Procrastinei inúmeras vezes
para escrever este artigo que vai tematizar a edição desta semana do Blog.
Sempre me vi tomado de uma certa angustia para tratar deste assunto bastante polêmico.
Mas a cada excerto que caia na minha mão para leitura nos últimos tempos, me
sentia na obrigação de externar minha opinião. Tomei conhecimento mais amiúde deste
assunto, quando há alguns anos atrás ouvi o comentário de uma autoridade da educação:
“O Brasil é um país com dois tipos de universitários: aquele das instituições públicas,
e o outro das instituições privadas”.
Desde cedo meus pais
buscaram qualidade em nossa formação, minha e de meu irmão. Portanto, fomos
privilegiados com escolas de ensino básico e médio de linha privada, mesmo que
os recursos financeiros fossem escassos. Escola pública só entrou em minha vida
nos idos da década de 1970, quando por extrema necessidade fui obrigado a
frequentar o colegial numa delas. E a qualidade era razoável, bem diferente da penúria
que vivenciamos hoje.
O custo de uma formação superior é bastante oneroso |
Depois, não havia recursos
suficientes para frequentar um cursinho pré-universitário, coisa imprescindível
para quem quisesse ter acesso às graduações mais concorridas na universidade
pública. Portanto, me vi na obrigação de sustentar uma instituição particular
com prestações verdadeiramente “milionárias”. Os valores estratosféricos nos
faziam seguidamente arrazoar uma renuncia ao sacrifício financeiro. Mas se quiséssemos
um futuro mais promissor, não havia alternativa. E assim fomos seguindo,
verdadeiramente “aos trancos e barrancos”.
Algumas instalações de instituições públicas são muito mal tratadas |
Mas foi há cerca de uns dez
anos, quando pude estrear em algumas formações de especialização e extensão,
frequentando instituições públicas, que me dei conta de algumas injustiças. E
quando falo “algumas”, mesmo correndo o risco de errar por ínfima margem, creio
que elas ocorram na ordem de mais de 50%. Ou seja, grande parte dos alunos que
frequentam estas instituições, são originários da classe média alta, cujos pais
possuem larga possibilidade de arcar integralmente com as formações dos mesmos.
Transitando pelas cercanias
dos campi de duas delas, onde inclusive fui aluno especial em algumas graduações,
se observam redutos de “patricinhas” e de “mauricinhos” apartados daqueles que
ali, sempre a duras penas conseguiram garimpar uma vaga. E o mesmo se dá na
sala de aula. Mesmo que considerem preconceituosa esta minha visão, não dá para
colocar óculos escuros na observação desta realidade ali estampada. E o pior é que
estes cidadãos que possuem condições mais do que suficientes para sustentar uma
universidade privada para seus filhos, sequer se propõem a contribuir com a manutenção
das instituições de que desfrutam. Ao contrário, sugam-lhe tudo que é possível sem
qualquer retribuição.
Salas de aulas são por vezes mal conservadas e os recursos públicos insuficientes |
Se isso é verdade? Vamos só
comparar um sanitário de uma instituição pública com o da instituição privada.
Num deles o cheiro de urina e os vasos sujos chegam a repugnar quem adentra o
espaço. No outro, desinfetante perfumado e bancadas de mármore estilo “shopping”,
proporcionam prazer no uso. Incomparável. Por que isso? Porque o primeiro não tem
dono. Não é de ninguém. Foi construído pelo dinheiro público e hoje carece de manutenção
pela escassez destes mesmos recursos. E aqueles que deveriam se sensibilizar com o estado das coisas, principalmente pelo usufruto, sequer se mobilizam, pois o Estado não lhes impõem nenhuma obrigação.
E as salas de aula? Da mesma
forma. Num ambiente há carteiras com tampos rachados, cadeiras sem encosto,
quadros riscados e pisos estraçalhados. No outro, se observam móveis ergonômicos,
salas climatizadas, cortinas e vidros translúcidos entre outros. O primeiro,
como eu dizia, é de ninguém. O segundo possui manutenção e conservação.
Só há pouco tempo as classes menos favorecidas tiveram acesso ao ensino público gratuito |
E todas as vezes que surge
uma proposta para que estes alunos, depois de formados, restituam a sociedade
com a contrapartida na prestação de serviços, nossos políticos fazem vistas
grossas, pois não há interesse das elites nesta aprovação.
Felizmente, o último governo proporcionou mais oportunidades de acesso aos alunos das classes menos privilegiadas. Através das cotas, foi possível democratizar a educação superior. Mesmo assim há algumas distorções, pois aqueles pais que fizeram um grande esforço para proporcionar educação básica de melhor qualidade em escolas particulares, hoje estão tendo de continuar arcando com a formação de seus filhos em universidades privadas, ou assumindo altos encargos, apesar dos financiamentos disponíveis, e para o qual os formandos terão de trabalhar anos a fio.
O congresso nacional pode mudar esta história de injustiças |
Mas também agora, uma luz no fim
do túnel parece buscar a reparação deste absurdo da exploração que ocorre na educação superior
brasileira, assaz conhecido e pouco comentado. Um projeto do Senado brasileiro (PLS 782/2015) propõe
que alunos com renda familiar acima de 30 salários mínimos, passem a pagar pela
formação universitária em instituições públicas. Como estes valores contemplam famílias
que ocupam uma parcela considerada privilegiada, cabe às classes menos
favorecidas, que são a maioria na sociedade do país, fazer pressão aos seus
representantes para que a aprovação aconteça em breve espaço de tempo. É hora
de reduzir as desigualdades e as injustiças que ainda campeiam o Brasil do novo
século.
2 comentários:
Meu caríssimo Jairo!
Te leio em Paris, olhando a Biblioteca de uma universidade --pública é claro --. Aqui não existe praticamente ensino particular. Tuas trazidas são muito oportunas. Denuncias injustiças e anuncias sonhos de uma pátria que talvez um dia seja educadora de verdade.
Expectante desse dia.
Meu caríssimo Jairo!
Leio teus muito pertinentes comentários olhando uma biblioteca de uma universidade em Paris --pública é claro. Aqui quase não existe ensino particular.
Trazes denúncias. Fazes anúncios de sonhos. Talvez um dia tenhamos uma Pátria educadora para todos.
Expectante
Attico chassot
Mestrechassot.blogspot.com
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