07 setembro 2013

O TAYLORISMO NA PÓS-GRADUAÇÃO

Mestrado e Doutorado fazem parte da
Pós-Graduação "Strico Sensu"
Esta semana vou me fazer avesso aos noticiários. Deixo-os de lado para tratar de um tema que há muito me incomoda e que adiava tratar. Quero falar das formações de pós-graduação, especificamente daquelas direcionadas a profissionais com interesse na área de pesquisa, o Mestrado e o Doutorado.

Primeiro, como devoto do fazer educação, aproveito para explicar como funciona esse tipo de formação. E pretendo ser direto e objetivo, sem muitas querelas, como eu a conheço. Mesmo que alguns digam “faltou isso e aquilo” depois de lerem.

As formações em nível de pós-graduação ocorrem de duas formas: as de especialização, também denominadas “lato sensu”, e as direcionadas à pesquisa, também chamadas “stricto sensu”. As primeiras são cursos de no mínimo 360 horas, e que direcionam a formação para temas específicos complementares.

O MBA é um estilo de Pós-Graduação para especialistas
em Administração de Empresas
Alguns inclusive são chamados de MBA, quando formam especialistas na ciência administrativa. Já as formações “stricto sensu” são controladas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Elas acontecem em três níveis: Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado. Neste caso, o aluno qualificado recebe titulação como “Mestre”, “Doutor” ou “Pós-Doutor”.

Muito bem. Mas para que servem estes títulos? Desculpem se houve expectativas de vocês, mas vou me reservar a abordar o segundo caso. Os profissionais com titulação “stricto sensu” podem ministrar aulas em instituições de nível superior. Faculdades e universidades tem requisitado docentes que a possuam. A titulação de “Mestre” em Educação que recebi foi obtida ao final de 2008 na Unisinos, sob a orientação de um Pós-Doutor.

Passados cinco anos, pretendia a titulação logo acima, de “Doutor” em Educação. E já estava com o projeto de tese em vias de submeter a uma comissão avaliadora. Mas uma coisa me chamou a atenção nos últimos anos, e me fez mais crítico em relação a estas titulações. Aos que se inserem nestas formações, há cada vez mais exigência na produção de artigos acadêmicos para revistas de relevância na área de pesquisa, mesmo que eles, os artigos, sejam de qualidade duvidosa. Parece que importa mesmo é acumular no “Currículo Lattes” a maior quantidade possível destes artigos neste comumente chamado “produtivismo acadêmico”. E tenho visto “cada coisa”...
Instituições de Ensino Superior tem exigido de seus discentes e docentes em área de pesquisa a produção massiva de artigos acadêmicos, valorizando-os mais pela quantidade do que pela qualidade.
E também as universidades que contratam estes “titulados” como docentes, tem lhes exigido cada vez mais “recheios” ao Lattes. Sob pena inclusive de serem convidados a deixar a instituição, caso não tenham consistência produtiva neste quesito. E foi o que aconteceu com meu orientador de Mestrado, professor e pós-doutor Attico Chassot. Contratado para ministrar aulas no programa de pós-graduação de uma instituição da região metropolitana de Porto Alegre, que forma Mestres e Doutores, foi sumariamente demitido sob esse argumento. Imaginem só! Um homem de sólida bagagem acadêmica, autor de sete obras relevantes na educação científica, ser relegado por escassez de produção acadêmica.

Destaca ele na edição do seu Blog no dia 31 de agosto passado:

A 1º de março de 2013, a convite, fui contratado como professor de um Programa de Pós Graduação em Educação. Enchi-me de entusiasmo. Teci sonhos. Refiz planos. Mas não fraudei minhas convicções. Organizei seminário inédito, muito bem avaliado pelos participantes em um mestrado muito promissor.
 
Prof. Attico Chassot é Pós-Doutor pela
Universidade Complutense de Madri e
Autor de 7 obras de educação científica
Em dias de julho, meus colegas e eu recebemos algo assim: “Como estamos finalizando o primeiro semestre, tendo em vista manter suas pastas atualizadas, solicitamos a entrega impreterivelmente até o dia 15/07 de relatório da produção do semestre”.

Em minha resposta, após menos de cinco meses na instituição enviei o relatório [...].

Meu relatório foi avaliado. Recebi aviso para comparecer à instituição, para ser demitido no mesmo dia [...] Argumento para demissão: meu perfil não tinha produção que o mercado exigia. Precisavam de produtores de artigos científicos publicados em revistas com impacto acadêmico. “Eu, em cinco meses, não anunciara nenhum”.  

Por tudo isso, e pelo exemplo acima, tomei uma decisão! Estou desistindo de ser um “Doutor”, pois também não vou me submeter a um sistema que utiliza conceitos da ciência “taylorista” para comprovar eficiência discente e docente. Prefiro seguir de forma autônoma e independente, me impondo cada vez mais instigantes desafios, os quais, tenho certeza, muitos daqueles operários do artigo científico para “rechear Lattes” seriam incapazes de vencer.  


Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
tua blogada deste fim de semana traz uma solidariedade muito significativa: obrigado.
A edição de meu blogue que circulará nesta segunda-feira remeterá a teus escritos.
Com gratidão

attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com