Obra de Debret mostra os privilégios de classes no Brasil Império |
Quero lhes dizer que hoje estou
como muitos outros cidadãos estão pelo país afora: silenciosos, pensativos e preocupados. Assim como muitos, fui acometido esta semana de uma
grande letargia. Estou sem reação e sem saber o que dizer. E comprovo isso com
as pessoas de minhas relações que, quando perguntadas sobre o julgamento em
Brasília, também não sabiam o que dizer.
E posso até ser qualificado
como alguém que não consegue sair de cima do muro, eu e tantos outros. Ainda
estou remoendo os fatos ocorridos. Ainda estou deglutindo tudo aquilo. Não sei
como será a digestão nos próximos dias, nos próximos meses, no próximo ano.
Debate entre Collor e Lula no segundo turno |
Mas vou tentar explicar
porque me encontro desta forma. Pelo menos prá mostrar que sou capaz de assumir
uma posição. Ou pelo menos dizer porque estou assim.
Primeiramente quero
ressaltar que não sou partidário de qualquer sigla. Tempos atrás até tive uma
simpatia pelo PDT, influenciado pelas ideias de um grande brasileiro chamado
Leonel Brizola, e que não conseguiu chegar ao Planalto por questão de detalhes,
naquela eleição onde Collor foi vitorioso. Ele foi superado por Lula no primeiro
turno por uma margem estreita de votos, e não foi ao segundo turno. Isso me
deixou muito frustrado e, assim, desisti de seguir a legenda.
Posse de Lula em 2003 |
Mas com a vitória do PT em 2002, as esperanças de um novo Brasil se renovaram. Eu morava em Brasília e fui
assistir emocionado a posse do primeiro trabalhador presidente. Foi um evento inesquecível
para mim, e também para o público que lotou o gramado da esplanada dos ministérios.
Muitos como eu imaginavam um outro tempo, o resgate da verdadeira cidadania e da
honestidade na política nacional.
Naquele dia jamais alguém imaginaria
o que futuro reservava. O partido no qual uma população trabalhadora inteirinha
depositava sua confiança, seria capaz de usurpar a maior empresa brasileira para
se manter no poder a qualquer custo, comprando votos a seu favor e financiando
campanhas políticas. E não houve uma legenda sequer que não se tenha
beneficiado dos recursos da Petrobras. As denuncias foram se somando e
demonstrando que quase ninguém manteve as mãos limpas.
Prisão de José Dirceu na operação Lava-Jato |
E uma classe política
inteira se aproveitou, independente de bandeira de partido. PT, PMDB, PP, PTB, PDT
e tantos Ps, e até mesmo aqueles que faziam oposição ao governo se deixaram
comprar: PSDB e DEM. Ou seja, não sobrou ninguém pra contar uma história de
honestidade. Todos se venderam.
E quando surgiu a Operação
Lava-Jato, detonada a partir do Ministério Público de Curitiba, com a prisão
dos maiores empresários da Construção Civil do país, antes considerados intocáveis,
e ainda mais com a possibilidade da “Delação Premiada”, foi que o cerco se
fechou de vez e a podridão veio à tona. Todos os dias a população ficava
perplexa com as denuncias de corrupção e lavagem de dinheiro. As noticias
chegaram a se tornar parte da rotina dos brasileiros.
Foi assim que acredito me
fiz alienado e sem credulidade em qualquer que fosse o partido e os políticos. A
partir de então, para mim, não sobrou “pedra sobre pedra...” Deixei de
acreditar em qualquer argumentação, por mais que fosse bem intencionada, por
mais que tivesse algum cunho de verdade. Todo o crédito que eu depositava
nestes que estão aí, se foi.
Senador Requião: "O povo não retornará submissamente para a senzala!" |
Por isso, mesmo que hoje
receba mensagens de amigos que defendam um ou outro lado, de imediato me ponho cético,
pois não acredito mais em ninguém. Estou como aquele astrônomo que, pela lente
de seu observatório, se para a observar o movimento dos astros para ver se surge
alguma novidade no universo das constelações.
Avaliando a atual situação,
ela é extremamente preocupante. Se dizem que o governo da corrupção saiu, isto não
é verdade! O que está aí instalado se não é igual, é no mínimo, pior... E o que
está por vir, não é nada alentador. As razões? Eu não vou lhes falar. Prefiro
as declarações de um brasileiro que respeito e admiro, apesar de político. Senador
Roberto Requião, do PMDB na tribuna esta semana:
“Não é a primeira vez que os
abutres e os corvos caem sobre o nosso país. O conflito parece inevitável. O
povo brasileiro, que provou por alguns anos o gosto da emergência social, não retornará
submissamente à senzala!”
Tenho receio de que a
profecia do Senador Requião se torne realidade. Honestamente, é isso também que
vislumbro no horizonte muito próximo, com o governo que aí está instalado!...
Um comentário:
Meu caro Jairo,
irmano-me contigo. Certamente leste meu blogue. 31 de agosto me fez muito triste. Esse golpe é doloroso.
A solidariedade e repito aqui: “Vade retro Michel Calabar Temer” para não voltarmos à senzala.
Com tristeza
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