05 agosto 2016

PROSTITUIÇÃO PEDAGÓGICA

O Improviso e a Gambiarra são íntimos do acidente de trabalho
Como faço costumeiramente diante da dúvida, fui até o meu velho e bom parceiro Aurélio, o dicionário da língua portuguesa, buscar o sentido e a origem da palavra “improviso”. Pois bem, lá está! Ela vem do Latim “Improvisus”, “o que não foi preparado com antecedência, o que não foi previsto”. Articulando as partes da palavra temos: IN-“negativo”, mais PRO-“antes”, mais VIDERE-“ver”. Ou seja, “não ver antes”. E tudo que demonstre falta de planejamento antecipado também pode ser considerado o que comumente se chama “Gambiarra”. Do italiano “GAMBA”, que significa “Perna”, mais o sufixo aumentativo “ARRA”, ou “Perna Grande”. Inicialmente significou um apoio de sustentação para a iluminação das pernas dos atores no palco, mas depois passou a compreender “extensões elétricas e instalações improvisadas, mal-feitas”.

A capacitação de trabalhadores é necessária e importante
como meio de reduzir os acidentes
Sabidamente, nós que lidamos com a ciência prevencionista, temos consciência de que uma “gambiarra” tem relação direta com eventos trágicos, com acidentes. E no trabalho, isso é impensável. A adoção de gambiarras em qualquer ambiente onde se desenvolvam atividades produtivas pressupõe ocorrências indesejáveis.

Pois bem, o que se tem notado ultimamente é a proliferação de verdadeiras “gambiarras” na capacitação de trabalhadores. Instrutores medíocres, mal qualificados, e porque não dizer, “mal intencionados” se articulando com empresários irresponsáveis e imediatistas. Aqueles buscando tão somente um meio de ganhar a vida ludibriando trabalhadores com conteúdos irrisórios, estes abonando “picaretas da capacitação”, com a nítida intenção de reduzir despesas a qualquer custo.  

Empresas de treinamento e empresários irresponsáveis tem
se associado em verdadeiras prostituições pedagógicas
Apoiados por um quadro reduzido de auditores para fiscalizar a eficiência destas ações, empresários e instrutores astutos e irresponsáveis se deleitam com a “má intenção” e a “leviandade”. Vivenciam-se “aberrações” em termos de capacitação, não só de trabalhadores, mas também de profissionais que buscam aprimorar seus currículos ainda inócuos diante às exigências do mercado. Campeiam em todos os horizontes “verdadeiros absurdos”: cursos de Espaço Confinado de oito horas, Trabalho em Altura em duas horas e, até mesmo, Formação de CIPA à distancia.

E diante de tamanha incoerência, recentemente vi surgir ainda cursos compactados. Numa tarde o instrutor é capaz de ministrar conteúdos de NR33 – Espaço Confinado, NR35 – Trabalho em Altura e NR18 – PCMAT. E todos recebem e guardam seus certificados satisfeitos, cientes de que agora estão dentro das exigências legais. Ledo engano. Dia mais, dia menos, quando a fiscalização bater às portas da empresa em virtude de denuncia de acidente grave ou fatal, ou ainda, de situação de grave e iminente risco, vão amargar uma realidade que sequer imaginaram. De um lado o aluno (trabalhador ou profissional), traído por um instrutor ávido pelo lucro imediato, e de outro o empresário, certo de que investira para atender as questões legais por um bom preço, e agora se vê autuado por compactuar com verdadeiros mercenários.    
A visita inesperada de auditores-fiscais do MTPS pode
trazer surpresas aos infratores

Observando as capacitações propostas acima, e diante do que as Normas Regulamentadoras referenciam em termos de conteúdo programático, pode-se dizer que estamos diante de uma “prostituição pedagógica prevencionista”. Se providencias imediatas não forem tomadas pelas autoridades competentes, certamente esta postura será responsável por uma categoria cada vez mais alheia aos mínimos conhecimentos de prevenção. E a qualidade de formação de nossa mão-de-obra, tanto a operacional quanto a técnica, estará muito aquém do que se espera para a prosperidade e desenvolvimento do país. Sem contar ainda o mais importante: "reduzir quantidade enorme de acidentes de trabalho".  

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