28 novembro 2015

A TRAGÉDIA ANUNCIADA

Desde que inaugurei este espaço de comunicação há mais de oito anos, sempre procuro tecer comentários sobre temas de interesse geral. Por vezes há assuntos deveras relevantes, alegres e curiosos. E a eles dedico preciosas horas semanalmente para informar meus leitores nestes anos todos.

A disputa que polarizou a semana da capital pela ineficácia das autoridades
Muito relutei esta semana em voltar a falar do transporte público da capital e dos últimos acontecimentos. Mas não poderia me furtar diante dos fatos ocorridos.

Na semana passada eu falava aqui do monopólio do serviço público de transporte, que no caso de Porto Alegre, como na maioria das capitais brasileiras, é uma concessão. E que por ser concessão necessita ser regulamentado e fiscalizado. Claro que concordo que não se deve abrir para qualquer um oferecer este tipo de serviço. Seria uma temeridade e colocaríamos em risco nossas vidas. E do jeito que agiam os responsáveis pela concessão, como o prefeito da cidade e o presidente da EPTC, só poderia dar no que deu. Era uma tragédia anunciada. Precisou algumas horas para que uma horda de covardes travestidos de taxistas atacasse um pobre sujeito que, depois de cinco anos desempregado numa cidade de poucas oportunidades, buscava uma alternativa para pagar as contas da família.

Algumas calçadas e ruas do centro de Porto Alegre demonstram
a ineficácia do serviço público
O que vou manifestar agora é fruto de minha imensa insatisfação com estas duas instituições porto-alegrenses, a Prefeitura Municipal, na figura de seu mandatário e dos secretários que o auxiliam, e a Empresa Pública de Transporte e Circulação, nossa conhecida EPTC. A atuação destes órgãos é lamentável, digna de um choro coletivo pela falta do verdadeiro espírito de competência na gestão pública.

A administração da prefeitura municipal da capital gaúcha está muito aquém dos bons exemplos de prefeituras do interior gaúcho, onde algumas esbanjam princípios de gestão comparados a lugares do continente europeu. Prá que saibam os meus leitores, vou só exemplificar com dois municípios aqui próximos, Farroupilha e Carlos Barbosa. Antes que eu relate o que por lá acontece, convido-os a fazer uma visita a estes dois polos de progresso e desenvolvimento. Não vou traçar comparativos com a quantidade populacional, pois sempre há a desculpa que por aqui não se pode fazer muita coisa porque é muita gente. Mas são cidades muito bem administradas, onde a distribuição da riqueza é extremamente equilibrada, sem contar o capricho das ruas ajardinadas, asfaltadas e monumentos bem cuidados.

Agora, experimente passear por qualquer ruela da capital gaúcha? Ruas sujas, pontos de ônibus caindo aos pedaços, calçadas e meios fios quebrados, obras inacabadas por toda parte, praças abandonadas e mal conservadas e muito mais. No centro de Porto Alegre não há um ponto onde se possa aguçar a visão para algo do “belo”, do “novo”, do “bem arrumado”, do “capricho” imposto pelo serviço dos agentes públicos.

As “Obras da Copa” ainda estão por aí: a interminável obra da entrada de Porto Alegre, ali na avenida Ceará; o corredor da Protásio Alves, com aqueles funcionários da empreiteira costumeiramente dormindo encostados naqueles contêineres metálicos e que, em dia de chuva, desaparecem como ratos no esgoto; aquele corredor da avenida João Pessoa, que depois de quase finalizado foi outra vez quebrado e complicou mais uma vez o trânsito na frente da Redenção. Sem contar ainda a recuperação do Mercado Público Municipal pós incêndio, que se arrasta a alguns meses. Bom, vamos ficar por aqui, pois muito ainda se poderia desenterrar dos desleixos públicos municipais.
A já lendária obra de acesso a Porto Alegre, próxima ao aeroporto.

E quando o prefeito é chamado a falar sobre a real situação da capital, sobram argumentos sobre a necessidade de uma “discussão democrática”, de “ouvir a opinião pública”, de “submeter à população”. Também não discordo dessa postura, mas tem algumas coisas que necessitam de agilidade, de atitude. Dia desses escutei um ouvinte exaltado numa emissora local, depois de ouvir o prefeito argumentar que a questão do Uber deveria ser levada a um profundo debate: “É, senhor prefeito! E de debate em debate, de estudo em estudo, vamos empurrando tudo com a barriga!” Parece realmente que a rapidez e a celeridade na solução das questões públicas não é o forte do nosso mandatário.

Agora, vejamos a atuação da empresa que regula o transporte e a circulação de veículos na capital; nossa tão conhecida EPTC. Equipes de fiscais que se investem de autoridade para realizar um trabalho que até mesmo o jardineiro lá do meu condomínio teria capacidade de executar. Não que o nosso jardineiro seja incompetente, mas que o conhecimento que ele detém já seria suficiente para assumir a atividade que estes agentes realizam. Basta ficar parado num semáforo da capital, para observar o desrespeito dos motoristas ao avançar um sinal fechado, ao atravessar incólume uma faixa de pedestres, ao desrespeitar as conversões das vias. E onde estão os fiscais da EPTC? Muitas vezes atrás de árvores e postes de avenidas tentando surpreender motoristas no afã da mera arrecadação tributária para os cofres públicos. Assim como eu, quem como motorista da capital não foi surpreendido em casa com uma autuação sem saber o real motivo e ter a certeza do local indicado no boleto da autuação? No ano passado fui surpreendido com duas multas da EPTC em casa, uma infração teria ocorrido na avenida Severo Dullius, ali perto do aeroporto, estacionado em local indevido, e outra por porte de telefone móvel ao dirigir, na avenida Ipiranga,  sem ter qualquer chance de defesa.

Agentes da EPTC na autuação dos motoristas da capital
Mas ligando para o órgão de transporte e circulação, me informaram que deveria fazer um recurso e enviar, coisa que fiz. Até hoje sequer obtive resposta do recurso. Tenho quase certeza de que estes formulários todos, ao final do ano, acendem a churrasqueira das comemorações natalinas dos funcionários da EPTC.

Portanto, meus amigos, estamos longe de contar com uma administração que realmente seja eficiente no atendimento aos anseios da população porto-alegrense. É muito mais de mídia de um prefeito que considero honesto e cordial, mas deveras pachorrento nas tomadas de decisão, o que pode ser constatado nas condições em que se encontra nossa capital. De outro lado, um diretor-presidente de empresa pública de transporte investido de grande pose e autoridade, na condução de uma equipe incompetente, despreparada e sem rumo. Basta ver a atitude tomada por ambos no caso do Uber, e que redundou nos fatos lamentáveis desta semana.  

2 comentários:

Sheila guarilha disse...

O transporte de passageiros é uma máfia! As empresas e ou órgãos por trás dos veículos são bancos, rola muita grana! E cadê os investimentos?? Seja do que o passageiro paga, seja dos impostos "pagos" ??
Por que o metrô ainda não saiu?
Por que essa represália contra o umber?
Pouca vergonha!!
E os sindicatos das classes?? Apóiam os governantes e empresários??
E quem defende o direito do povo de escolher? De ter a decência de ir e vir em segurança.
EPTC, que até hoje não mostrou a que veio!! A não ser atrapalhar o trânsito!!
Também tenho vergonha dessa máfia, professor Jairo Brasil!!

Attico CHASSOT disse...

Salve, Jairo!
Bem posta as críticas à vil agressão ao motorista do Uber. Repetimos os luditas, no início da revolução industrial. Quebrava-se as máquinas pois estás tinham mais força que os humanos.
Adiro também tuas críticas às calçadas de Porto Alegre. Credito a elas um joelho molestado.
Um adeus a novembro. Que venha dezembro e depois as esperadas féria