DE REFLEXÃO


Um feriado de Semana Santa como este pede uma escritura de algo mais
A Sexta-Feira Santa relembra o sofrimento de Jesus Cristo
ameno, mais voltado à reflexão de nossas atitudes, de nossas ações. E quando se trata de reflexão religiosa nestes dias, no nosso mundo ocidental, de grande influencia da religião cristã, não há como deixar de lembrar as agruras sofridas por aquele que foi seu maior propagador, Jesus Cristo. A Sexta-Feira Santa, principalmente, é reservada para relembrar a chamada Via Crucis, onde ele teve de carregar a cruz na qual seria pregado e sofreu inúmeras humilhações, segundo contam os evangelistas em seus relatos.

A Crucificação ou crucifixão foi um método de execução cruel utilizado na Antiguidade e comum tanto em Roma quanto em Cartago. Abolido no século IV da era cristã, por Constantino, imperador romano que viveu entre 227 e 337, o método consistia em torturar o condenado e obrigá-lo a levar até o local do suplício a barra horizontal da cruz, onde já se encontrava a parte vertical cravada no chão. De braços abertos, o condenado era pregado na madeira pelos pulsos e pelos pés e morria, depois de horas de exaustão, por asfixia e parada cardíaca (a cabeça pendida sobre o peito dificultava a respiração).

Muitos diretores de cinema se dedicaram a resgatar o drama da Via Crucis desde que a “sétima arte”, como é considerada, surgiu como meio de entretenimento popular. Uma das últimas películas trazidas pelo cinema foi “A
Mel Gibson dirigiu "A Paixão de Cristo"
Paixão de Cristo”, com a direção de Mel Gibson e tendo no elenco James Caviezel no papel de Jesus Cristo. Assim que foi lançado, o filme suscitou várias críticas, inclusive a de exagerar no traumatismo do Cristo crucificado, com cenas de tortura nunca antes tão explicitada. Todas as passagens da Via Crucis trazem cenas de verdadeiro horror, tais como aqueles que ficaram conhecidos nos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, com o sacrifício do povo judeu.

Por tudo isso, a Sexta-Feira Santa sempre foi um dia cheio de simbolismos. No meu tempo de adolescente era bem diferente, com mudança de comportamentos tanto de adultos quanto de crianças. Não se podia várias coisas. Não se podia escutar música alta, não se podia dar risadas, não se podia fazer festas, não se podia realizar trabalhos pesados, etc e tal. Lembro-me bem, que na Sexta-Feira Santa as estações de rádio tocavam músicas sacras e eruditas durante todo o dia. Reza ainda a tradição cristã que não se deve comer carne vermelha e somente a carne de peixe é permitida neste dia. Sem contar ainda a proibição de manter relações sexuais.  

Ainda na Sexta-Feira Santa era costume das famílias saírem de manhã bem cedo, antes de clarear o dia, a recolherem a macela nos campos orvalhados, porque segundo a tradição cristã, as gotículas são consideradas benção de Deus sobre a planta que depois pode ser utilizada como medicamento para vários males.
A macela pode ser considerada um símbolo da época

Nas igrejas neste dia, é comum uma celebração litúrgica de acordo com o rito romano, onde ocorre a reprodução das quinze estações da Via Sacra. Momentos marcantes são lembrados: aquele primeiro momento em Jesus é condenado à morte, a quarta estação onde Jesus encontra Maria, sua mãe, a quinta estação onde Simão ajuda Jesus a carregar a cruz, a sexta estação onde Verônica enxuga o rosto de Jesus, a oitava estação onde Jesus consola as mulheres de Jerusalém, a décima estação onde os soldados lhe tiram as vestes, a décima primeira onde ele é pregado na cruz, a décima segunda em que ele morre crucificado, a décima quarta em que Jesus é sepultado e, finalmente, o momento glorioso da ressurreição na décima quinta estação. O momento da ressurreição é considerado pelos cristãos o mais importante, pois é o momento em que se cumpre aquilo que Jesus Cristo prometera em todas as suas pregações, e que faz com que os seguidores do Cristianismo renovem a cada suas esperanças de que a vida não é concluída com a morte como conclusão da jornada terrena.

Mas no século XXI os ritos cristãos e outros costumes de antigas épocas tem sido muitas vezes superados pelos apelos da sociedade pós-moderna.
Hoje em dia as festas acontecem independentemente das datas e dos feriados simbólicos
O período desde a Sexta-Feira Santa até o Domingo de Páscoa, como tantos outros, é considerado tão somente mais um feriado, quando muitas famílias se deslocam até o litoral ou a serra para desfrutarem de um descanso. A colheita da macela na madrugada da sexta-feira poucos adeptos já possui, até porque há um grande risco de se apanhar nas beiras de rodovias touceiras e arbustos contaminados pela poluição do óleo diesel e da borracha de pneumáticos. O que antes podia ser considerado um medicamento pode ser um veiculo de contaminação antes de mais nada. Quanto às festas, ocorrem a qualquer dia e hora, tanto na sexta quanto no sábado e quiçá, na segunda, mesmo que não seja feriado. E a música que deveria neste dia ser mais contemplativa e de estilo sacro, hoje é o pagode ou funk, como esta que ouço agora na vizinhança onde moro e que fala de um tal de “lek, lek, lek”, cujo autor nem imagino quem seja. Pois é! Reconhecidamente são outros tempos. 

4 comentários:

JAIRCLOPES disse...

Nos anos setenta as contestações eram a moda, in era contestar e out conformar-se às regras, proibido proibir, era a palavra de ordem, a juventude paz e amor fazia questão de dizer-se contra, não importava ao quê. Eu também era jovem àquela época e me parecia normal que a geração baby boom, ou seja, os nascidos logo após a segunda guerra, estivesse cansada das restrições a que seus pais e avós foram submetidos, e as quais engessavam a criatividade, a liberdade de agir e pensar sem barreiras, sem ideologias tacanhas. Contudo, o que nossa juventude não enxergava é que nossa sociedade não existiria com liberdade total, a qual é uma utopia que só serve para teses de sociólogos deslumbrados ou para literatura engajada, como se diz.
Pois bem, desde que o homem, ente social que não consegue sobreviver a não ser em ajuntamentos com os seus, passou a compor tribos e depois aglomerados maiores como cidades, viu necessidade de regras que permitissem uma convivência se não harmoniosa, pelo menos com pouco atrito entre as pessoas. Não há alternativa, ou o homem cria as regras e autoridades que as façam cumprir, ou é o caos, a anarquia incontrolável que dissolve a própria sociedade. Aliás, não haver regras já é uma regra, portanto, torna-se um paradoxo: impor uma proibição que proíbe imposições é racionalmente incongruente. A respeito de uma civilização sem regras já escrevi sobre a Colônia Cecília, utópica sociedade anarquista que foi criada em minha cidade, Palmeira, no final do século dezenove, e que foi para o vinagre em pouco tempo depois que os pretensos anarquistas se desentenderam.
Então, todas as instituições sejam laicas ou religiosas têm suas regras, seus dogmas e regulamentos a que seus membros devem seguir e acatar sob pena de tornarem-se párias sociais ou de serem punidos. Principalmente as religiões são pródigas em não pode isso, não pode aquilo, e por aí vai.
Com o advento da semana santa e a proibição da igreja a seus seguidores de ingestão de carne, mas a liberdade de comer peixe, me fez lembrar de uma ocorrência em Angola no século XVIII. O interessante caso, o encontrei num livro que tratava das conquistas portuguesas na África. O padre Afonso Meira de Carvalhosa, pároco da freguesia de Caluquembe, encontrava-se frente a um dilema que lhe afligia sobremaneira e, para não incorrer em possível heresia que condenaria ao inferno sua alma imortal e as dos seus paroquianos, resolveu consultar autoridade maior sobre o assunto, para isso escreveu para o bispo, seu superior, em Portugal. Tratava-se da proibição ou não de os nativos convertidos poderem comer carne de hipopótamos na semana santa. Veja bem, HIPOPÓTAMOS! A resposta do Bispo português Dom Antonio Cintra foi que não haveria qualquer restrição: hipopótamos, ou cavalos d'água como eram chamados esses mamíferos pelos lusos, podiam sim ser degustados na semana santa, porque eram PEIXES! Afinal viviam na água, não é mesmo? Pode parecer piada antilusófona de brasileiro, mas a verdade é que está registrado como fato por um patrício, o autor do livro é português. JAIR, Floripa, 25/04/11.

JAIRCLOPES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JAIRCLOPES disse...

Limerique

Existe uma semana para o cristão
Hebdomadário cheio de restrição
Embora ninguém se queixe
Católico só come peixe
E a uma bela bisteca ele diz não.

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
realmente os tempos mudaram; Precisasse de um indicador: o respeito que se tinha pela Sexta-Feira Santa.
Obrigado por me lembrares e fazeres saudades,
attico chassot