Por trás de paisagens bucólicas podem se esconder algumas atividades de exploração |
O abril se extingue com
muito frio, prenunciando um maio com expectativa de que um calorzinho ainda de
as caras antes da entrada definitiva do inverno. Para mim, que sou avesso ao
frio, nada melhor que aquele “veranico” costumeiro do mês em que minha mãe me
trouxe a esse mundo. (Muita saudade dela, pois o frio me faz lembrar o carinho
com que nos tratava nesta estação, preocupada com nossas roupas e as comidas da
época.)
Mas o domingo que inicia o mês
traz o Primeiro de Maio da comemoração do Dia do Trabalho. Diante disso, resolvo
novamente analisar a lista dos empregadores do Trabalho Escravo, a denominada "Lista Suja" (que agora é
pública e pode ser consultada em www.reporterbrasil.org.br). E para minha tristeza lá estamos. Esta instituição, que já deveria ter sido erradicada de nosso meio, pois
estamos no século XXI, ainda subsiste, creiam ou não vocês. Ainda existem
pessoas trabalhando, ou sendo escravizadas, nas condições similares ao que
ocorria na Roma antiga, ou ainda, nos primeiros séculos do Brasil Colônia.
A Lista Suja do trabalho Escravo no RS |
Nesta lista, que abrange
empregadores de todo o país, e o Norte predomina pela quantidade, resolvi
centrar meu foco no nosso Estado. O Rio Grande do Sul se faz presente na lista suja
com seis empregadores nos seguintes municípios: Bom Jesus, Ipê, Rio Pardo,
Caxias do Sul e Vacaria. Das atividades onde se recrutam trabalhadores para
atuar em condições similares às de escravo estão: canteiro de obras, pomar de
frutas diversas, lavoura de morangos, atividades agropecuárias e de mineração.
Logicamente que a proximidade com a capital gaucha é evitada nesta exploração,
principalmente onde a fiscalização do Ministério Público é mais atuante. Desta
forma, o interior é bastante propício ao acobertamento desta exploração.
Indígenas Kaigang resgatados do Trabalho Escravo em Bom Jesus, na colheita da maçã |
Observando os estados
vizinhos, em Santa Catarina prepondera a indústria da erva mate como detentora
da maioria dos casos de Trabalho Escravo, enquanto no Paraná a extração de
madeiras é predominante. Também estas barbaridades ali se perpetuam nas cidades
interioranas, onde a fiscalização quase inexiste.
A ignorância e o
desconhecimento dos direitos trabalhistas, por parte de uma população pobre e submissa,
é terreno fértil para esta exploração. Apesar dos avanços conseguidos nas últimas
décadas, ainda estamos refém da ausência de maiores investimentos na fiscalização,
principalmente no interior do Brasil. Aqueles fiscais que se arvoram em
desbravar fazendas e constatar estas condições escravagistas ficam sujeitos a
grandes riscos, como a chacina ocorrida em 2004, no município de Unaí, Minas Gerais,
expondo o Brasil ao mundo, numa vergonha nacional que ainda é realidade.
Portanto, para que possamos comemorar o Dia do Trabalho neste início de maio, muito ainda deve ser feito para que se proporcione respeito e dignidade ao trabalhador brasileiro. Muita exploração ainda subsiste, como destaca o rol do Trabalho Escravo no país. E não adianta vir com aquela argumentação costumeira, de que este tipo de trabalho é característico das regiões Norte e Nordeste, que somente lá ocorre a exploração dos mal informados e ignotos das leis que amparam as relações de trabalho entre empregado e empregador, nossa conhecida CLT. Não é isso que mostra a Lista Suja do Trabalho Escravo, agora disponível à visitação pública. Uma verdadeira vergonha nacional.
Ao lado a caminhonete dos fiscais emboscados em fazenda no município de Unaí - MG, onde se mantinham trabalhadores sob regime de escravidão.
Um comentário:
Meu apreciado bloguista Jairo,
mais uma vez, coincidimos com o mote de nossos blogares. Na semana passada pedíamos para não nos cortarem a “nossa internet”. Na nossas últimas edições celebramos o fim deste triste abril.
O alerta que fazes da violação e das perdas da CLT são graves.
Cumprimento tua continuada vigilância,
attico chassot
mestrechassot.blogspot.com
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