A aproximação do homem com animais domésticos é cada vez maior |
“É o melhor amigo do homem!”
Onde se ouça esta frase, certamente todos vão deduzir a mês coisa: está se falando
do cão. Não é verdade?
Nascido na década de 1950,
desde criança tive apreço por cães. Um ovelheiro gaúcho, também conhecido por “Canil
Reculuta” foi minha companhia na infância. Desde as primeiras horas do dia já estava
comigo. Era meu parceiro nas brincadeiras, nas idas até o comércio local, onde
aguardava do lado de fora até que eu saísse com as compras que minha ordenara
buscar. “Respeito”, nome que minha mãe atribuiu a ele, era também meu protetor,
uma espécie quase de “anjo da guarda”. E prá quem duvida disso, houve um dia em
que eu caminhava distraído por uma mata fechada de um bosque próximo de nossa
casa, e de repente, ele pulou na minha frente e abocanhou uma pequena cobra que
se preparava para o “bote”. Fiquei estupefato com a ação do meu amigo. E a
partir de então passei a valorizá-lo ainda mais.
O ovelheiro gaúcho, ou "canil reculuta" |
Mas a grande tristeza
estava reservada para quando se deu a sua partida. Numa manhã fria de inverno surpreendentemente
não saiu de sua casa. Já era mais de oito horas. Fui até o pátio e vi meu cão com
os olhos fechados e respirando com dificuldade. Uma repentina leucemia consumiu
seu organismo, e ao final da tarde suspirou, tornando triste aquele menino que
se acostumara viver ao seu lado.
O tempo passou, o menino
cresceu. Tornou-se adulto, foi em busca dos desafios da vida.
Anos e décadas se passaram.
O século mudou. E a convivência de raças, humana e canina, também evoluiu.
Hoje, grande parcela de cães
e gatos habita as residências (uma grande parte delas). E a ciência médica tem
comprovado o benefício desta convivência para a saúde dos humanos. Há inúmeros exemplos
de “pets” que transformam a vida de adultos e de crianças. Idosos que dividem o
espaço doméstico com cães e gatos, capazes de substituir o abandono dos
parentes pelo aconchego desta companhia. E a cada dia tenho observado uma
quantidade enorme de imagens nas ruas por onde ando. São crianças, jovens
casais e idosos passeando com seus animais de estimação.
A convivência no ambiente doméstico é uma realidade de nosso tempo |
Me pergunto por qual motivo
é cada vez mais comum esta aproximação?
Algumas reflexões podem
talvez trazer respostas a esta minha indagação: “Estaremos vivendo um momento de
grande solidão humana? E os laços de amizade e relacionamento podem estar cada
vez mais frágeis, num dilema da Modernidade Líquida como brilhantemente concluiu
o sociólogo polonês Zigmunt Baumann em sua obra?
Quem sabe seja ainda o
resultado da realidade que vivenciamos nos últimos tempos? Uma realidade
permeada pelo medo, pela insegurança, por denuncias e por prisões, comprovando
que a nossa sociedade necessita de uma reciclagem profunda? E que a nossa
confiança no ser humano sucumbiu totalmente?
Pois é, estamos na era da “caninoterapia”, ou da “felinoterapia”. Se duvidam, observem à sua volta...
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