Mestrado e Doutorado fazem parte da Pós-Graduação "Strico Sensu" |
Esta semana vou me fazer avesso
aos noticiários. Deixo-os de lado para tratar de um tema que há muito me
incomoda e que adiava tratar. Quero falar das formações de pós-graduação,
especificamente daquelas direcionadas a profissionais com interesse na área de
pesquisa, o Mestrado e o Doutorado.
Primeiro, como devoto do fazer
educação, aproveito para explicar como funciona esse tipo de formação. E
pretendo ser direto e objetivo, sem muitas querelas, como eu a conheço. Mesmo
que alguns digam “faltou isso e aquilo” depois de lerem.
As formações em nível de
pós-graduação ocorrem de duas formas: as de especialização, também denominadas
“lato sensu”, e as direcionadas à pesquisa, também chamadas “stricto sensu”. As
primeiras são cursos de no mínimo 360 horas, e que direcionam a formação para
temas específicos complementares.
O MBA é um estilo de Pós-Graduação para especialistas em Administração de Empresas |
Alguns inclusive são chamados de
MBA, quando formam especialistas na ciência administrativa. Já as formações
“stricto sensu” são controladas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior) e pelo CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico). Elas acontecem em três níveis: Mestrado, Doutorado e
Pós-Doutorado. Neste caso, o aluno qualificado recebe titulação como “Mestre”,
“Doutor” ou “Pós-Doutor”.
Muito bem. Mas para que servem
estes títulos? Desculpem se houve expectativas de vocês, mas vou me reservar a
abordar o segundo caso. Os profissionais com titulação “stricto sensu” podem
ministrar aulas em instituições de nível superior. Faculdades e universidades
tem requisitado docentes que a possuam. A titulação de “Mestre” em
Educação que recebi foi obtida ao final de 2008 na Unisinos, sob a
orientação de um Pós-Doutor.
Passados cinco anos, pretendia a
titulação logo acima, de “Doutor” em Educação. E já estava com o projeto de
tese em vias de submeter a uma comissão avaliadora. Mas uma coisa me chamou a
atenção nos últimos anos, e me fez mais crítico em relação a estas titulações.
Aos que se inserem nestas formações, há cada vez mais exigência na produção de
artigos acadêmicos para revistas de relevância na área de pesquisa, mesmo que
eles, os artigos, sejam de qualidade duvidosa. Parece que importa mesmo é
acumular no “Currículo Lattes” a maior quantidade possível destes artigos neste
comumente chamado “produtivismo acadêmico”. E tenho visto “cada coisa”...
Instituições de Ensino Superior tem exigido de seus discentes e docentes em área de pesquisa a produção massiva de artigos acadêmicos, valorizando-os mais pela quantidade do que pela qualidade. |
E também as universidades que
contratam estes “titulados” como docentes, tem lhes exigido cada vez mais
“recheios” ao Lattes. Sob pena inclusive de serem convidados a deixar a
instituição, caso não tenham consistência produtiva neste quesito. E foi o que
aconteceu com meu orientador de Mestrado, professor e pós-doutor Attico
Chassot. Contratado para ministrar aulas no programa de pós-graduação de uma
instituição da região metropolitana de Porto Alegre, que forma Mestres e Doutores, foi sumariamente demitido
sob esse argumento. Imaginem só! Um homem de sólida bagagem acadêmica, autor de
sete obras relevantes na educação científica, ser relegado por escassez de
produção acadêmica.
Destaca
ele na edição do seu Blog no dia 31 de agosto passado:
“A 1º de março de 2013, a convite, fui contratado como professor
de um Programa de Pós Graduação em Educação. Enchi-me de entusiasmo. Teci
sonhos. Refiz planos. Mas não fraudei minhas convicções. Organizei seminário
inédito, muito bem avaliado pelos participantes em um mestrado muito
promissor.
Prof. Attico Chassot é Pós-Doutor pela Universidade Complutense de Madri e Autor de 7 obras de educação científica |
Em dias de julho, meus colegas e eu recebemos algo assim: “Como
estamos finalizando o primeiro semestre, tendo em vista manter suas pastas
atualizadas, solicitamos a entrega impreterivelmente até o dia 15/07 de
relatório da produção do semestre”.
Em minha resposta, após menos de cinco meses na instituição
enviei o relatório [...].
Meu relatório foi avaliado. Recebi aviso para comparecer à
instituição, para ser demitido no mesmo dia [...] Argumento para demissão: meu
perfil não tinha produção que o mercado exigia. Precisavam de produtores de
artigos científicos publicados em revistas com impacto acadêmico. “Eu, em cinco
meses, não anunciara nenhum”.
Por tudo isso, e pelo exemplo
acima, tomei uma decisão! Estou desistindo de ser um “Doutor”, pois também não
vou me submeter a um sistema que utiliza conceitos da ciência
“taylorista” para comprovar eficiência discente e docente. Prefiro seguir de
forma autônoma e independente, me impondo cada vez mais instigantes desafios,
os quais, tenho certeza, muitos daqueles operários do artigo científico para
“rechear Lattes” seriam incapazes de vencer.
Um comentário:
Meu caro Jairo,
tua blogada deste fim de semana traz uma solidariedade muito significativa: obrigado.
A edição de meu blogue que circulará nesta segunda-feira remeterá a teus escritos.
Com gratidão
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
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