28 agosto 2015

VAMOS CHAMAR O PAPA?

A visita de J. Paulo II marcou a história do RS
Foi aqui mesmo, no Rio Grande do Sul, que o Papa foi chamado de “pop”. Depois de uma visita que se tornou inesquecível para muitos há trinta e cinco anos atrás, a inspiração se fez canção na voz do grupo “Engenheiros do Havaí”. Um dos maiores jornais da capital dava em manchete no dia seguinte: “Porto Alegre parou na ensolarada manha do dia 05 de julho de 1980 para acompanhar a cerimonia mais importante da estada de João Paulo II na cidade, a missa campal. Na rotula das avenidas Jose de Alencar e Erico Veríssimo, hoje oficializada como Rótula do Papa, o pontífice rezou sua primeira e única missa no Rio Grande do Sul.”

O evento marcou a história do Estado, por receber pela primeira e única vez a autoridade máxima da igreja católica. E depois de quase quatro décadas, outro papa passou pelo Brasil. Este agora, embora de nacionalidade mais próxima de nós, principalmente de nós gaúchos, não teve tempo de nos visitar. Todavia, tenho por ele imensa admiração, desde que o argentino Jorge Mario Bergoglio foi escolhido naquela quarta-feira, 13 de março de 2013 em Roma. Eu que já havia criado uma empatia enorme pelos “hermanos fronteiriços”, após consolidar uma frutífera amizade com o bonaerense professor Daniel Mainero, em parcerias que fizemos desde 2007, agora vibrava com a escolha. E não me frustraria certamente...

Bergoglio assumiu o pontifício na renúncia de Bento XVI
E a herança assumida por Francisco I, codinome atribuído ao demandado, não foi nada alentadora. Se não me engano, foi a primeira vez que um Papa assumiu o trono do vaticano sob a renúncia de seu antecessor, um radical Bento XVI, que acredito tenha se exaurido diante das denúncias de corrupção e pedofilia na Santa Sé.

Aos poucos, Francisco foi dando o “ar da graça” com sabedoria e extrema habilidade, mostrando ao que tinha vindo: realizar uma transformação no comando da secular igreja católica romana. Aposentou cardeais da velha cúpula, removeu lideranças pouco confiáveis e promoveu religiosos desconhecidos, até então. Trouxe outros líderes de continentes que sequer tinham representação, principalmente da América Central e África.

Ambientalistas agradecem a Encíclica "Laudato Si"
Suas manifestações foram sempre muito originais e cheias de sinceridade, jamais se furtando de tratar os temas polêmicos. Contrariamente àqueles que o antecederam, Francisco não deixou nenhuma pergunta com meia resposta. Pressionado pela imprensa mundial, deu respostas à altura sobre temas como a fortuna da igreja, sobre o aborto, sobre a sexualidade, sobre o celibato no sacerdócio e, principalmente, sobre a pedofilia.

Algumas frases do pontífice se destacaram ao longo destes anos, demonstrando sua sagacidade e inteligência. Através delas pode se ter uma ideia de que forma tem conduzido a administração do seu pontificado.

“Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e solidário”.

"Os chefes da Igreja frequentemente são narcisistas, adulados e estimulados de forma negativa por seus cortesãos. A corte é a lepra do Papado. A Cúria Romana tem um defeito, é ‘vaticanocêntrica’. Esta visão se esquece do mundo que nos cerca. Não compartilho desta visão e irei mudá-la"

“Se uma pessoa é gay e busca a Deus, quem sou eu para julgá-la? “

“Não há esforço de pacificação duradouro com uma sociedade que abandona parte de si mesma.”

“Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo.”

“Um jovem que não protesta não me agrada. Porque o jovem tem a ilusão da utopia, e a utopia nem sempre é ruim. É preciso ouvir os jovens, dar-lhes lugares para se expressar, e cuidar para que não sejam manipulados.”

“O confessionário não deve ser uma câmara de tortura.”


Recentemente Francisco I publicou uma encíclica, documento através do qual lança os parâmetros que orientarão as ações nos próximos meses de pontificado. Ele é direcionado aos patriarcas, arcebispos, bispos, presbíteros e fieis da igreja católica, mas repercute em quase toda a sociedade, tendo em vista sua penetração. O documento divulgado no dia 18 de junho deste ano, denominado “Laudato Si” (Louvado Seja), chama a atenção para o cuidado com o meio ambiente e seu impacto para as populações do planeta. Possui cinco pontos relevantes. Primeiramente destaca a realidade do aquecimento global e suas consequências para a disponibilidade de água, os prejuízos para a agricultura e a extinção dos animais. Salienta também que o homem é o maior responsável pelo aquecimento global, com suas ações inconsequentes e irresponsáveis. O terceiro ponto incumbe aos países ricos uma dívida com os países pobres, que exploram seus recursos para alimentar sua produção e consumo. Chama a atenção para a existência de instituições internacionais fortes, capazes de punir os infratores das regras estabelecidas. Por último, a encíclica faz um pedido austero para que haja pressão sobre as lideranças políticas, no sentido de proteger os desamparados e desabrigados, além de aconselhar a que modifiquemos nossos pequenos hábitos em prol de uma transformação geral.

A sociedade brasileira clama por uma nova ordem
Por tudo isso, o novo Papa tem demonstrado uma grande capacidade de liderança, desconstruindo uma estrutura arcaica estabelecida na antiga e retrógrada cúria romana, prenhe de corrupção e de atitudes e posturas perniciosas dentro da igreja católica romana. Nosso país, e também nosso Estado, parecem carecer de alguém com idêntico perfil. Quem sabe não necessitamos também por aqui uma renúncia diante do caos estabelecido, e a escolha de um novo Papa, que nos leve a transformações profundas capazes de modificar a realidade brasileira?       

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Muito estimado colega Jairo, parabéns pela oportuna divulgação da Laudato si’. Todas minhas falas mais recentes (semana passada 5 no Ceará e nesta 4 no Rio Grande do Norte) tenho aberto com um prelúdio para destacar a encíclica de Francisco.
Leciona na graduação a disciplina Ética, Sociedade e Meio Ambiente onde discutimos a Laudato si’. Na Universidade do Adulto Maior e no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão também é objeto de estudo. Foi assunto de alguns dos meus blogares.
Parabéns por tua difusão da mesma