02 setembro 2016

O POVO NÃO RETORNARÁ À SENZALA...

Obra de Debret mostra os privilégios de classes no Brasil Império
Quero lhes dizer que hoje estou como muitos outros cidadãos estão pelo país afora: silenciosos, pensativos e preocupados. Assim como muitos, fui acometido esta semana de uma grande letargia. Estou sem reação e sem saber o que dizer. E comprovo isso com as pessoas de minhas relações que, quando perguntadas sobre o julgamento em Brasília, também não sabiam o que dizer.   

E posso até ser qualificado como alguém que não consegue sair de cima do muro, eu e tantos outros. Ainda estou remoendo os fatos ocorridos. Ainda estou deglutindo tudo aquilo. Não sei como será a digestão nos próximos dias, nos próximos meses, no próximo ano.

Debate entre Collor e Lula no segundo turno
Mas vou tentar explicar porque me encontro desta forma. Pelo menos prá mostrar que sou capaz de assumir uma posição. Ou pelo menos dizer porque estou assim.

Primeiramente quero ressaltar que não sou partidário de qualquer sigla. Tempos atrás até tive uma simpatia pelo PDT, influenciado pelas ideias de um grande brasileiro chamado Leonel Brizola, e que não conseguiu chegar ao Planalto por questão de detalhes, naquela eleição onde Collor foi vitorioso. Ele foi superado por Lula no primeiro turno por uma margem estreita de votos, e não foi ao segundo turno. Isso me deixou muito frustrado e, assim, desisti de seguir a legenda.

Posse de Lula em 2003
Mas com a vitória do PT em 2002, as esperanças de um novo Brasil se renovaram. Eu morava em Brasília e fui assistir emocionado a posse do primeiro trabalhador presidente. Foi um evento inesquecível para mim, e também para o público que lotou o gramado da esplanada dos ministérios. Muitos como eu imaginavam um outro tempo, o resgate da verdadeira cidadania e da honestidade na política nacional.

Naquele dia jamais alguém imaginaria o que futuro reservava. O partido no qual uma população trabalhadora inteirinha depositava sua confiança, seria capaz de usurpar a maior empresa brasileira para se manter no poder a qualquer custo, comprando votos a seu favor e financiando campanhas políticas. E não houve uma legenda sequer que não se tenha beneficiado dos recursos da Petrobras. As denuncias foram se somando e demonstrando que quase ninguém manteve as mãos limpas.

Prisão de José Dirceu na operação Lava-Jato
E uma classe política inteira se aproveitou, independente de bandeira de partido. PT, PMDB, PP, PTB, PDT e tantos Ps, e até mesmo aqueles que faziam oposição ao governo se deixaram comprar: PSDB e DEM. Ou seja, não sobrou ninguém pra contar uma história de honestidade. Todos se venderam.

E quando surgiu a Operação Lava-Jato, detonada a partir do Ministério Público de Curitiba, com a prisão dos maiores empresários da Construção Civil do país, antes considerados intocáveis, e ainda mais com a possibilidade da “Delação Premiada”, foi que o cerco se fechou de vez e a podridão veio à tona. Todos os dias a população ficava perplexa com as denuncias de corrupção e lavagem de dinheiro. As noticias chegaram a se tornar parte da rotina dos brasileiros.

Foi assim que acredito me fiz alienado e sem credulidade em qualquer que fosse o partido e os políticos. A partir de então, para mim, não sobrou “pedra sobre pedra...” Deixei de acreditar em qualquer argumentação, por mais que fosse bem intencionada, por mais que tivesse algum cunho de verdade. Todo o crédito que eu depositava nestes que estão aí, se foi.
Senador Requião: "O povo não retornará submissamente
para a senzala!"

Por isso, mesmo que hoje receba mensagens de amigos que defendam um ou outro lado, de imediato me ponho cético, pois não acredito mais em ninguém. Estou como aquele astrônomo que, pela lente de seu observatório, se para a observar o movimento dos astros para ver se surge alguma novidade no universo das constelações.

Avaliando a atual situação, ela é extremamente preocupante. Se dizem que o governo da corrupção saiu, isto não é verdade! O que está aí instalado se não é igual, é no mínimo, pior... E o que está por vir, não é nada alentador. As razões? Eu não vou lhes falar. Prefiro as declarações de um brasileiro que respeito e admiro, apesar de político. Senador Roberto Requião, do PMDB na tribuna esta semana:

“Não é primeira vez que os abutres e os corvos caem sobre o nosso país. O conflito parece inevitável. O povo brasileiro, que provou por alguns anos o gosto da emergência social, não retornará submissamente à senzala!”

Tenho receio de que a profecia do Senador Requião se torne realidade. Honestamente, é isso também que vislumbro no horizonte muito próximo, com o governo que aí está instalado!...


Um comentário:

Lilian Hein disse...

Professor, faço minhas as suas palavras! Difícil acreditar em alguém neste momento! Difícil vislumbrar uma luzinha sequer no meio desta escuridão política!