01 agosto 2015

NOSSA GRENALIZAÇÃO POLÍTICA



Servidores prometem greve geral a partir desta segunda-feira.
Não sou muito afeito a tratar temas políticos, religiosos ou esportivos, pois são capazes de gerar polêmicas desnecessárias e catalisar manifestações ambíguas de todos os lados. Dificilmente estas discussões resultam em convergência de ideias. Mas esta semana, devido à decisão do governo estadual em parcelar o pagamento do funcionalismo, e do impacto que isso pode trazer a nós beneficiários do serviço público, resolvi expor meu ponto de vista.

Sempre fui uma voz dissonante em relação a partidos políticos, pois não é do meu feitio assumir uma única bandeira e defende-la à exaustão. Sou mais habituado e me identifico com pessoas, pois acredito que assim como nas profissões, onde existem bons e maus profissionais, na politica também, independente de partidos, há os bons e os ruins.

A Grenalização é uma teoria que nos atinge
Durante um determinado tempo também resisti a aceitar a teoria da “grenalização” de tudo, como um paradigma que está entranhado na sociedade gaúcha. Mas numa análise um pouco mais aprofundada percebi que a teoria tem seus postulados assentados em atitudes e posturas que a qualificam como pertinente. Portanto, não foi difícil aceita-la como verdadeira em nosso caso. E na política isso é ainda mais evidente. Senão, vejamos.
 
Muitos governos estaduais se passaram, alternando partidos das mais variadas teorias políticas: democratas, social-democratas, trabalhistas, etc... Todos sempre foram sucedidos, gestão a gestão, por uma nova proposta. Nunca houve uma gestão de prazo mais longo, pois a população entendeu sempre que uma mesma proposta não deve se perpetuar no poder. E assim, trocamos partidos e propostas a cada mandato. Fazendo uma pequena retrospectiva, veja a tabela abaixo:


Diferentemente de outros estados, em que muitas vezes a população procura dar continuidade em determinado projeto, apostando em mais um mandato que proporcione tempo suficiente para consolidar as ações, por aqui parece que a questão sempre é tratada com ódio e rancor.  Há aqueles a favor e outros contra. Parece que ninguém é a favor do Estado, mas contra ou a favor de um candidato, de um partido. É a chamada “grenalização”, similar às únicas duas equipes que dividem o Rio Grande em duas torcidas. Não há espaço para o São José, o Cruzeiro, o Cerâmica, etc. Até mesmo Juventude e Caxias, os dois conhecidos times da Serra, possuem uma torcida não muito fanática, pois em seus quadros também ocorre uma “grenalização”, o que dificulta a ascensão das duas equipes na representação do Estado. Basta observar quando um dos times da capital vai jogar por lá.

A maioria dos coronéis da BM está aposentada
Mas e o parcelamento dos salários dos servidores públicos? O que tem a ver com isso? Tem muito a ver. A alternância de propostas faz com que muitas decisões envolvendo os três poderes da esfera estadual estejam prenhes de vaidade, inveja e egoísmo. Tanto o Executivo, quanto o Legislativo e o Judiciário se investem de uma arrogância procurando fazer história e querendo mostrar o que realmente não são. A elaboração e aprovação de leis privilegiando determinadas categorias do Estado foi o que nos levou a este “caos” nas contas públicas. 

Só para exemplificar, uma notícia de Zero Hora na semana anterior e que comprova isso: “Folha de pagamento de coronéis pagos pela BM tem 96% de inativos”. E a notícia ainda é complementada na mesma edição: “Entre os 497, há apenas 21 em atividade. Salário bruto médio é de R$21 mil para aposentados”. Fica a pergunta: “Quem aprovou uma legislação como essa, que consegue colocar todo este contingente na aposentadoria enquanto a população clama por segurança?” Certamente aí tem o dedo do Legislativo gaúcho, que elaborou a lei, do Executivo gaúcho que assinou e do Judiciário gaúcho que a fez cumprir. Ou seja, temos uma sequencia de governos irresponsáveis que levaram a esta situação em que nos encontramos. Decisões tomadas ao sabor das vaidades, para mostrar o “eu faço” o que “o outro não fez”. Foi no meu governo que os coronéis da Brigada Militar tiveram o melhor benefício. Mas e as custas de quem? Do dinheiro de quem?

Tarso Genro se manifesta através do Facebook
No mês de fevereiro passado, o governador Sartori reverteu uma decisão do antecessor Tarso Genro, e que deixou perplexa a categoria militar. Rebaixou de posto 23 oficiais da Brigada Militar que haviam sido promovidos, sendo que sete coronéis voltaram a ser tenentes e 16 voltaram ao posto de major. É esta distribuição de benesses que vai inchando a folha de pagamentos do Estado, e tornando o futuro cada vez mais incerto. Não é por acaso que a Associação de PMs pede a prisão do governador neste momento. 

Esta semana li com perplexidade o que escreveu o ex-governador Tarso Genro em seu Facebook. Um homem que considero inteligente, se manifestou bem ao estilo da teoria da grenalização. Observem atentos. Diz ele: “Quanto à situação financeira do RS basta publicar o que disse como Governador e na Campanha. E disse o que faria. Não ouviu quem não quis.” E faz uma denuncia, de que o atual governador está cumprindo uma agenda 20/20 da empresa RBS de comunicações. Mas o encerramento de sua declaração vem carregado de ressentimento, de ódio e rancor, talvez por não ter sido reeleito. Como uma espécie de “não falei pra vocês?” Afirma ele: “Justiça seja feita. O povo gaúcho não foi enganado. O Governador disse que não sabia o que iria fazer. Está cumprindo a sua promessa”. Isso mais uma vez comprova que nossa população, assim como os nossos representantes são adeptos da teoria da “grenalização”, onde só existem “o bom e o ruim”, “a esquerda e a direita”, “o certo e o errado”, “o preto e o branco”.

A Teoria Maniqueísta do Bem e do Mal
Talvez tenhamos por aqui ressuscitado Maniqueu e sua teoria, dividindo o mundo simplesmente entre o Bem (Deus) e o Mal (Diabo). Nada mais há que possa melhorar nossa condição de vida. E desta forma vamos alternando candidatos e suas propostas, ora elegendo para nos governar alguém do Bem, ora alguém do Mal, ora alguém do Grêmio, ora alguém do Internacional. E todos esquecem aquilo que é o mais importante: o Estado e a população que o habita. A cada mandato desfilam as vaidades e os projetos pessoais e partidários.  

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado Jairo,
na adesão a tua tese vale dizer, houve tempo que no Rio Grande do Sul se nascia católico, protestante, episcopaliano, espírita etc. Hoje se nasce gremista ou colorado. Basta correr olhos nos corredores de uma maternidade. Estas são as bases deste fenômeno retrógrado do gauchismo: a grenalização.
Uma boa semana com esta tua significativa blogada.