14 setembro 2013

VIVENDO A TRADIÇÃO, MAS COM SEGURANÇA

Corpo de Bombeiros interditou vários acampamentos farroupilhas
Esta semana a gauchada foi surpreendida pela interdição de galpões nos acampamentos           farroupilhas de diversos municípios do Estado. Ninguém tem dúvidas de que o evento que redundou nas vítimas da Boate Kiss de Santa Maria gerou maiores preocupações toda vez que há acúmulo de populares aqui no Estado. Mesmo assim, ouvi de parte de tradicionalistas que algumas solicitações do Corpo de Bombeiros seriam exageradas. Todavia, quando se tem estabelecidas tragédias como aquela de janeiro passado, há um clamor generalizado pela falta de fiscalização e a busca de direitos.

Observando o cenário onde os adeptos das tradições gauchas se reúnem, notam-se muitas Não Conformidades, desde instalações elétricas improvisadas e irregulares, e que qualquer principiante em NR 10 reprovaria, passando por botijões de gás GLP com mangueiras vencidas e próximos de fogões de lenha, com grande risco de aquecimento e explosão, totalmente inadequado para a NR 13, Caldeiras e Vasos de Pressão, ou até mesmo, sob a ótica da NR 20, Combustíveis e Inflamáveis.
São inúmeras as condições irregulares nos acampamentos farroupilhas
Aliás, há alguns locais onde os “gaudérios” se reúnem nestes dias, e que podem ser considerados “Espaços Confinados”, se levarmos em conta a NR 33. Lugares estes que concentram fumaças originadas de processos de queima incompleta de combustíveis, como um galpão que estive dia destes a convite de amigos, para tomar um chimarrão com conhecidos. E todos à beira do fogo de chão, suportando de olhos vermelhos e lacrimejantes curtindo a verdadeira tradição gaucha.

Mas se pode perguntar se levarmos em conta a atualidade deste nosso século XXI: “Se vivemos num tempo onde se sabe quais os riscos de estar expostos a todas estas condições inseguras, porque devemos seguir adotando um comportamento resistente em relação a isso?” Houve um amigo meu ainda que me retrucou minha posição: “Mas professor Jairo, devemos manter a tradição gaucha. Se modernizarmos demais podemos perder estas características ao longo dos anos!” Para não ser indelicado, ou “grosso”, como requer o termo adequado nesta semana farroupilha, me fiz indiferente.

Nós que somos responsáveis nas escolas técnicas gauchas pela formação de profissionais preocupados com a ciência prevencionista, não podemos aceitar nenhuma condição que esteja abaixo da garantia da vida humana em qualquer circunstancia. Desculpas para tolerar condições de risco em locais de grande circulação de populares, mesmo sob o argumento de conservar as tradições antepassadas, não são suficientes e não devem ser para nenhum de nós.
 
É necessário que os órgãos fiscalizadores hajam com
responsabilidade para evitar tragédias
Se naquele local de Santa Maria, onde se perpetuou uma das maiores tragédias nacionais em janeiro deste ano, houvesse maior fiscalização e não fossem toleradas as condições impostas ou concedidas autorizações de funcionamento, por certo não estaríamos chorando as quase trezentas vítimas que ali perderam a vida. Acredito que deva haver sim responsabilização das autoridades públicas pela liberação destes espaços, implicando inclusive em pena de reclusão destes mandatários do poder em todos os níveis, como secretários, prefeitos, governadores e até mesmo presidentes.

O Corpo de Bombeiros, subordinado ao governo do estado, deve estar atento a estas condições e impedir que estas irregularidades impliquem em tragédias irreversíveis. É necessário que não se forneçam oportunidades para que a população deixe de ter confiança nos órgãos fiscalizadores, grandes responsáveis pelo cuidado das condições de segurança nestes locais públicos. E isso não representa dizer que estamos descuidando das tradições gauchas, porque o toque de uma gaita, a beleza da dança gaucha e o sabor do verdadeiro churrasco não precisam conviver com as condições inseguras no acampamento farroupilha.       

  

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Meu caro Jairo,
a boate Kiss não pode ser esquecida. Como mostra com acerto: as exigências no Acampamento Farroupulha são um tributo aos mortos de S anta Maria.
Attico Chassot