Servidores prometem greve geral a partir desta segunda-feira. |
Não sou muito afeito a
tratar temas políticos, religiosos ou esportivos, pois são capazes de gerar
polêmicas desnecessárias e catalisar manifestações ambíguas de todos os lados.
Dificilmente estas discussões resultam em convergência de ideias. Mas esta
semana, devido à decisão do governo estadual em parcelar o pagamento do
funcionalismo, e do impacto que isso pode trazer a nós beneficiários do serviço
público, resolvi expor meu ponto de vista.
Sempre fui uma voz
dissonante em relação a partidos políticos, pois não é do meu feitio assumir
uma única bandeira e defende-la à exaustão. Sou mais habituado e me identifico
com pessoas, pois acredito que assim como nas profissões, onde existem bons e
maus profissionais, na politica também, independente de partidos, há os bons e
os ruins.
A Grenalização é uma teoria que nos atinge |
Durante um determinado
tempo também resisti a aceitar a teoria da “grenalização” de tudo, como um paradigma
que está entranhado na sociedade gaúcha. Mas numa análise um pouco mais
aprofundada percebi que a teoria tem seus postulados assentados em atitudes e
posturas que a qualificam como pertinente. Portanto, não foi difícil aceita-la
como verdadeira em nosso caso. E na política isso é ainda mais evidente. Senão,
vejamos.
Muitos governos estaduais se
passaram, alternando partidos das mais variadas teorias políticas: democratas,
social-democratas, trabalhistas, etc... Todos sempre foram sucedidos, gestão a gestão,
por uma nova proposta. Nunca houve uma gestão de prazo mais longo, pois a população
entendeu sempre que uma mesma proposta não deve se perpetuar no poder. E assim,
trocamos partidos e propostas a cada mandato. Fazendo uma pequena
retrospectiva, veja a tabela abaixo:
Diferentemente de outros
estados, em que muitas vezes a população procura dar continuidade em determinado
projeto, apostando em mais um mandato que proporcione tempo suficiente para
consolidar as ações, por aqui parece que a questão sempre é tratada com ódio e
rancor. Há aqueles a favor e outros contra.
Parece que ninguém é a favor do Estado, mas contra ou a favor de um candidato,
de um partido. É a chamada “grenalização”, similar às únicas duas equipes que
dividem o Rio Grande em duas torcidas. Não há espaço para o São José, o
Cruzeiro, o Cerâmica, etc. Até mesmo Juventude e Caxias, os dois conhecidos times
da Serra, possuem uma torcida não muito fanática, pois em seus quadros também
ocorre uma “grenalização”, o que dificulta a ascensão das duas equipes na representação
do Estado. Basta observar quando um dos times da capital vai jogar por lá.
A maioria dos coronéis da BM está aposentada |
Mas e o parcelamento dos
salários dos servidores públicos? O que tem a ver com isso? Tem muito a ver. A alternância
de propostas faz com que muitas decisões envolvendo os três poderes da esfera
estadual estejam prenhes de vaidade, inveja e egoísmo. Tanto o Executivo,
quanto o Legislativo e o Judiciário se investem de uma arrogância procurando
fazer história e querendo mostrar o que realmente não são. A elaboração e aprovação
de leis privilegiando determinadas categorias do Estado foi o que nos levou a
este “caos” nas contas públicas.
Só para exemplificar, uma notícia de Zero Hora
na semana anterior e que comprova isso: “Folha de pagamento de coronéis pagos pela
BM tem 96% de inativos”. E a notícia ainda é complementada na mesma
edição: “Entre os 497, há apenas 21 em atividade. Salário bruto médio é de R$21
mil para aposentados”. Fica a pergunta: “Quem aprovou uma legislação como
essa, que consegue colocar todo este contingente na aposentadoria enquanto a população
clama por segurança?” Certamente aí tem o dedo do Legislativo gaúcho, que
elaborou a lei, do Executivo gaúcho que assinou e do Judiciário gaúcho que a fez
cumprir. Ou seja, temos uma sequencia de governos irresponsáveis que levaram a
esta situação em que nos encontramos. Decisões tomadas ao sabor das vaidades,
para mostrar o “eu faço” o que “o outro não fez”. Foi no meu governo que os coronéis
da Brigada Militar tiveram o melhor benefício. Mas e as custas de quem? Do
dinheiro de quem?
Tarso Genro se manifesta através do Facebook |
No mês de fevereiro passado,
o governador Sartori reverteu uma decisão do antecessor Tarso Genro, e que deixou
perplexa a categoria militar. Rebaixou de posto 23 oficiais da Brigada Militar
que haviam sido promovidos, sendo que sete coronéis voltaram a ser tenentes e 16
voltaram ao posto de major. É esta distribuição de benesses que vai inchando a
folha de pagamentos do Estado, e tornando o futuro cada vez mais incerto. Não é por acaso que a Associação de PMs pede a prisão do governador neste momento.
Esta semana li com
perplexidade o que escreveu o ex-governador Tarso Genro em seu Facebook. Um
homem que considero inteligente, se manifestou bem ao estilo da teoria da
grenalização. Observem atentos. Diz ele: “Quanto à situação financeira do RS basta
publicar o que disse como Governador e na Campanha. E disse o que faria. Não
ouviu quem não quis.” E faz uma denuncia, de que o atual governador
está cumprindo uma agenda 20/20 da empresa RBS de comunicações. Mas o
encerramento de sua declaração vem carregado de ressentimento, de ódio e
rancor, talvez por não ter sido reeleito. Como uma espécie de “não falei pra vocês?”
Afirma ele: “Justiça seja feita. O povo gaúcho não foi enganado. O Governador disse
que não sabia o que iria fazer. Está cumprindo a sua promessa”. Isso
mais uma vez comprova que nossa população, assim como os nossos representantes são
adeptos da teoria da “grenalização”, onde só existem “o bom e o ruim”, “a
esquerda e a direita”, “o certo e o errado”, “o preto e o branco”.
A Teoria Maniqueísta do Bem e do Mal |
Talvez tenhamos por aqui
ressuscitado Maniqueu e sua teoria, dividindo o mundo simplesmente entre o Bem (Deus)
e o Mal (Diabo). Nada mais há que possa melhorar nossa condição de vida. E
desta forma vamos alternando candidatos e suas propostas, ora elegendo para nos governar alguém do
Bem, ora alguém do Mal, ora alguém do Grêmio, ora alguém do Internacional. E todos esquecem aquilo que é o mais importante: o Estado e a população que o habita. A cada mandato desfilam as vaidades e os projetos pessoais e partidários.
Um comentário:
Muito estimado Jairo,
na adesão a tua tese vale dizer, houve tempo que no Rio Grande do Sul se nascia católico, protestante, episcopaliano, espírita etc. Hoje se nasce gremista ou colorado. Basta correr olhos nos corredores de uma maternidade. Estas são as bases deste fenômeno retrógrado do gauchismo: a grenalização.
Uma boa semana com esta tua significativa blogada.
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