As notícias políticas da semana se repetem |
Não vou falar de política esta semana, nem de Dilma, nem de Lava-Jato.
Muito menos de Sartori, da crise que afeta o Estado e do parcelamento de
salários. Mas vou comentar um tema que em toda esta parafernália que aí está,
muito me preocupa, e no qual me sinto bastante inserido: a educação.
Comecemos pelas responsabilidades da União em relação à educação. Depois
de uma esplendorosa arrancada, que parecia promissora na formação de nossos
jovens através do PRONATEC, o retrocesso sucedâneo ao ano eleitoral foi
um verdadeiro "balde de água fria" na nossa empolgação. Fiquei estupefato com o blefe que o governo
federal deu na educação, cancelando mais de 80% das verbas destinadas às
Escolas Técnicas. Sem contar ainda com o corte severo no FIES da educação
superior, deixando muitos universitários desamparados e sem condições de seguir
a formação tão sonhada.
Inesperadamente o governo federal cortou as verbas do Pronatec |
Sou testemunha do quanto as escolas técnicas investiram e se prepararam
para uma nova realidade. Reformaram instalações, adquiriram mobiliário novo,
estruturaram laboratórios, contrataram docentes, etc. e tal. Eis que de
repente, a notícia inesperada chega de supetão: “Corte nas verbas do Pronatec.”
E não foi um cortezinho! Foi uma “foiçada”! Agora, só quem está vivendo a
realidade destas instituições, como eu, prá comprovar a dificuldade de retomar
a antiga realidade. E muitos pais e mães, que se preparavam para matricular os
filhos baseados nas alardeadas promessas de campanha, se indignaram com o
cancelamento. Num primeiro momento, inclusive, atribuíram a culpa às escolas.
No caso da educação como competência do Estado, o nosso Rio Grande do
Sul vai de mal a pior. Escolas caindo aos pedaços, com infraestrutura corroída
pela falta de planejamento e de manutenção. O governo que entrou, como sempre,
atribui o caos ao seu antecessor. O governo que saiu, como sempre, afirma
peremptoriamente que deixou tudo as mil maravilhas quando entregou o bastão.
Não se sabe onde está a verdade. O discurso político ridículo e enganador tem
emissário de ambos os lados, sem que haja provas.
Presidente do CPERS discursa no carro de som em frente ao Palácio Piratini |
Penso que a educação de nível médio, essa sob a responsabilidade de
escolas estaduais espalhadas por todo o Estado, está longe de conseguir
resgatar seus tempos de glória. E uma enorme parcela deste fracasso passa pelas
iniciativas de um sindicato sovina, incompetente e de ideias ultrapassadas. Um
sindicato que incentiva a inoperância docente, com professores que não executam
nada mais do que suas aulinhas obrigatórias, com raríssimas exceções. E o
motivo disso é a tão defendida “isonomia” salarial, onde todo mundo deve ganhar
a mesma coisa, independente de suas habilidades e competências. Uma
desmotivação total toma conta da categoria, já que o mérito não é premiado e
valorizado como ocorre na iniciativa privada. Sendo assim, o que mais se ouve
por ali são coisas do tipo: “Prá que eu vou me matar, se o salário é igual pra
todos?“
Aliás, cabe ressaltar que alguns governos fizeram esforços para
estabelecer um plano de meritocracia que valorizasse a categoria, e que lhes
atribuiria faixas salariais diferenciadas, entre eles a governadora Yeda
Cruzius. Mas depois de inúmeras tentativas, de idas e vindas na justiça, não
conseguiu vencer a resistência sindical. O resultado de tudo isso está sendo
colhido atualmente, com um CPERS (sindicato dos professores estaduais) de
discurso anacrônico e bastante repetitivo. Pude comprovar isso esta semana,
ouvindo sua presidente em cima do carro de som, nas manifestações em frente ao
Palácio Piratini. Vociferava aquelas mesmas palavras de ordem minhas conhecidas
da época do “Olívio”, presidente do sindicato dos bancários, quando eu
pertencia àquela categoria na década de 1970.
Mas e a educação de responsabilidade dos municípios? Como está? Vai
muito bem, obrigada. A partir de projetos de âmbito local, a maioria dos
municípios tem conseguido êxito em todas as suas iniciativas. Políticas de
remuneração de professores construídas a partir de negociações bem sucedidas e
com a anuência de representações sindicais mais compreensivas e com pensamento
contemporâneo. E um destes exemplos podem ser observados em Canoas, onde uma
revolução está em andamento, tanto que a cidade tomou para si o título de
“cidade educadora”. Ali foi adotada uma política de valorização dos
professores, com salários baseados na experiência, na qualidade e competência
docente. Ou seja, onde o mérito é valorizado.
Outros exemplos alvissareiros acontecem por todo o interior do Estado,
em que dificilmente se veem reclamações em relação à qualidade deste ensino.
Aliás, as reclamações de falta de qualidade no transporte de alunos e na
merenda escolar, em sua maioria, são de escolas sob a responsabilidade do
Estado, principalmente pela inconstância no repasse de verbas públicas.
Nada mais oportuno do que recordar as lições de nosso grande educador
ambiental, José Antonio Lutzenberger. Adepto dos projetos de baixo custo e das
ações de nível local, dizia ele que todas as soluções caseiras e pontuais são
muito mais eficientes do que aquelas sugeridas pelos “tecnocratas”. Para ele a
tecnocracia visa tao somente grandes projetos, pois ali existe a possibilidade
de “descontrole” e, principalmente, de desvio do dinheiro público. Quem sabe
possamos aprender mais com estas soluções locais, reconhecendo que está na hora
de mudar o pensamento em prol de uma educação que consagre, não a estabilidade
crônica que acomoda e oxida as iniciativas inovadoras, mas que incentive sim o
protagonismo, e que desafie os profissionais numa nova perspectiva de atuação.
Um comentário:
Meu caro Jairo!
Se tivéssemos que assinalar algo muito significativo nos três primeiros governos petista, a Educação é talvez o ponto alto, Também está no quarto governo a mesma Educação é das maiores vítimas dentre os desmandos da Presidente e os cortes (ou como dizes as podadas) no Pronatec os mais desoladores.
Concordo dolorido com teu texto.
attico chassot
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