23 janeiro 2016

SOU VÍTIMA DO MUNDO LÍQUIDO (OUTRA VEZ)

Bill Gates, o milionário dono da Microsoft
Para nós que trabalhamos com tecnologia da informação, cada vez mais nos tornamos completamente dependentes destas ferramentas. Algumas décadas atrás acharíamos um absurdo se alguém dissesse que no futuro cada pessoa teria seu computador pessoal. Foi o que disseram para Bill Gates quando levou ao pessoal da IBM, onde trabalhava, o projeto de um pequeno computador para uso individual. Duvidaram do seu projeto. Os executivos da IBM também tinham a certeza de que computador era coisa para uso empresarial. Criam eles que a população não teria interesse algum em fazer uso doméstico de computadores. Imaginem só a realidade atual. Pois Bill acreditava cegamente em seu projeto, abandonou a IBM e resolveu seguir carreira solo. Se aposentou precocemente com uma das maiores fortunas que se tem notícia.

Mas e a nós pobres mortais, envolvidos cada vez mais com estas pequenas máquinas? O que restou?

Eram mais ou menos assim os escritórios da década de 70
Para mim, que já fui trabalhador sem fazer uso do computador, isso lá pelos idos dos anos 70, sei o valor que este objeto possui. Lembro bem daqueles “trambolhos” que infernizavam nossos espaços em qualquer sala de escritório. O arquivamento de documentos era uma rotina que proporcionava e ainda proporciona grande trabalho para as empresas. Mas hoje em menor grau e reduzida quantidade. Graças ao computador. Aos poucos pude testemunhar uma grande racionalização em todas as atividades corporativas. Praticamente, nas ultimas duas décadas tudo se transformou.

A máquina que revolucionou o mundo nos últimos anos
Agora, eu nem de longe imaginava que esse invento fosse capaz de transformar significativamente também as nossas casas. Iniciemos pelo material de aula, que sustenta minha atuação docente há mais de dez anos. Guardo inúmeras apresentações em pastas devidamente separadas dentro do meu Note. Uma delas, e que hoje está bastante carregada, tem o nome de “Escolas Técnicas”. Nem sei o tamanho do arquivo de aço que teria de ter casa para acomodar este conteúdo todo. Aulas, palestras, notas de alunos, fotos de atividades e eventos, visitas técnicas, homenagens, parcerias, e muito mais. É uma memória virtual, eu sei. Por isso, vez por outra tenho de fazer o que os especialistas chamam de “back-up”, evitando que uma pane me deixe órfão de minhas memórias. Mas imaginem se tivesse que guardar tudo isso em armários e gavetas dentro de casa.

Também tenho minúcias que guardo numa pasta chamada “Particular”, onde carinhosamente estão acomodados meus momentos de convívio familiar, de viagens de férias, de confraternização e de homenagens. Por vezes fico a imaginar quantos álbuns, daqueles de fotografia antigos, seriam necessários para guardar tudo isso. Mais espaço economizado dentro da nossa casa.
Esta semana, mais uma vez, fui surpreendido
pelos sobressaltos da tecnologia
Por fim, meus trabalhos de consultor tomariam enorme espaço não fosse a dinâmica do computador pessoal, guardando orçamentos, relatórios, cópias de notas fiscais emitidas e outros tantos documentos.

É realmente um outro mundo, mas que também traz um risco enorme, e por vezes inevitável. De um dia para o outro podemos estar alijados de tudo isso, com poucas possibilidades de recuperação. E sou prova disso! Por duas vezes estive à beira de um ataque de nervos, quando me vi atordoado sem saber o que fazer para recuperar arquivos deletados. E toda vez que isso acontecia, eu me penitenciava com a promessa de que dali pra frente faria o tão aconselhado “back-up” com mais freqüência.

Para Bauman, vivemos num mundo de relações totalmente frágeis,
que ele chama de "Modernidade Líquida"
Pois esta semana, mais uma vez fui acometido de um “apagão” nos arquivos do meu computador. Novamente meu patrimônio memorial foi solapado pela tecnologia. Encaminhei meu notebook à assistência técnica para trocar a tela que havia quebrado numa queda que sofri recentemente. E, aproveitando a oportunidade, solicitei que fosse reinstalado todos os programas, mas com a preservação dos meus arquivos pessoais. Pois hoje recebo minha máquina e constato com muita amargura que inúmeros arquivos tomaram “chá de sumiço”. Um deles trazia todas as minhas aulas e palestras que utilizo como professor, outro era aquela pasta com fotos pessoais e de família, onde estava a memória dos últimos anos; e ainda, um arquivo contendo um livro que pretendia publicar ainda este ano, com cerca de trezentas páginas, já em fase final de redação.

Já contatei a assistência técnica que me prometeu analisar o caso na segunda. Ficou a promessa. Mas até a semana que vem, fica a angústia e a incerteza de que novamente posso ser vítima da tecnologia da informação, que veio para nos trazer inúmeras facilidades, mas que também é de extrema “liquidez”, como teoriza corretamente o polonês Zygmunt Bauman em sua "Modernidade Líquida". 

Um comentário:

Attico CHASSOT disse...

Jairo,
meu amigo,obrigado por trazeres um vez mais reflexões inspiradas em Baú man
Attico chassot
Mestrechassot.blogspot.com