Eike Batista, cabeça raspada antes da prisão |
O bom hábito da leitura é
capaz de transformar nossos pensamentos, nosso entendimento a respeito do mundo.
Muda nossas atitudes, por consequência, a partir do momento em que somos
capazes de aplicar na vida real muito da teoria que aprendemos. E a leitura, como
uma prática singular e solitária, nos torna sujeitos mais introspectivos e mais
reflexivos. E cada vez que uma situação inusitada se apresenta à nossa frente,
é comum que resgatemos das nossas leituras, um leque de possibilidades que nos
proporcione resoluções adequadas.
Esta semana, munido da experiência
de minhas leituras, resolvi trazer algumas reflexões sobre dois acontecimentos
que marcaram a semana: a morte da esposa do ex-presidente Lula e a prisão do
empresário Eike Batista.
Começo pelo segundo acontecimento,
porque apesar de não ser fatídico, não se pode considerar ameno em relação à repercussão
que ambos trouxeram na imprensa em geral e nas mídias sociais.
Manifestantes esta semana em frente ao Hospital Sírio Libanês |
A obra “O X da Questão” me
foi presenteada por um amigo em março de 2012, e a devorei em poucos dias, tal
era minha curiosidade em relação ao sucesso do megaempresário brasileiro e sua meteórica
trajetória. Afoito em suas estratégias empreendedoras, Eike reconheceu que por
vezes ultrapassava determinados limites na busca de sucesso.
Bem, não vou fazer resenha
aqui, e quem quiser se apropriar com mais detalhes, que leia a obra por
inteiro. Está lá, baratinho, da editora “Primeira Pessoa”. Apesar da situação atual,
ainda vale conhecer a história.
Mas o que me impressionou
esta semana foi a forma como a Polícia Federal tratou o caso (assim como já tratou
de outros). Eike Batista foi denunciado na Lava-Jato, fruto do acordo de delações
premiadas que ocorrem a toda semana. Nem virou réu, e sequer foi julgado. Mas
teve a cabeça raspada e foi trancafiado em Bangu, onde já reside o
ex-governador Sergio Cabral, seu parceiro segundo as investigações. A prisão de
Eike, segundo os procuradores é “preventiva”. Mas porque a cabeça raspada, já
que não foi sentenciado?
As redes sociais exibiram absurdos e falta de respeito humano. |
Pareceu uma atitude
de violação das regras de conduta, como aquelas mesmas que acontecem nas ações policiais
das periferias de grandes metrópoles, em favelas e buracos onde o direito é
ultrajado sem dar chance aos submetidos. Foi nada mais, nada menos, uma mostra de força do
aparelho judicial, tendo por objetivo maior a humilhação, a opressão. Típico destes países de quarto mundo, onde a emoção suplanta a razão e muita gente ainda aplaude. E quando alguém
defende uma atitude destas, ou se coaduna com ela, está na verdade aceitando
que atitudes como estas se tornem banais no futuro, e talvez sejam aplicadas a muitos
de nós.
De imediato me veio a
cabeça a obra de Paulo Freire, “A pedagogia do oprimido”. Ali o educador
exemplifica que, quando o oprimido se transforma em opressor, impõe maior
radicalidade ainda, em função do ódio e do rancor que dele se apossam.
O grande recado de Paulo Freire está na sua obra |
No segundo acontecimento, imbuído
deste mesmo pensamento, e das reflexões que as leituras me trouxeram, observei
o caso da internação e da evolução da saúde da ex-primeira dama Marisa Letícia.
Entristeceu-me algumas declarações de ódio e rancor a respeito do fato,
estampadas principalmente nas redes sociais. A princípio, percebe-se que
algumas são influenciadas pela ignorância da “histeria coletiva”, e que também acomete
de maneira similar legiões inteiras de torcedores clubistas em nosso futebol,
incapazes de refletir individualmente. Se deixam ludibriar pelo coletivo. E o
resultado a gente já sabe: agressões absurdas, linchamentos e mortes.
Sem contar ainda, manifestantes
que tiveram a capacidade de se reunir em frente ao hospital gritando palavras
de ordem, em demonstração de grande escárnio e desapego pelas verdadeiras relações
de respeito e comiseração humanas.
Uma das grandes diferenças dos
animais em relação aos seres humanos é a capacidade de reflexão, de
entendimento. E esta semana isso me pareceu muito distante da nossa sociedade, da
sociedade brasileira; à exceção de alguns poucos que vieram a público se
manifestar.
Em momentos como esse é que
gostaria de ressuscitar nomes como Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Madre Tereza
de Calcutá, Zilda Arns e até nosso maior educador, Paulo Freire, que soube
mostrar que o oprimido, quando vira opressor, é capaz de acumular ódio e rancor
maior do que aquele que o oprimiu.
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