Depois de ser condenado pelo STF, o deputado Natan Donadon foi absolvido pela Câmara em votação secreta |
A semana que termina tem uma mancha na política
que é feita em nosso país, e que não pode e nem deve ser esquecida. Numa demonstração
de extremo corporativismo, deputados federais, que deveriam representar os
anseios da população junto ao poder legislativo, deram um verdadeiro "tapa na cara" da sociedade brasileira. Rejeitaram na quarta-feira, dia 28, a cassação
do deputado federal de Rondônia, Natan Donadon, condenado por peculato e formação
de quadrilha pelo STF.
Que não se enganem os mais incautos, pois tal
como a classe médica, que mencionei na edição do Blog do dia 03 de agosto
passado (http://www.profjairobrasil.blogspot.com.br/2013/08/seu-doutor-ate-quando.html),
o “corporativismo” também acomete a classe política. Não sei dizer com certeza qual
dos dois casos é mais pernicioso para a sociedade, mas em ambos os prejuízos são
enormes. Ou seja, com os médicos se deixa de interiorizar o atendimento, e no
caso do congresso nacional, temos instalada uma quadrilha para fazer as leis
que deveriam nos proteger.
Um verdadeiro "tapa na cara" da sociedade brasileira |
Não estaria realmente na hora de uma
verdadeira reforma política?
Recentemente recebi a edição de agosto de
2013 do jornal Extra Classe, publicação mensal do sindicato dos professores do
Rio grande do Sul (Sinpro RS). Nele tive o prazer de ler a entrevista do
deputado federal Henrique Fontana, de quem sou admirador, mesmo que não seja
petista de carteirinha. Admiro seu trabalho pela honestidade e coerência com que
sempre pautou suas atitudes e ações. Trago aqui alguns trechos que acredito
estarem relacionados com a atitude desta semana e o corporativismo desta
classe.
Na entrevista, Henrique Fontana traça um
perfil realista do nosso congresso, destacando os motivos que explicam a impossibilidade
de se fazer uma verdadeira reforma política. Fontana, que havia
sido convidado para compor um grupo de trabalho de propostas para esta reforma,
se recusou a participar do mesmo. Para ele, o presidente da Câmara Federal,
Henrique Eduardo Alves, queria utiliza-lo somente como elemento decorativo no
grupo.
Para Fontana, há dois problemas na política brasileira,
o personalismo e o abuso do poder econômico. Diz ele:
“Temos
um levantamento, realizado pela Consultoria de Orçamento da Câmara, com base em
dados do TSE, que mostra quem são os dez maiores financiadores de campanhas no
Brasil: Camargo Correa, Andrade Gutierrez, JBS Friboi, Queiroz Galvão, Banco Alvorada,
OAS, BMG, Gerdau, Contax e GA Engenharia. Só uma pessoa muito ingênua para
acreditar que estas empresas investem milhões em campanhas por amor à
democracia. Elas doam para formar um conjunto de negócios que é estabelecer uma
relação privilegiada com quem exerce o
poder. Essa relação tem uma graduação que vai desde a ocupação de espaços privilegiados,
passando pelo direcionamento de licitações e aditivos, até a ilegalidade direta”.
No caso do uso de verbas privadas para
financiamento de campanhas políticas, o investimento beira o absurdo, quando se
observam os valores envolvidos. Destaca Fontana que:
“Nossos
levantamentos mostram que em 2002 elas custaram R$ 800 milhões. Nas eleições de
2010 estes valores saltaram para R$ 4,8 bilhões. O problema do financiamento
privado é que determinados grupos podem, por exemplo, montar suas bancadas de
deputados sem ter voto algum”.
Também na entrevista, Henrique Fontana falou
da representatividade, o que de certa forma hoje praticamente inexiste em
termos de população. Para ele, no paraíso do Caixa 2, nossa democracia é feita
por grandes empresas, e que o perfil do parlamento brasileiro está cada mais
descolado da sociedade.
“Para
cada seis ou sete representantes de empresários no parlamento, temos um
representante do mundo do trabalho. Para cada seis ou sete ligados ao
ruralismo, temos um ligado à agricultura familiar”.
Henrique Fontana: "O parlamento brasileiro está cada vez mais descolado da sociedade." |
Numa outra parte da entrevista, Fontana
ressalta a necessidade da participação da sociedade através de um plebiscito, e
que foi proposto pela presidente Dilma. Segundo ele, alguns analistas
conservadores chegaram a falar que o plebiscito seria uma manobra diversionista
da presidenta. Alguns deles disseram que não viram nenhum cartaz nas manifestações
exigindo a reforma política. Para Henrique Fontana:
“Eu
digo que vi vários cartazes pedindo reforma política e que, para alem disso,
varias das outras reivindicações estão relacionadas a ela. Ou alguém acredita
que empresas de ônibus, por exemplo, não financiam campanhas?”
Isso demonstra o quanto nos últimos anos
nossos representantes conseguiram desviar a instituição de seu verdadeiro
objetivo. Não há mais tempo a perder. Talvez para que as vozes das ruas sejam ouvidas,
tenhamos que repetir o movimento de junho passado, que assombrou as autoridades
públicas e tirou o sono de alguns políticos instalados confortavelmente nos
gabinetes de Brasília há tantos anos.
A entrevista do deputado Henrique Fontana pode
ser conferida na íntegra em www.sinpro-rs.org.br/extraclasse
Um comentário:
Meu caro amigo Jairo
Infelizmente esses "tapas na cara da Sociedade brasileira" já se tornaram corriqueiros. Provavelmente na próxima semana você estará escrevendo sobre um outro acontecimento desse tipo no nosso Parlamento. A única alternativa é lutarmos pela urgente reforma de nossa política para ver se conseguimos uma reforma plena de nossos políticos, pois já está provado que eles não sabem o que é ter vergonha na cara.
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