Corpo de Bombeiros interditou vários acampamentos farroupilhas |
Esta semana a gauchada foi surpreendida pela
interdição de galpões nos acampamentos farroupilhas de diversos municípios do Estado.
Ninguém tem dúvidas de que o evento que redundou nas vítimas da Boate Kiss de
Santa Maria gerou maiores preocupações toda vez que há acúmulo de populares
aqui no Estado. Mesmo assim, ouvi de parte de tradicionalistas que algumas solicitações
do Corpo de Bombeiros seriam exageradas. Todavia, quando se tem estabelecidas
tragédias como aquela de janeiro passado, há um clamor generalizado pela falta
de fiscalização e a busca de direitos.
Observando o cenário onde os adeptos das tradições
gauchas se reúnem, notam-se muitas Não Conformidades, desde instalações elétricas
improvisadas e irregulares, e que qualquer principiante em NR 10 reprovaria,
passando por botijões de gás GLP com mangueiras vencidas e próximos de fogões de
lenha, com grande risco de aquecimento e explosão, totalmente inadequado para a
NR 13, Caldeiras e Vasos de Pressão, ou até mesmo, sob a ótica da NR 20,
Combustíveis e Inflamáveis.
Aliás, há alguns locais onde os “gaudérios” se reúnem
nestes dias, e que podem ser considerados “Espaços Confinados”, se levarmos em
conta a NR 33. Lugares estes que concentram fumaças originadas de processos de
queima incompleta de combustíveis, como um galpão que estive dia destes a
convite de amigos, para tomar um chimarrão com conhecidos. E todos à beira do
fogo de chão, suportando de olhos vermelhos e lacrimejantes curtindo a
verdadeira tradição gaucha.
São inúmeras as condições irregulares nos acampamentos farroupilhas |
Mas se pode perguntar se levarmos em conta a
atualidade deste nosso século XXI: “Se vivemos num tempo onde se sabe quais os
riscos de estar expostos a todas estas condições inseguras, porque devemos
seguir adotando um comportamento resistente em relação a isso?” Houve um amigo
meu ainda que me retrucou minha posição: “Mas professor Jairo, devemos manter a
tradição gaucha. Se modernizarmos demais podemos perder estas características ao
longo dos anos!” Para não ser indelicado, ou “grosso”, como requer o termo
adequado nesta semana farroupilha, me fiz indiferente.
Nós que somos responsáveis nas escolas técnicas
gauchas pela formação de profissionais preocupados com a ciência prevencionista,
não podemos aceitar nenhuma condição que esteja abaixo da garantia da vida
humana em qualquer circunstancia. Desculpas para tolerar condições de risco em
locais de grande circulação de populares, mesmo sob o argumento de conservar as
tradições antepassadas, não são suficientes e não devem ser para nenhum de nós.
Se naquele local de Santa Maria, onde se
perpetuou uma das maiores tragédias nacionais em janeiro deste ano, houvesse
maior fiscalização e não fossem toleradas as condições impostas ou concedidas autorizações de
funcionamento, por certo não estaríamos chorando as quase trezentas vítimas que
ali perderam a vida. Acredito que deva haver sim responsabilização das autoridades
públicas pela liberação destes espaços, implicando inclusive em pena de reclusão
destes mandatários do poder em todos os níveis, como secretários, prefeitos, governadores
e até mesmo presidentes.
O Corpo de Bombeiros, subordinado ao governo
do estado, deve estar atento a estas condições e impedir que estas
irregularidades impliquem em tragédias irreversíveis. É necessário que não se forneçam
oportunidades para que a população deixe de ter confiança nos órgãos fiscalizadores,
grandes responsáveis pelo cuidado das condições de segurança nestes locais
públicos. E isso não representa dizer que estamos descuidando das tradições gauchas,
porque o toque de uma gaita, a beleza da dança gaucha e o sabor do verdadeiro
churrasco não precisam conviver com as condições inseguras no acampamento
farroupilha.
Um comentário:
Meu caro Jairo,
a boate Kiss não pode ser esquecida. Como mostra com acerto: as exigências no Acampamento Farroupulha são um tributo aos mortos de S anta Maria.
Attico Chassot
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